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Paralisação de transportadores gera caos total em Maputo

Os transportadores do corredor Matola e Boane paralisaram, na manhã de hoje, as actividades em reivindicação do reajuste da tarifa actualmente em vigor. Os transportadores dizem não fazer sentido que a actual tarifa não tenha sido reajustada nos últimos cinco anos e exigem que lhes seja permitido cobrar 1 metical e 20 centavos por quilómetro.

Um caos total…a greve de hoje agravou ainda mais o crónico problema de transporte na região metropolitana de Maputo, causando abarrotamento das paragens e colocando milhares de utentes em desespero. Logo pela manhã, residentes da Matola, Boane e cidade de Maputo, que pretendiam fazer-se a vários pontos, foram surpreendidos pela paralisação das actividades. Em causa, está um processo que está na mesa de debate há anos, mas sem desfecho ainda. É que já há cinco anos, a tarifa em vigor em Boane e Matola não sofreu qualquer alteração, mesmo com várias tentativas de negociação dos transportadores com o Governo. Aliás, os transportadores dizem que “o desfecho sempre foi adiado sem pensar no impacto que isso traz aos bolsos dos operadores”.

Os transportadores dizem não fazer sentido que a actual tarifa esteja ainda vigor, tendo em conta que uma parte da bilheteira vai para a Agência Metropolitana de Maputo. Ou seja, dos 13 meticais que actualmente são cobrados, 1 metical e 50 centavos vai para a Agência Metropolitana, ficando, apenas, os transportadores com 11 meticais e 50 centavos, o que, para eles, é insustentável.

“Estamos completamente falidos. Não há mais condições para operar na actual situação. O que está a acontecer é roubo do Estado aos transportadores. Não faz sentido que dos 13 meticais que cobramos actualmente haja ainda subtração para Agência Metropolitana de Maputo”, lamentou Constantino Mauai, transportador que recomendou que o país possa seguir exemplos dos outros países.

“A África do Sul faz quilómetro por 4 rands (equivalente a 16 meticais). Fazendo as contas, 10 quilómetros são 40 rands. Por que é que nós não podemos fazer o mesmo ou aproximarmos a esta realidade?!”, questionou Mauai.

Assim, os transportadores querem passar a cobrar por quilómetro, ou seja, 1 metical e 20 centavos por cada quilómetro. Isto significa que quem vai a Boane, partindo da baixa da cidade de Maputo, passaria a pagar 48 meticais, em vez dos actuais 20 meticais.

“Neste momento, estamos completamente incapacitados para continuarmos a operar. Para minimizar esta situação, o recomendável é cobrar por quilómetro “, defendeu também Juma Aly, presidente do corredor 2.

UMA TORTURA SEM FIM

A crise de transporte, gerada pela paralisação dos transportadores, criou também sofrimento no final do dia de ontem. Filas enormes de utentes que optaram pelo transporte ferroviário para chegar às suas casas foi o cenário testemunhado pelo jornal “O País” no interior da Estação Central dos CFM, na baixa da Cidade de Maputo. O distanciamento interpessoal era o que menos importava, até porque o desejo era mesmo chegar à casa. Os agentes da Polícia e seguranças que ali estavam não se atreveram a manter a ordem, porque a desordem reinava principalmente na bilheteira.

Os utentes queixaram-se da inoperância da gestão. “Estamos aqui e não temos transporte. É a primeira vez em que venho até a estação, estou aqui, porque não tenho soluções, mas dizem que não há bilhetes. É um dia para esquecer, um dia de sofrimento desde o período da manhã”, desabafou Valdina Rafael.

Nenhum dos técnicos dos CFM aceitou dar entrevista e o Gabinete de Comunicação encontrava-se fechado. Entretanto, 30 minutos depois, a situação ficou normalizada.

Enquanto isso, nas paragens, o cenário de enchentes repetia-se, o que criou incertezas nos utentes. “Não sei se conseguirei chegar à casa. A coisa está difícil. De manhã, foi difícil chegar à cidade e até atrasei ao serviço e, agora, estou neste sofrimento. É transtornante, é difícil”, lamentou uma utente.
No terminal do Museu, só houve organização na fila, porque a Polícia Municipal não permitiu cobranças ilícitas, nem encurtamento de rota por parte dos transportadores. Até ao fecho desta reportagem, as paragens continuavam abarrotadas de gente.

Assim foi o longo dia de milhares de moçambicanos que se viram privados de ter transporte, numa altura em que lutam para não fazer parte das estatísticas dos infectados pela COVID-19.

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