Licínio Azevedo vai adaptar para o cinema o conto “Nhinguitimo”, um dos que compõem o livro Nós matamos o cão-tinhoso, de Luís Bernardo Honwana. A curta-metragem de 20 minutos deverá estrear em Julho e a produção é orçada em 4 milhões de meticais.
“Pouco antes do início das colheitas, as rolas reúnem-se nas matas que dividem as machambas do vale. Durante duas ou três semanas, em bandos numerosos, sobrevoam os campos em largos círculos”. Assim inicia o conto “Nhinguitimo”, um dos que constituem o icónico Nós matamos o cão-tinhoso, de Luís Bernardo Honwana. Publicado em livro há 57 anos, o texto é o primeiro do autor a ser adaptado para o cinema.
O projecto de Licínio Azevedo arranca um ano depois de o cinema ter parado no país. “Não produzimos nada, ano passado, e decidimos que não devemos continuar assim”. Por isso, sabendo que agora é impossível conseguir financiamentos no estrangeiro para produções mais ambiciosas, o realizador abandonou, por enquanto, projectos antigos a fim de investir no mais pequeno, possível de produzir com fundos internos.
Licínio Azevedo pensou no “Nhinguitimo” porque a história se passa nos anos 60, um período desconhecido para a juventude de hoje. Assim, a expectativa do realizador é que mais jovens tenham, de algum modo, um contacto acentuado com o que se passou em Moçambique, por exemplo, numa certa zona de Moamba, na província de Maputo. Simultaneamente, Licínio Azevedo percebeu que a obra Nós matamos o cão-tinhoso, de Luís Bernardo Honwana, nunca foi adaptada para o cinema. Assim, confessou, “espero que o filme faça jus ao conto que ele tão bem escreveu”.
O anúncio das gravações da curta-metragem de 20 minutos foi feito esta terça-feira, no Centro Cultural Franco-Moçambicano, na Cidade de Maputo. Além do realizador, esteve na sessão o produtor do filme, Jorge Ferrão, com quem Licínio Azevedo trabalhou em outros projectos há 40 anos. “O Licínio lembrou-se dos tempos em que fizemos algumas produções juntos e perguntou-me se estaria interessado em trabalhar com ele neste filme. Eu achei que seria um bom desafio voltarmos a trabalhar juntos no meu tempo livre, sem abdicar do meu trabalho, e ajudar a fazer esta produção”.
A produção da curta-metragem de Licínio Azevedo tem ajuda de empresas nacionais e da Embaixada da França em Moçambique. “O papel da embaixada da França é apoiar os actores culturais”, acrescentou Laurent Péres Vidal, da Embaixada da França, na conferência de imprensa: “O cinema, que cruza o sonho e o real, é um sector relevante para França. O cinema tem valor cultural e económico. Depois, os filmes de Licínio são reflexos da alma que vagueia sobre a sociedade”.
Com o memorando de apoio às produções assinado no Franco, segundo afirmou Licínio Azevedo, agora segue a fase de identificação dos locais onde a curta será rodada. Entre os locais elegíveis estão os distritos de Moamba, Boane e Marracuene, na Província de Maputo. Igualmente, segue a fase do casting de actores, coordenada Hermelinda Simela, que já trabalhou com Licínio Azevedo nos filmes Comboio de sal e açúcar e Virgem Margarida. A ficha técnica ainda não está fechada. No entanto, o realizador avançou que Pipas Forjaz integra a equipa de trabalho na qualidade de Director de Fotografia.
O orçamento previsto para a curta-metragem “Nhinguitimo” é de 4 milhões de meticais.