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Vida em Mute: Entre Feridas do Passado e Esperança no Presente

Cinco anos após os ataques terroristas que devastaram a localidade de Mute, no distrito de Palma, na província de Cabo Delgado, a população já respira tranquilidade.  

Os sons das armas deram lugar aos da reconstrução,a música local tocada nas colunas das barracas da vila, as conversas alegres dos residentes de Mute e ao riso de crianças como Jamal, de 05 anos, nascido em pleno período de conflitos, que  conhecem hoje um ambiente de paz.

Mute é atravessada pela estrada que liga Palma e Mocímboa da Praia, a aldeia já foi palco de momentos difíceis, mas desde 2022, quando os residentes começaram a regressar, a normalidade tem-se restabelecido. 

Bernardo Cornélio, líder comunitário de Mute, afirma que a comunidade está empenhada em reconstruir o que foi perdido.

“Estamos a tentar pouco a pouco, e pedimos a Deus que nos dê saúde e vida, pois temos força para trabalhar, vamos a machamba, fazemos pequeno comércio e temos outras actividades. Neste ritmo, de certeza que conseguiremos nos reerguer”.  

A agricultura, a pesca e o pequeno comércio são hoje os pilares que sustentam a vida em Mute. Entre os campos cultivados e as redes lançadas ao mar, há também espaço para a diversão. 

Numa roda, jovens, adultos e crianças concentram-se para jogar “Luddo”, um jogo tradicional, onde os adultos  encontram distração e alívio. 

“Jogamos isto todos os dias. Geralmente, por volta das 17 horas. As crianças estao aqui apenas para assistir, pois são proibidas de jogar, só tem permissão quem dos 18 anos para cima, isso para evitar que se distraiam na escola”, explicou Chuaba Suanaissa, um dos jogadres de “Luddo”. 

Embora proibidas de participar nos jogos dos mais velhos, as crianças improvisam bolas e dão os seus toques,  sonhando em ser grandes jogadores no futuro. 

Francisco Valente, de apenas 10 anos, conta que quer ter duas profissões, uma que é a de jogador de futebol, mas também ambiciona trabalhar um dia nos grandes projectos de Palma, como o da Total Energies. 

No comércio local, a produção e venda de bebidas tradicionais como a cabanga e a de caju dinamizam a economia informal. Ágata João produz e vende e conta que o negócio corre bem. 

“ O copo da bebida faço a 10 meticais. Por dia consigo vender 500 meticais, duzentos levo para comprar o açúcar que uso para produção da bebida e fico com o lucro de 300 meticais, porque os outros produtos tiro na minha machamba”, contou a vendedora. 

EM PALMA A VIDA TAMBÉM TENDE A MELHORAR

Há 20 quilómetros dali, na vila de Palma, o cenário é semelhante. Os ventos da guerra amainaram, e o mar voltou a ser fonte de vida. Pescadores como Hassane Salimo e Ciraz David conseguem rendimentos estáveis, abastecendo, entre outros, o acampamento da TotalEnergies em Afungi.

“Estes dias temos conseguido bom peixe, grande e de qualidade e as pessoas estão a comprar, cada quilo vendemos entre 300 e 400 meticais, ontem, por exemplo,  conseguiu vender 50 mil meticais e isso nao acontecia há muito tempo”, celebrou Ciraz David. 

Já na terra, associações agrícolas produzem uma variedade de alimentos, da banana ao feijão que garantem rendimento e segurança alimentar. 

A guerra deixou cicatrizes, mas não apagou os sonhos. Em Mute e Palma, a reconstrução é diária, feita com resiliência e esperança. Aqui, o medo já não grita. O que se ouve agora são vozes de recomeço.

 

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