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A pérola do Leixões que está disposta a voar

Liocádia Manhiça, que está em Portugal há um ano, ao serviço do Leixões, diz que está a viver a maior experiência da sua carreira. Ainda assim, a voleibolista moçambicana, que se formou na Universidade Pedagógica, onde ganhou tudo, sonha em alcançar outros voos.

É uma daquelas filhas obedientes e com noção das suas raízes. Está em Moçambique para rever amigos e familiares, mas também para “recarregar” as baterias para, quiçá, experimentar um outro voo rasante.

Na melhor ocasião que tem de voltar à terra que a viu nascer, Liocádia Manhiça não perdeu a oportunidade de sentir o “cheiro” das instalações da Universidade Pedagógica (UP).

Foi vergando a camisola da UP que se tornou numa voleibolista de outras valências e com uma folha de serviços devidamente autenticada. Foi, aliás, por aqui, que o seu talento transpôs as fronteiras, venceu barreiras e, acima de tudo, alcançou a luz do sucesso.

Ao serviço deste clube, a jovem atleta ganhou tudo, desde o campeonato da cidade, nacional, Taça de Moçambique e Campeonato Africano da Zona VI. Nada mais que encher os “pulmões” para falar de uma carreira marcada por conquistas e reconhecimentos.

“UP é minha casa. É nesta casa onde, posso dizer, que me tornei pessoa. Em suma, UP é tudo para mim”, tão simples quanto isso. Liocádia Manhiça, atleta de 24 anos de idade, não esconde o seu amor por este clube, que, tal como diz, lhe abriu as portas numa altura em que muitas talvez se fechassem.

Sonhou, acreditou, mas também chorou nas muitas vezes em que o futuro, sempre em contramão, parecia estar a marcar distância em relação à realidade. Obstinada e com os pés calejados pelas longas e infinitas rasteiras que, não raras vezes, teve de enfrentar, recusou-se terminantemente a bater com a porta. Não vergou, de tal sorte que os frutos já são tangíveis.

 

A PÉROLA DO LEIXÕES

Trabalhou e deixou uma quantidade considerável de suor na quadra. Esquivou, com galhardia, os atalhos, preferindo seguir o processo. E, sem precisar de recorrer à teoria de selecção natural de Charles Darwin, a sua vez chegou. Liocádia Manhiça viu escancaradas as portas do Leixões, clube com uma enorme tradição no voleibol português. Deixou o país para trás e hoje tem motivos mais do que suficientes para dizer que valeu a pena. A atlteta conserva, até aqui, o recorde de ser a primeira moçambicana na modalidade de voleibol a evoluir fora do país. E, como se não bastasse, é a única africana do seu clube. É a única, acima de tudo, que representa com o seu talento o “berço da humanidade”.

“Tive uma recepção especial. As minhas colegas ajudaram-me no processo de enquadramento no clube. Não poderia ter a coisa melhor que essa”, orgulha-se a jovem atleta moçambicana que, no entanto, teve de enfrentar o dilema das baixas temperaturas que se fazem sentir em Portugal.

“Foi um choque para mim, tendo em conta que estava habituada ao clima de Moçambique. Ora, foi algo passageiro, pois depois superei”, afirma. Em um ano naquele país europeu, Liocádia Manhiça foi vice-campeã da Taça de Portugal, conquista que a enche de orgulho, na medida em que foi fruto de muito trabalho.

Mais do que essa conquista, a jovem atleta diz ter aprendido muitas lições, as quais pretende levar para sempre.

“Aprendi que se deve trabalhar em conjunto. Não tens como ser um bom atleta senão tiveres um espírito de grupo. Essas lições fazem-me olhar a modalidade de voleibol de uma outra maneira”, explica.

Ainda que longe de Moçambique, Liocádia em nenhum momento esteve alheia à realidade do país, pois tem acompanhado a evolução do voleibol nacional.

“A modalidade evoluiu muito, sobretudo o voleibol de praia, onde temos conquistado muitas medalhas. Ainda assim, acho que há muita coisa por se melhorar, principalmente no voleibol de sala, pois não tem merecido a devida atenção”, diz a atleta. Ela entende que é preciso, também, investir nas infra-estruturas, de modo a permitir a profissionalização da modalidade.

 

PRONTA PARA ALTOS VOOS

Liocádia Manhiça, que, tal como já o dissemos, está há um ano no Leixões, diz estar feliz no clube. Ora, nem por isso coloca limites nos seus sonhos.

“O ser humano, por natureza, quer mais”. Pois é, é por isso mesmo que ela não descarta a ideia de, num futuro breve, abraçar outros projectos, até porque acredita que com muito trabalho os resultados sempre aparecem.

“Estou pronta para assumir outros desafios. A minha carreira é, aliás, feita de desafios, afirma sem deixar pistas do próximo projecto que possivelmente poderá abraçar.

 

O RECADO DE “CÁDIA”

Abril é mês da mulher moçambicana. Ela, a mulher, está em todas as frentes. E o desporto não é uma ilha.

“Penso que, primeiro, os encarregados de educação devem perceber que as mulheres podem praticar desporto. Muitas vezes, tem-se a ideia de que o desporto é só para os homens, o que é errado. Se formos a perceber, as maiores conquistas do desporto moçambicano são das mulheres. O maior ícone é uma mulher, no caso a Lurdes Mutola. Segundo, penso que a sociedade, no geral, deve incentivar a mulher a praticar o desporto, até porque ajuda a combater muitos males, como é o caso dos casamentos prematuros”, apelou Liocádia Manhiça.

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