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Famílias vivem “debaixo” das águas da chuva no Município da Matola

Há famílias que estão a viver em casas inundadas no Município da Matola na sequência da chuva que cai desde sexta-feira. Algumas vítimas não abandonam suas casas por temer roubos e outras procuram por locais seguros.

Há mais de 15 dias que as chuvas não tréguas à cidade e província de Maputo. Por trás deste mau tempo, há drama das inundações e as suas vítimas. A imagem das ruas do Município da Matola, de longe, sugerem um rio, mas são mesmo ruas, só que tomadas pelas águas.

Da rua, chegam relatos de que a situação não está boa, pelas “Matolas”. “A última chuva foi pior porque não se fez limpeza das valas de drenagem”, descreveu Vasco Manhique, munícipe da Matola.

O percurso que fazemos pelas águas adentro vai descortinando uma realidade dramática que está por trás das casas do bairro Matola 700.

Chegámos à casa de Hortência Mafuiane, que contou ter sido surpreendida pela fúria da mãe natureza, na madrugada de domingo. “Toda a minha casa está cheia de água. Nem consigo um sítio para cozinhar e passar as refeições. Sou, ainda, obrigada a ficar todo o dia fora de casa porque não há condições na minha residência”, contou Hortência Mafuiane, vítima das inundações, no Município da Matola.

De lá a esta parte, seus dias são, literalmente, passados dentro da água. “A minha cama está em cima. Para poder dormir, tive que improvisar uma escada com caixa de cerveja e cadeira para alcançar a cama e passar a noite”, explicou.

Conta que por conta das chuvas, muitos dos seus vizinhos abandonaram suas casas. “Disseram para sairmos e eu disse que não podia porque há oportunistas que entram para roubar o pouco que temos”, justificou Hortência Mafuiane.

Ainda na Matola, mais uma família abriu-nos as portas para mostrar os estragos da chuva. O acesso ao seu quintal é difícil e a situação do interior da sua casa, caótica.

“Nós não conseguimos dormir nem fazer nada. Estamos nesta situação crítica. Estamos a pedir socorro”, queixou-se Joana Leví, também vítima das inundações na Matola.

Procurou formas de salvar os bens, incluindo sua cama e, agora, improvisou um cantinho para guardar sofá, na qual passa as noites e tenta sonhar com dias melhores.

“Eu pus duas bacias por baixo e o sofá por cima para passar a noite. A minha cama está nas cadeiras, mas o meu guarda-fato está nas águas porque não consegui melhor sítio para conservar. Está tudo inundado e de qualquer maneira”, detalhou.

A sua fonte de sustento é o arrendamento de casas, cujos inquilinos foram afugentados pelas inundações, com origem bem conhecida.

“A Trac, quando fez a estrada, bloqueou uma anilha que escoava as águas. Então, nós estamos a pedir à Trac que abra o caminho da água. Tínhamos combinado de fazer greve, mas apareceu uma vereadora do Município a dizer que não tinha solução”, disse Joana Leví.

A chuva afectou tudo e a todos. Madalena Doente, de 70 anos de idade, vive sozinha numa casa, cujos compartimentos foram todos tomados pelas águas.

“Estamos muito mal. Estamos a sofrer. O quintal está alagado e dentro de casa a água está a estragar muitos bens”, lamentou Madalena Doente, mais uma vítima das inundações no Município da Matola.

Tal como os outros, tentou salvar o que pôde, mas a vida dentro da água, descreve ela, é difícil. “Eu, com esta minha idade, vivo na água dentro de casa. Faz sentido? Eu estou doente e isto está a piorar a minha doença”, disse, com uma voz carregada de resignação.

Alguns ainda resistem nas suas casas inundadas e os outros foram vencidos pelo cansaço, ou melhor, pelas águas e abandonaram suas residências.
“Saí de casa, juntamente com os meus pais, há dois dias , e fui arrendar uma outra residência. A situação está muito difícil”, afirmou Domingos Manhice, vítima das inundações na Cidade da Matola.

No bairro Intaka, chuvas engoliram casas, muros, barracas e inundaram campos de futebol.

As queixas de inundações no Município da Matola se multiplicam, ganham eco em cada voz e rosto. O presidente do Município da Matola reconhece que a situação em todos os bairros é crítica e fala das intervenções que estão a ser feitas.

“Agora é tempo de agir. Mesmo com a dimensão do problema, nós queremos reiterar que todos os bairros serão tocados pela acção do Município para aliviar as águas. Não temos como reassentar nem colocar todos os munícipes nos centros de acomodação”, referiu Júlio Parruque, presidente do Município da Matola.

Para o caso da Matola 700, Júlio Parruque disse que há um trabalho que poderá ser feito junto da Concessionária da Estrada Nacional Número Quatro acusada de bloquear o caminho das águas.

“Vamos escalar aquele ponto e vamos convocar a Trac para, em definitivo, esclarecermos esta situação. Na nossa opinião, chegou o momento do ponto final nesta sim ou não com a Trac em relação a aquele ponto de interseção na Matola “B”, “F” e 700”, revelou o edil da Matola.
P

ara os restantes bairros do Município da Matola, o edil disse que vão merecer a atenção da edilidade.

Pelo número de afectados pelas inundações, houve necessidade de abrir centros de acolhimento no Município da Matola.

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