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A estreia perfeita de “Chovem amores na rua do matador” em Portugal

O espectáculo teatral Chovem amores na rua do matador estreou este sábado, no Concelho de Loulé, no Distrito de Faro, em Portugal. Depois do espectáculo, o público conversou com os autores do texto original adaptado para o palco: Mia Couto e José Eduardo Agualusa.

 

Que o espectáculo é muito bom, os actores e os encenadores da peça Chovem amores na rua do matador já sabiam (quando o espectáculo foi apresentado em Maputo, o retorno do público foi muito positivo). Por isso mesmo, a ideia de levar um pouco da cultura moçambicana a uma ousada digressão em Portugal não amedrontou a delegação de artistas nacionais. Pelo contrário, estimulou-os a capacidade de superação para mostrarem o seu potencial a um outro tipo de público.

Portanto, mesmo sabendo que estavam à altura do desafio, Horácio Guiamba, Josefina Massango, Angelina Chavango, Joana Mbalango, Violeta Mbilane (actores) e Maria Clotilde e Vítor Gonçalves (encenadores) surpreenderam-se com a maneira como o público reagiu à primeira apresentação de Chovem amores na rua do matador em Portugal. Mesmo tendo pouco tempo de ensaio no palco de Loulé, já que àquele concelho português apenas chegaram dias antes do espectáculo, os actores deram uma outra vida às personagens originalmente inventadas por Mia Couto e José Eduardo Agualusa, em “Chovem amores na rua do matador”, um dos textos do livro O terrorista elegante e outras histórias.

As peripécias de Baltazar Fortuna e as suas tantas mulheres, que variam entre o cómico e o trágico, o romântico e o dramático, transfiguram-se em Loulé, de tal modo que mesmo Josefina Massango, que viveu 17 anos em Portugal e com longo percurso artístico, ficou encantada. A actriz reagiu assim à excelente performance em Loulé: “O espectáculo não poderia ter corrido da melhor forma. A recepção foi boa. O público recebeu muitíssimo bem o espectáculo. Sentimo-nos muito felizes com isso”.

Com a boa prestação na estreia de Chovem amores na rua do matador em Portugal, Josefina Massango sentiu ter honrado a responsabilidade que teve ao voltar a subir um palco português, depois de se ter formado naquele território por muitos anos. “Espero continuar a dar essa alegria às pessoas que me formaram aqui e que eu conheço, porque este espectáculo permite. Sinto-me muito expectante e com responsabilidades porque, afinal, é o nome do nosso país que está a circular pelos 12 distritos de Portugal”.

Apesar da excelente estreia, Josefina Massango está consciente de que os próximos dias serão de trabalho intenso, até porque em algumas cidades o espectáculo será apresentado no mesmo dia que será montado no palco. Terá de ser assim porque os teatros portugueses têm uma agenda apertada.

Na voz de Horácio Guiamba, o espectáculo correu extraordinariamente bem e superou as expectativas. “Nós já sabíamos que, ao contrário de Moçambique, o público europeu guarda as reacções para o fim. No entanto, desta vez, foi diferente. O público reagiu deste o princípio do espectáculo, curtindo os momentos. Essa foi a primeira surpresa para todos nós. E mais, os portugueses disseram-nos que se nós conseguimos as reacções extraordinárias em Loulé, onde o público é muito reservado, lá à frente os espectáculos serão ainda melhores”.

Em Loulé, os artistas moçambicanos foram aplaudidos de pé, com fortes salvas de palmas. Tal gesto, para Vítor Gonçalves, “Prova de que os elementos da cultura moçambicana que tantas vezes julgamos serem demasiado regionais para serem partilhados, são, de facto, universais e permitem-nos partilhar o que somos com os outros”.

Os fortes aplausos do público português no Concelho de Loulé fez com que os actores voltassem à cena sete vezes, para agradecer. “Eu estou muito entusiasmada! Fizemos esta estreia”, gritou Maria Clotilde logo a seguir àquele momento contagiante.

No fim do espectáculo, o público de Loulé conversou, via zoom, com Mia Couto e José Eduardo Agualusa, que se referiram ao vigor do teatro moçambicano. Mia recuou no tempo e explicou como a partir do Mutembela Gogo a arte do palco no país construiu-se, inclusive, sendo reflexo do quotidiano moçambicano. Agualusa disse mais, que o teatro moçambicano tem uma vitalidade que ainda não se vê em Angola.

No dia 6 e 7 de Julho, Chovem amores na rua do matador será apresentado em Évora.

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