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A volta daquele ministro…

O homem abriu a porta. Uma esteira de ar fresco beijou aquele ambiente colonizado pelo álcool e cigarro. O casaco cinzento que oprimia a barriga do homem não a impediu de ser a primeira a atravessar a porta. O bar já estava às moscas, apenas os bêbados de todas as horas teimavam em ficar. As marandzas mamavam apaixonadamente os bolsos daqueles homens. Tinham ficado poucas, não enchiam nem duas mãos.

– Chefe Chande! Só agora? – gritou uma voz que vinha do balcão.

Enquanto caminhava em direcção ao lugar de onde vinha aquela voz, o homem esbarrou num massopene que andava por ali.

– Estás a me gunhar e nem dizes desculpa? – perguntou irritado o massopene, enquanto seguia o homem.

O homem continuou a caminhar sem dizer uma palavra. Era como se estivesse a ser teleguiado em direcção ao balcão. A memória cuspia-lhe os factos e a preocupação o beijava.

– Grande abuso! Não dizes nada mesmo? – gritou o massopene enquanto colocava o seu corpo esquelético em frente ao do homem. A marcha do homem cessou e ficaram os dois parados no meio do bar a se fitarem. O clima ficou tenso. Os restantes bêbados viraram os olhos para aquela cena que se desenrolava.

– Vai pedir desculpa por bem ou por mal? – perguntou o massopene.

Bar sem confusão é como política sem aldrabices. O massopene estava disposto a tornar aquilo num bar como deve ser, com confusão a rebentar pelas costuras.

– Amigo, sai da frente!

– Eh afinal fala – disse o massopene com gargalhadas onduladas pelo álcool a intercalarem as palavras.

Perante a recusa do massopene, o homem afastou-se para o lado. Mais uma vez ele estava lá.

– Mas você acha que pode me gunhar e passar assim sem dizer nada?

 – O que queres afinal? Deixa-me em paz, porra!

– Já estás a gritar para quem assim? – perguntou o massopene, enquanto tirava da mesa do lado uma garrafa.  

De repente os estilhaços da garrafa coloriram o chão. Os bêbados aproximaram-se e começaram a pedir aos gritos que se enfrentassem logo. A situação estava a ficar feia. O massopene apontou o homem com a metade da garrafa que reluzia nas suas mãos e exigiu as suas desculpas.

 – Vai continuar a se fazer de desentendido ou vai pedir desculpas?

– Amigo é melhor colocar essa garrafa bem longe daqui senão vais acabar ferido!

– Eh esse gajo tem abuso pá! – o massopene irritou-se e esticou a mão com a garrafa para o pescoço do homem.

Num golpe de mestre o homem esquivou e deu um soco forte no focinho do massopene. Caiu imediatamente. O servente apareceu no lugar onde acontecia a confusão e segurou o homem. Os restantes aumentaram os gritos, pediam que o servente largasse o homem e deixasse a luta continuar.

 – Chega de confusão aqui! Vão lutar nas vossas casas – gritou o servente.

O massopene levantou-se e fez intenção de querer continuar a luta.

– Eu disse que já chega! – gritou o servente – todos a voltarem para os seus lugares –continuou, enquanto batia as palmas como quem desejava chamar à atenção.

Os ânimos serenaram. Cada um voltou para o seu lugar e o servente caminhou com o homem até ao balcão. O massopene, com o nariz a sangrar, caminhou cambaleante para a saída e disse:

– Mas tu achas que podes me gunhar e não pedir desculpas? Ainda não acabou isto, vais pagar…

Já no balcão, o homem ajeitou-se e estacionou o seu traseiro num dos banquinhos que estava ali perto.

– Você também chefe Chande, se meteu com aquele massopene mesmo?

O homem não respondeu.

 – O que vai ser? – perguntou o servente.

– Um uísque duplo, faz favor…

– Sempre que vens aqui tens algum problema! De certeza hoje também deve haver algum… O que é desta vez?

– Ando stressado – o homem fez uma pausa e suspirou antes de continuar – encarregaram-me de comandar a extradição de um tubarão para o país!

– Ah chefe Chande! Você é da velha escola…

– Não para isso pá! Nada pode falhar, é a volta daquele ministro…

– Eh então a extradição é mesmo definitiva! Mas haverá condenação?

O homem recebeu o copo que o servente o entregou e se afundou no gole.

 

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