De Moçambique para Moçambique. Assim é a exposição patente no Núcleo de Arte, na cidade de Maputo. Inaugurada sexta-feira à noite, a colectiva conta com Ju Reino da Costa como principal expositora. A artista cá nasceu na década de 60. No entanto, só agora teve a possibilidade de vir partilhar as memórias contidas na sua obra e o seu imaginário.
Na verdade, esta viagem de regresso à terra natal é a concretização de um sonho da artista plástica que também navega muito em cerâmica. Aliás, Raízes, o título da exposição colectiva, inclui obras de pintura em tela, cerâmica, escultura e desenho. “Esta ocasião é dois em um: oportunidade de visitar a terra onde nasci e cresci e, ao mesmo tempo, expor o trabalho que tenho estado a desenvolver”, confessou Ju Reino da Costa, quem começou a sua arte com pintura, mas que há uns anos redescobriu a cerâmica, algo já feito nos tempos de escola. Quiçá, por isso, em Raízes, Reino da Costa tem alguns registos que, tendo usado na cerâmica, igualmente, aplicou-os na pintura. Bem dito, só assim a sua linguagem fica mais completa.
No seu percurso criativo, a artista vai sempre experimentado, fazendo formações para aprender novas técnicas, afinal, gosta muito de as misturar. Sempre atenta ao vegetal, que é uma necessidade de partilhar a sua preocupação pelo planeta muitas vezes maltratado. “Além disso, penso que tudo que eu vejo num mundo vegetal, como as belas acácias daqui de Maputo, podem ser aplicado à arte. Fascinam-me as folhas e o mundo marinho também. Tudo isto está ligado à necessidade de preservação. E o que faz um artista é a capacidade de observar e tirar disso qualquer coisa. É isso que tento fazer. Outra coisa que me fascina na natureza é a diversidade, e acho que temos que a aplicar na vida humana. Duas pessoas não são iguais e temos que respeitar isso”.
Se para alguns autores a satisfação surge depois da obra estar completa, com Ju Reino da Costa o cenário é bem diferente. O que mais dá gozo à artista é o processo do seu trabalho, a busca. “Não penso tanto no que a obra vai ser no fim. A procura e os experimentos é que me dão mais prazer”.
Ju Reino da Costa gostava que os apreciadores da exposição encontrassem nas obras um universo em que o respeito pela natureza está presente, com a sua beleza e diversidade.
A maior parte das obras da artista com cordão umbilical em Moçambique foram concebidas especialmente para exposição patente no Núcleo de Arte até 23 deste mês.
De acordo com Titos Pelembe, Vice-Presidente do Núcleo de Arte, a exposição Raízes vale muito pela riqueza temática e cultural: “esta vinda da Ju abre um espaço de exaltação do convívio entre os artistas e com a cultura”.
Além dos trabalhos de Ju Reino da Costa, Raízes inclui algumas obras de autores como Makamo, Norberto, Mahumana, Nely e Nelsa Guambe.
Ju Reino da Costa
Artista
“Quando pensei nesta exposição, conclui que fazia muito sentido voltar com uma temática ligada à minha terra natal e à paixão que tenho pelo mundo vegetal: Raízes. Tem sido uma descoberta ir à procura de algumas memórias que estavam cá dentro perdidas, visitar lugares que não me lembrava e que vou descobrindo. Na exposição há dois trabalhos com colagem de capulana dedicados à África. E, nesta colectiva, fiquei deslumbrada com a riqueza cultural que encontrei nas obras de outros artistas”.