Sonha como se fosses viver para sempre e vive como se fosses morrer amanhã
James Dean
É bem provável que a melhor receita da vida esteja nesta frase: “Sonha como se fosses viver para sempre e vive como se fosses morrer amanhã”, pois nisso acontece o encontro entre o ideal e o real em plena harmonia. Deve ser esta uma das razões de Carlos dos Santos, em O eco das sombras, ter feito referência a James Dean. E a presença de Dean, aqui, tem nos Passos de magia ao sol, de Mauro Brito, uma justificação, não fosse o livro de estreia do poeta uma “verdadeira alusão” ao conselho daquele “personagem”. Nada de propósito, que nestas coisas da escrita aceitam-se coincidências e, sobretudo, o dialogismo textual há muito apontado por Bakhtin.
Portanto, lembramo-nos de Dean porque nestes Passos de magia ao sol revestidos de muita simplicidade linguística e imagética, Mauro Brito, mais do que tudo, faz o leitor sonhar em direcção ao passado na mesma proporção que ao futuro, levando-o a renascer na beleza infante ou a florescer na presunção de uma maturidade sempre no meio do percurso. Nesse movimento, o autor consegue tornar a poesia, simultaneamente, um acontecimento que nos toca diariamente num conjunto de sensações que afagam a alma nos passos mágicos. Está nisso a lhaneza das entidades textuais, as quais expressam horizontes de um mundo colorido, que lhes habita, estando no exterior. Trata-se de um mundo iluminado de estrelas do céu, preenchido pela água azul do mar, por onde passam navios a chegar e a partir, em constante viagem, daí a necessidade de se ter o poema “Farol” a inaugurar as páginas de uma saudade que começa na leitura, por se saber que ao fim de 28 fecharemos o livro com a mesma vontade de voltar a lê-lo novamente.
Mauro Brito escreveu este livro para um público sem rosto. Talvez não se tenha apercebido disso, mas os versos de Passos de magia ao sol, ao reflectirem uma parte de si, “que o tempo guardou nas gotas de chuva” (p. 06), por isso fértil, converge idades, todas, na circunstância de terem de se livrar da memória natalícia para serem vidas apenas, protegidas por um “cobertor de sonhos” que é o livro.
Este é um livro cuja abordagem vale por ser reinventada, com boas conjugações verbais e óptima selecção das palavras: curtas, claras, impactantes e muito próximas à sugestão nessa relação entre significado e significante. Com isso, Brito dá vida a sujeitos humildes, sinceros, capazes de cativar ao som do verso dito em surdina e de obrigar uma reflexão, por exemplo: “Para quê inventar heróis,/ se o papá e a mama/ já o são?” – os versos são do poema “Os meus heróis” (p. 26).
Enfim, a obra de estreia de Mauro Brito é um pequeno livro para se ler em família, acomodado na certeza de que a magia poética funciona eminente, como um recurso onírico, quando se dão os passos certos.
Titulo: Passos de magia ao sol
Autor: Mauro Brito
Edição: Escola Portuguesa de Moçambique
Classificação: 14