Crianças de todas as cores e etnias juntaram-se no Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM), em Maputo, para, com os seus pais, celebrarem o Dia da Música. A festa começou pelas 10h30, no jardim do CCFM, recebendo vários petizes que se divertiram em várias actividades, como pintura facial, animações e malabarismo.
Os petizes participaram, também, de uma sessão de leitura criativa, com a actriz Sufaida Moyane, na qual jogaram e brincaram com as palavas. Aprenderam a tocar batuques, timbila e outros instrumentos, na oficina “ritmos e melodias africanas”, orientada pelo músico e instrumentista Cheny Wa Gune.
Foi a 12º edição da Festa da Música e decorreu no passado dia 22 de Junho. O espectáculo prometia, e o mestre de cerimónias foi o apresentador de televisão David Bamo.
Quando eram 14h, o som dos tambores da Orquestra da Unidade 7 ecoaram, com a aparição visual das Marionetas Gigantes de Moçambique. Sim, não eram filmes chineses, eram as Marionetas Gigantes de Moçambique, que expandiam a estética visual das crianças e daquele evento, com enormes figuras humanas circulando por aquele recinto, extravasando a curiosidade e o imaginário infantil.
De seguida, David Bamo convidou a Music Crossroads a entrar, abrindo a sessão de concertos musicais na Sala Grande do Franco. Ali, a Music Crossroads aventurou-se pelos ritmos do Norte, do Centro e Sul do país. A sua performace foi estruturada por sons africanos, cânticos corais, que encheram de espiritualidade os presentes na sala. As músicas e as danças tradicionais ecoaram na plateia com vibração.
A diversidade da cultura moçambicana estava exposta na Sala Grande e o público apreciou devidamente.
Então foi a vez dos 4D Band, que foram a segunda banda musical, constituida por cinco elementos. O palco, que estave montado por entre árvores imponentes, com um flyer enorme de festa da música por baixo, fez um casamento entre o verde e o espectáculo. A natureza estava viva naquele palco. Talvez, por isso, além de contemplar o espectáculo, era possivel também contemplar a estética da natureza.
Os 4D Band trouxeram um misto de afrojazz, música tradicional e contemporranêa. As suas composições eram vivas, os instrumentistas tinham tarimba, a banda provou que instrumentos tradicionais como mbira, timbila, harmonizam em uníssono com as guitarras, produzindo um som único e ímpar. A performace dos 4D exaltou a nossa cultura. Alcídio notabilizou-se tanto no canto como no saxofone, abusou da mbira e pariu melodias enloquentes. A timbila içou os cânticos muchopes e contemporrâneos.
Havia um “dilema” na bateria: Não se sabia ao certo se Tony Paco estava no comando da bateria ou se a bateria é que comandava Tony, porém ambos eram um só, e era dali onde saia a energia da banda.
Ana João revelou a sua voz pelos ares do palco, e mostrou que a dança é também um dos seus pontos fortes, a sua performace encantou a multidão. Um dos temas marcantes da actuação da banda foi Salamaleko.
A seguir, o Mc anunciou a entrada da Silke. Acompanhada por uma banda, a cantora iniciou a sua actuação com um bailado de neo soul. As suas composições possuiam um arranjo soul e harmonia de guitarras e piano apaixonantes. A sua voz namorava a melodia como a guitarra baixo cortejava a bateria. Silke tinha um visual afro moderno, o traje geral era preto, acompanhado de um mini vestido com cobertura de várias cores de capulana, o que autenticava a identidade africana no seu visual.
Durante a actuação, o público presente foi conduzido a um momento ímpar de alegria e música memorável aos ouvidos. A sua voz era sua maior arma para causar suspiros ao público. Um dos temas marcantes na sua actuação foi “Yesterday”, música que nos motiva a crescer por dentro, pois cada dia nos tornamos melhores do que ontem. Silke convidou o público a cantar com a sua banda, e o mesmo não se fez de rogado e soltou a voz: “We better than yesterday, we better than yesterday”…
Num segundo momento, Silke deu uma pequena pausa, e voltou transfigurada, com novo visual, saltos enormes. Uma das faixas que, de seguida, interpretou, foi enigmática, na qual a cantora juntou o canto à performace corporal. A artista simulou gestos de tiros ao alvo, deu para perceber a tensão do piano na música, e a revolta na abordagem, provavelmente debruçasse sobre alguma guerra. A cada música tocada, ecoava uma chuva de aplausos sinceros em forma de gratidão pela grandeza do espectáculo testemunhado.
