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A outra face da moeda!

O anúncio, quarta-feira, pela FIBA-África de que Moçambique não reunia requisitos para acolher a segunda janela de acesso ao Campeonato Africano de Basquetebol sénior masculino (“Afrobasket 2025”) veio, uma vez mais, destapar o véu sobre a incapacidade das autoridades desportivas nacionais em matéria de gestão de infra-estruturas.

Se, por um lado, o presidente da FIBA-Africa, Aníbal Manave, considerou um crime jogarem-se provas de dimensão internacional em condições de humidade muito altas (temperaturas acima dos 32 graus), por outro, deu clara indicação de que o órgão reitor do basquetebol africano já não vai pactuar com situações “paternalistas” de atribuir provas a um país sem pavilhões em condições, tal como aconteceu num passado recente.

É que, num cenário cada vez mais acelerado e contagiante de criação de melhores condições para a prática de basquetebol (pavilhões multiúsos, bem equipados) a que o continente tem assistido, revela-se cada vez menos sério jogar-se numa infra-estrutura descontinuada como o Pavilhão do Maxaquene. A FIBA-África (já) não quer normalizar o anormal.

O recinto há já algum tempo devia ter sido riscado para sediar provas internacionais de salão, mormente pelo facto de não apresentar um piso com qualidade, cadeiras confortáveis, marcador electrónico moderno, operador de 24 segundos, balneário com padrões internacionais e uma cobertura com problemas sérios de infiltração. Outrossim, os acessos à maior sala de visitas do basquetebol moçambicano estão fora dos padrões actualmente exigidos, colocando, decerto, em causa a segurança dos espectadores.

Aliás, porque o hábito faz o monge, sempre que chove, mesmos aos cantaros, parte da quadra fica “inundada”, recorrendo-se ao uso de baldes, pasme-se, para minimizar o problema.

É, decididamente, o “vê se te avias” para os atletas e árbitros que, num piso escorregadio, ficam a patinar até se cansarem. Um verdadeiro perigo à integridade física destes actores do basquetebol.

Mas o mais intrigante é que, em 2011, se fez um investimento de USD 3 milhões para a reabilitação do Pavilhão do Maxaquene, uma das infra-estruturas desportivas que acolheu os malfadados Jogos Africanos.

Pintou-se o recinto, fizeram-se intervenções na quadra, no tecto, no sistema de iluminação, mexeu-se nos balneários e reabilitou-se o campo de aquecimento, paredes-meia também com o Pavilhão do Desportivo. E depois?

Foi, claramente, tudo aquilo que se viu: a infra-estrutura secundária degradou-se, com o tempo, chegando mesmo a ter o seu tecto caído. No Pavilhão principal, mesmo com os retoques para acolher o “Afrobasket” 2013, a triste realidade alimenta as vistas de quem lá vai. Um autêntico forno!

O Comité Organizador dos Jogos Africanos prometeu intervir junto com o responsável da obra, mas não atravessou a fronteira de promessa.

“Tudo máfia”! Dinheiro do erário público jogado fora. Ninguém foi responsabilizado por falta de responsabilidade. Danos colaterais.

E a “corja” do COJA teve outros casos bicudos por gerir nos pavilhões do Estrela Vermelha e Universidade Eduardo Mondlane, que se beneficiaram, igualmente, de obras de melhoria.

O tempo provou que as intervenções não foram, nem tampouco, de vulto e que colocassem estas infra-estruturas na rota do modernismo. Hoje por hoje, alimenta-se o coro de lamentações pela inexistência de infra-estruturas desportivas pujantes.

Não conseguimos gerir o Estádio Nacional do Zimpeto e seus espaços adjacentes. Fomos obrigados a jogar fora (África do Sul) e a despender dinheiro para os Mambas jogarem no FNB Stadium, em Joanesburgo, diante do Ruanda no acesso ao CAN 2023.

Mas exultamos, há pouco, com o anúncio de financiamento pela Argélia de uma arena multiúsos, no valor de USD 30 milhões. É prioridade, actualmente, perante os problemas que o país atravessa? Quem irá gerir uma infra-estrutura de grande dimensão? Como? Há parcerias público-privadas já identificadas para que se tenha uma gestão empresarial? Temos pessoas capacitadas para fazer a gestão de uma arena multiúsos? Já olhamos para o modelo de gestão da Arena do Kilamba ou mesmo de Kigali, no Ruanda?

Esquecemos, pois, que, pela incompetência, se chegou mesmo ao extremo de “roubar-se” energia para alimentar o Pavilhão do Maxaquene. O recinto ficou alguns meses sem corrente eléctrica por conta de uma dívida à EDM. Vergonhoso, simplesmente.
Por nossa culpa, por nossa tão grande culpa, estamos onde estamos no que diz respeito às infra-estruturas desportivas. Corremos, hoje, para materializar algo que os outros pensaram e projectaram há muito tempo.

PS 1:
Moçambique vai aos Jogos Africanos de Acra, Gana, onde há expectativas de conquistar medalhas. Facto que faz escola cá, no burgo, é que os atletas não tiveram a preparação que desejavam

PS 2:
A Comissão de Gestão da Associação de Basquetebol da Cidade de Maputo está a dar um exemplo de inovação na modalidade da bola ao cesto. Destaque, igualmente, para a equipa jovem da Federação Moçambicana de Basquetebol que, em pouco tempo, conseguiu resolver alguns aspectos básicos na selecção, como autocarro para transporte e acesso ao ginásio. Há, claramente, muito trabalho pela frente.

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