O Presidente da República, Filipe Nyusi, vai prestar, amanhã, quarta-feira, o seu décimo e último informe sobre o Estado Geral da Nação, na Assembleia da República, onde se espera que faça o balanço dos seus últimos 10 anos de governação, iniciados a 15 de Janeiro de 2015 e diga aos moçambicanos como deixa o país.
Como noutras vezes, Filipe Nyusi é esperado na casa do povo às 10 horas, num contexto em que tem como desafios falar, além das realizações destes 10 anos, da insatisfação no seio dos funcionários públicos, que, desde 2022, têm realizado greves, como forma de protesto contra os problemas gerados pela Tabela Salarial Única (TSU), o alto custo de vida que tem vindo a agravar-se a cada ano.
Além disso, os raptos que têm assolado o país, as desigualdades sociais e o terrorismo, que continua a assolar o Norte de Moçambique, também deverão fazer parte do Informe do Chefe de Estado.
De forma geral, espera-se que seja feita uma radiografia pelas diversas áreas: economia e finanças, agricultura, saúde, educação, transportes e comunicações, emprego, desporto, paz e segurança.
Diferente dos outros informes e igual a 2019, este ano, Nyusi presta as suas contas cedo, agora em Agosto, por conta das eleições que se avizinham e, assim, despede-se dos moçambicanos.
Como é que Nyusi vai descrever, desta vez, o Estado Geral da Nação?
De um jeito diferente, desde 2016, Nyusi brindou os moçambicanos com frases nas quais descrevia o Estado Geral da Nação, com excepção de 2015, ano do seu primeiro mandato, em que afirmou ainda não estar satisfeito com o Estado da Nação, mas mostrava-se orgulhoso pelo que tinha feito naqueles 12 meses.
“Se perguntarem se estamos satisfeitos, a resposta verdadeira e sincera é esta: não, não estamos satisfeitos.”
Na época, os moçambicanos foram receptivos com o que ouviram do Presidente da República, pois reconheceram a humildade que o Presidente da República teve ao reconhecer que o país ainda não estava bom.
Veio 2016 e, naquele dia 19 de Dezembro, após três horas a apresentar o seu informe, não hesitou e afirmou orgulhoso que, apesar dos constrangimentos, “a situação geral da nação mantém-se firme”.
Em 2017, saiu de firme para um “Estado Nação desafiante, mas encorajador”.
Passaram três anos e os discursos de Nyusi e frases poéticas ainda não agradavam à oposição, que nunca aplaudiu o Chefe do Estado e, mesmo assim, não parou e, em 2018, puxou outra frase, disse “com segurança” que o Estado da Nação era “estável e inspira confiança”.
Em 2019, foi ao Parlamento no dia 31 de Julho. Era o último informe do seu primeiro mandato, em que fez o balanço dos cinco anos do Estado da Nação. Naquele dia, Verónica Macamo, que era a presidente da Assembleia da República, tomou um outro papel, o de declamadora e dizendo, entre as várias frases que: “Hoje, lá fora, de tanta alegria, até o Inverno apresenta mutações, o frio da época deu lugar ao calor, um calor doce”… era a primeira estrofe do seu discurso, que terminaria por dizer que tudo aquilo era a forma que o povo encontrou para agradecer e reconhecer a “liderança de Vossa Excelência”.
E foi depois disso que o Presidente da República tomou a palavra e, ao fim de duas horas e 26 minutos de viagem ao tempo pelos cinco anos do seu mandato de 2019, declarou que o “Estado da Nação é de esperança e um horizonte promissor”.
Foi-se às eleições e Nyusi renovou o mandato de mais cinco anos.
Em 2020, as exigências aumentavam. O cenário era diferente. Na sala onde antes os rostos ficavam à mostra, todos estavam de máscara, protegidos para não apanhar a COVID-19. Ainda assim, ele fez a radiografia do país e, firme e sorridente, disse convicto que “O Estado da Nação é de resposta inovadora e renovada esperança”.
Em 2021, descreveu como um Estado de “auto-superação, reversão às tendências negativas e conquista da estabilidade económica”. Em 2022, disse que era de “Estabilização e de renovado optimismo face aos desafios internos e externos”.
Já o ano 2023 ficou marcado… algo inédito aconteceu… se, no passado, os deputados das bancadas da Renamo e do MDM abandonavam a sala, no ano passado, fez-se um show enquanto Filipe Nyusi discursava… os deputados da Renamo cantavam, dançavam e faziam todo o tipo de barulho.
O momento foi constrangedor para quem tentava prestar contas ao povo, mas porque aquele era seu papel, Nyusi não parou, bebeu água, continuou e, aos gritos, fez o de sempre, disse que “Moçambique criou bases sólidas para crescer nos anos que se seguem, como um país competitivo, sustentável e inclusivo”.
Desta vez, como é que Filipe Nyusi vai descrever o Estado Geral da Nação e o que dirá ao povo sobre como deixa o país que governa desde 15 de Janeiro de 2015, cujo mandato renovou a 15 de Janeiro de 2020?