A seguir foi a vez da banda Dickson Uthui, que actuou no Jardim do franco. A banda Uthui trouxe um autêntico momento de clássico Moz Jazz, uma banda jovem inteiramente habilidosa, e bem disciplinada.
Souberam namorar o público, iniciando a sua performace de forma misteriosa, e de tema a tema mostrararm o seu arsenal de qualidade de composição, execução e produção de som. Dickson era claramente o líder, posicionado ao meio do palco, com a cabeleira ao estilo Afro de Moreira Chonguiça e o Saxofone na mão. Se o público estava à procura de talento e uma nova definição de Jazz, encontrou nesta banda. Os Uthui trouxeram composições que tiraram o ar do público e os levaram ao delírio, o potencial de cada um dos membros era enorme.
Um dos momentos marcantes da sua actuação foi a colaboração com a Letícia da banda Mlaio, não só no canto, como também na declamação de um poema intitulado “Negra” ao som do jazz dos Uthui. Esta performace poética buscou ressignificar a expressão “negra”, valorizando tudo a isso relativo, como o amor à pele negra e os cabelos da mulher negra. A alegria do público fez chover aplausos da plateia.
De volta à sala, o MC, num vai e vem, anunciou energicamente a tomada do palco por João Cabral. Cabral fez-se ao palco com um visual simples e descontraido. Iniciou a sua performace serenamente.
João Cabral trouxe uma nova estética de Jazz ao espectáculo, afinou o seu domínio aos acordes, produzindo uma linha premium de Jazz, enquanto Jéssica ornamentava os acordes com seus coros suaves.
Uma das sua faixas de fusão de Jazz e Samba, obrigou o público a entrar em sintonia com a banda, dançando, assobiando e delirando.
O repertório de João Cabral era excelente, as melodias de João Cabral eram profundas, davam a sensação de se estar em um Moçambique com paz, prosperidade e harmonia total. Durante a actuação, Jéssica assumiu o canto e o encanto da sua voz. O saxofonista adolescente provou que talento não tem idade, a banda estava tecnicamente formidável. Armindo Salato e sua guitarra baixo não estavam no espectáculo, o espectáculo é que estava neles. Armindo fez um autêntico show de guitarra, manuseando ao estilo de guitarristas de hard rock como Jim Hendrix.
O show de João só subia os degraus. Entre aplausos e calor humano, João dedilhou a guitarra e mostrou intimidade com o instrumento. Era visivelmente humilde em palco, mas a sua habilidade era arrogante. A plateia entrou em transe quando João tirou da cartola um tema JazzMarrabenta. Ali foi o momento mais alto da apresentação, com o público em êxtase, gritando, invadindo o palco de João para exibir os toques de marrabenta, numa conexão total entre a banda e o público. E dizer mais para que?
Para encerrar as bandas, foi a vez da Banda Tai, no jardim. Tai, em swahili, significa Águia.
O repertório musical da Banda Tai foi diversificado entre estilos africanos, como mutimba, makossa, a variar com o Jazz e o Zouk. Banda Tai revelou alta qualidade técnica e harmónica nos seus arranjos.
Ebenezer Sengo, membro da banda, apresentou-se com um visual exótico, óculos escuros e um lenço sobre a cabeça, com uma guitarra tipo “Fender Precision” e uma performace irirquieta em palco, que fazia recordar o Steve Harris, guitarra baixo dos Iron Maiden.
A performace da banda foi excelente. O tema mais marcante foi precisamente o último, “Malhanhile ma cena”, em portugues, as coisas endoideceram. A faixa é uma critica em relação à subida do custo de vida, o preço da internet, da energia, e etc.
De seguida os Hood Brodz e Dona Saquia, tomaram conta do palco, ofertando ao público música popular. O encerramento do espectáculo coube ao DJ AD, com sons e misturas.