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Máquina de radiologia do Hospital Provincial de Inhambane avaria três meses após instalação

A promessa de modernização dos serviços de diagnóstico no Hospital Provincial de Inhambane durou pouco. A nova máquina de radiologia, instalada em Maio deste ano com o objectivo de melhorar a qualidade e a celeridade no atendimento, está inoperacional há quase dois meses.

A avaria obriga os pacientes a percorrer mais de 30 quilômetros para realizar exames simples, como radiografias, no Hospital Distrital de Jangamo, sobrecarregando aquela unidade sanitária e aumentando os tempos de espera.

Para muitos doentes, esta falha significa um sacrifício acrescido. Pessoas que chegam ao Hospital Provincial em busca de um diagnóstico rápido e acessível acabam por enfrentar uma verdadeira maratona. 

Além da distância, há custos de transporte que a maioria não pode suportar, sem contar o desgaste físico de pacientes que, muitas vezes, chegam debilitados. Há casos de doentes que desistem do exame por não terem condições financeiras para a viagem, comprometendo o seguimento clínico e colocando em risco a própria vida.

A máquina, adquirida pelo Estado como parte do esforço para modernizar as unidades hospitalares e reduzir as transferências desnecessárias, representava um avanço significativo no atendimento. Com a avaria precoce, a realidade voltou a ser a de sempre: longas filas, atrasos no diagnóstico e um sistema pressionado.

De acordo com a Secretaria de Estado em Inhambane, Benedita Lopes, a paralisação não se deve a problemas técnicos graves, mas sim a dificuldades no manuseamento do equipamento por parte dos técnicos locais. A situação, segundo as autoridades, já foi reportada ao Ministério da Saúde, que promete restabelecer o serviço nos próximos dias.

Durante a sua visita à unidade hospitalar, a Secretária de Estado explicou ao detalhe como ocorreu a falha. Segundo a governante, a máquina apresentou problemas após tentativas dos técnicos de realizar exames diferentes dos inicialmente programados, o que provocou um bloqueio no sistema electrónico.

“Quando os técnicos vieram instalar a máquina, ficaram aqui uma semana. Montaram o equipamento no Hospital Provincial e, durante esse tempo, decorreu o processo de indução para os nossos técnicos. Tudo indicava que tinham compreendido perfeitamente o funcionamento, mas a verdade é que a máquina não é simples. É um equipamento bastante sofisticado e, em determinado momento, ao tentarem realizar outro tipo de exames que não estavam previstos, não conseguiram. Como se trata de um sistema totalmente eletrónico, o computador deixou de responder e acabou por parar”, explicou Bendita Lopes.

A governante reconhece que o problema tem afectado gravemente a capacidade de resposta do hospital e garante que foram acionados todos os mecanismos para uma solução rápida.

“Reportamos imediatamente ao Ministério da Saúde. Eles confirmaram que vão enviar técnicos especializados para repor o funcionamento da máquina. O grande desafio é que esses técnicos estão todos em Maputo e respondem por todo o país, o que dificulta a mobilização imediata. No entanto, estamos a fazer tudo para garantir que esta máquina volte a operar o quanto antes. Foi-nos prometido que os técnicos chegariam até ao final desta semana. Vamos aguardar”, disse a Secretária de Estado.

Com a máquina de radiologia avariada, os doentes que necessitam de exames estão a ser encaminhados para o Hospital Distrital de Jangamo, localizado a cerca de 30 quilômetros da capital provincial. A transferência maciça de pacientes tem colocado uma pressão adicional sobre a capacidade daquela unidade sanitária, que agora atende utentes provenientes de cinco distritos diferentes.

Esta pressão já se reflecte em tempos de espera que chegam a triplicar, segundo relatos de profissionais de saúde. Em dias de maior movimento, pacientes são obrigados a aguardar mais de seis horas para fazer um exame que deveria ser rápido e simples. Para casos mais graves, como acidentes rodoviários e fraturas expostas, cada minuto conta — e a distância até Jangamo pode ser determinante para a recuperação ou, em situações extremas, para a sobrevivência do paciente.

Apesar da gravidade do problema, as autoridades asseguram que não haverá necessidade de adquirir um novo equipamento, uma vez que a avaria pode ser corrigida pelos técnicos da empresa fornecedora, que também deverão reforçar a formação dos operadores locais para evitar falhas semelhantes no futuro.

“Queremos garantir que esta situação não se repita. É um equipamento que custou muito dinheiro ao Estado e não podemos permitir que erros no manuseamento provoquem interrupções no serviço. Por isso, além da reparação, vamos insistir numa capacitação mais aprofundada dos técnicos para que tenham domínio completo da máquina”, concluiu Bendita Lopes.

A expectativa do governo é que a máquina esteja operacional ainda este mês, devolvendo normalidade ao Hospital Provincial de Inhambane e reduzindo a pressão sobre Jangamo. Até lá, os pacientes terão de continuar a percorrer dezenas de quilômetros para ter acesso a um exame que, há poucas semanas, estava disponível dentro da própria cidade.

A avaria levanta um debate mais amplo sobre a gestão de tecnologias hospitalares no país. Não é a primeira vez que uma máquina sofisticada fica inoperacional por falta de manutenção ou por dificuldades na sua utilização. Situações semelhantes foram reportadas nos últimos anos em províncias como Nampula e Sofala, onde equipamentos de tomografia e ecografia ficaram meses sem funcionar por ausência de técnicos qualificados ou peças de substituição.

Para os utentes, cada falha representa mais do que um contratempo: significa atraso no diagnóstico, prolongamento do sofrimento e, em muitos casos, risco de morte. Especialistas defendem que a aquisição de equipamentos deve ser acompanhada de planos robustos de formação e de manutenção preventiva, para que investimentos de milhões não acabem por beneficiar ninguém.

Enquanto isso, as famílias continuam à mercê de um sistema que, muitas vezes, parece esquecer que tempo é vida. Quando a tecnologia falha, a distância pode ser a diferença entre sobreviver e não voltar para casa.

 

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