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Taxa MIMO reduz para 9,50% mas dívida interna ainda sufoca economia 

O Banco de Moçambique anunciou, esta sexta-feira, uma nova redução da taxa de juro de política monetária (taxa MIMO), que passa de 9,75% para 9,50%. A decisão foi tornada pública pelo governador Rogério Zandamela durante uma conferência de imprensa do Comité de Política Monetária (CPMO), em Maputo, e traduz aquilo que o responsável descreveu como “uma redução modesta, prudente e ajustada ao actual contexto de riscos e incertezas macroeconómicas”.

Segundo o governador, esta decisão resulta do “agravamento dos riscos e incertezas associados às projecções da inflação, com destaque para o atraso no pagamento dos instrumentos da dívida pública interna pelo Estado”.

Apesar de pressões, a inflação mantém-se controlada. Em Outubro, fixou-se em 4,8%, depois de ter estado em 4,9% em Setembro. A inflação subjacente, que exclui produtos mais voláteis como frutas, vegetais e bens administrados, também abrandou.

Zandamela sublinhou que, no médio prazo, a manutenção da inflação num dígito depende sobretudo da estabilidade do Metical e da tendência favorável dos preços internacionais das principais mercadorias importadas. “Temos um ambiente relativamente estável, mas sujeito a riscos acrescidos”, disse.

O Banco de Moçambique voltou a manifestar preocupação com o agravamento do endividamento público interno e o seu impacto no normal funcionamento do mercado financeiro. Excluindo contratos de curto prazo e responsabilidades em mora, a dívida está actualmente em 465,8 mil milhões de meticais, o que representa um crescimento de 50,3 mil milhões em relação a Dezembro de 2024.

Segundo Zandamela, o persistente atraso no pagamento dos instrumentos da dívida pública interna pelo Estado “tem reduzido a apetência por títulos públicos e contribuído para a rigidez das taxas de juro no mercado monetário interbancário”.

Com esta decisão, o banco central aprofunda o ciclo de flexibilização iniciado em Abril. Naquela altura, a taxa MIMO foi reduzida de 10,25% para 9,75%, um corte de meio ponto percentual que marcou o primeiro alívio do ano. Agora, em Novembro, o Banco de Moçambique volta a ajustar a taxa, desta vez de 9,75% para 9,50%, acumulando uma descida total de 0,75 pontos percentuais em 2025. De acordo com o governador, estes cortes têm sido graduais para “evitar fragilizar o processo de estabilização macroeconómica num contexto de riscos agravados”.

O CPMO alerta que os riscos e incertezas associados à inflação permanecem elevados no médio prazo. Entre estes riscos, destacam-se os efeitos dos choques climáticos, a lentidão na reposição da capacidade produtiva e na oferta de bens e serviços, e, sobretudo, o já referido atraso no pagamento dos instrumentos da dívida pública interna.

“A direcção da política monetária estará condicionada à avaliação contínua dos riscos e incertezas subjacentes às projecções da inflação”, afirmou Zandamela, reforçando que o Banco de Moçambique continuará a seguir uma postura de prudência.

Para o economista Egas Daniel, a redução, ainda que ligeira, “mostra que permanece a intenção de estimular a economia através de uma política monetária mais acomodatícia”. Segundo ele, a descida tende a “libertar mais crédito e aumentar a liquidez na economia”, mas esse efeito não deve ser imediato.

Egas explica que, à medida que o Banco de Moçambique reduz as taxas, “a economia responde cada vez menos, porque o mercado está mais rígido e condicionado por outros factores estruturais”. Entre estes, destaca o risco de crédito num contexto de arrefecimento económico e o crescimento económico inferior ao crescimento populacional registado nos dois primeiros trimestres do ano.

“Não estamos a ver, no curto prazo, ganhos proporcionais na economia decorrentes da redução do custo do dinheiro”, afirmou. Segundo o economista, o impacto limitado justifica a cautela do Banco Central.

Ainda assim, Daniel reconhece que há sinais positivos no horizonte: a inflação controlada, a saída de Moçambique da lista cinzenta do GAFI e o levantamento da cláusula de força maior pela TotalEnergies podem reforçar a eficácia da política monetária.


“A conjugação destes factores pode permitir que, a partir do próximo ano, se comecem a vislumbrar melhores ganhos para a economia”, disse, acrescentando que a expectativa é que a redução do custo do dinheiro beneficie não apenas famílias, mas sobretudo o sector produtivo. “É aí onde a taxa de juro mais baixa faz, de facto, diferença”, sublinhou.

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