Divulgar os autores moçambicanos no Brasil e os brasileiros em Moçambique. Este é um dos objectivos da nova obra literária, Do Índico e do Atlântico: contos brasileiros e moçambicanos, a ser lançada a 3 de Abril, no Centro Cultural Brasil-Moçambique, na cidade de Maputo.
Constituída por 139 páginas, o livro contém textos de 14 autores, sete de cada país. De Moçambique, fazem parte da antologia, com os respectivos textos, Mia Couto (“Rosalinda, a nenhuma”), Lília Momplé (“Stress”), Alex Dau (“Menina Teresinha”), Diogo Araújo Vaz (“Apocalipse”), Dany Wambire (“A mulher sobressalente”), Carlos dos Santos (“O ilusionista”) e Daniel da Costa (“A flauta do Oriente”). Do outro lado do oceano, integram, Conceição Evaristo (“Os pés do dançarino”), Marcelo Moutinho (“Oxê”), João Anzanello Carrascoza (“Dias raros”), Rafael Gallo (“Corte”), Eliana Alves Cruz (“Noite sem lua”), Cristiane Sobral (“223784”) e Miguel Sanches Neto (“Sabor”)
Do Índico e do Atlântico: contos brasileiros e moçambicanos é uma iniciativa de Dany Wambire, quem co-organiza o livro com o editor brasileiro Vagner Amaro. Por parte do autor moçambicano, coube a selecção de escritores nacionais, sendo que o brasileiro fez o mesmo em relação ao seu país. Entre os critérios, vincou a preocupação de incluir na antologia autores ainda em ascensão dos dois países, dando-lhes a oportunidade de conquistar público diversificado, sob a alçada de autores já consagrados. Além disso, os organizadores quiseram garantir que o livro fosse algo equilibrado no que aos géneros diz respeito. A ideia era ter o mesmo número de textos de homens e mulheres. Não foi possível, mas lá estão as autoras.
O texto inaugural do livro, “Rosalinda, a nenhuma”, é assinado por Mia Couto, de acordo com Dany Wambire, o padrinho deste Do Índico e do Atlântico: contos brasileiros e moçambicanos, que vai contribuir para reverter o desconhecimento do que é produzido no Brasil, pelos moçambicanos, e do que é produzido em Moçambique, pelos brasileiros.
Com uma tiragem inicial de 500 exemplares, esta proposta literária terá publicação da Fundza, editora sediada na cidade da Beira. No país de Carlos Drummond de Andrade, o livro sai nos finais de Março, pela chancela da Malê, editora que tem publicados dois títulos de Dany Wambire: A adubada fecundidade e outros contos e A mulher sobressalente.
PERFIL DOS AUTORES
Mia Couto (1955). Estreou-se na literatura com um livro de poesia, Raiz de orvalho, publicado em 1983. Recebeu diversos prémios, entre os quais Camões, em 2013. No conto Rosalinda, a nenhuma, o autor narra de forma metafórica uma história de amor póstumo, mas também de busca pela identidade.
Diogo Araújo Vaz (1978). Estreou-se na literatura com Contos de Guicalango (2010) ? Prémio Minerva Central 100 anos e Maria Odete de Jesus. Em Apocalipse, o autor narra a actuação do homem no mundo, o antropocentrismo e a necessidade de se buscar um sentido, uma invenção para explicar as desmedidas humanas em relação à natureza.
Carlos dos Santos (1962). Formado em Psicologia e Pedagogia. Estreou-se com o romance de ficção científica A quinta dimensão (2006). No conto “O ilusionista”, Carlos dos Santos apresenta uma experiência com o fantástico quando uma menina vai até o galinheiro buscar ovos para a mãe.
Lília Momplé (1935). Foi secretária-geral da AEMO. Estreou-se com o livro Ninguém matou Suhura (contos, 1988); na sua obra também se destacam Neighbours (romance, 1996) e Os olhos da cobra verde (contos, 1997). Em “Stress”, um professor comete um crime quando é interrompido de assistir a televisão; uma vizinha testemunha o assassinato.
Daniel da Costa (1966). Escritor, professor, jornalista e diplomata. Estreou-se em 2003 com uma colectânea de crónicas, Xingondo. Em “A flauta do Oriente”, o velho Saguate consegue domar a sua dor com o recurso a uma flauta importada da Índia.
Dany Wambire (1989). Estreou-se em 2013, com o livro A adubada fecundidade e outros contos. É director da revista Soletras. Em “A mulher sobressalente”, Wambire apresenta a tensão entre tradição e contemporaneidade, quando uma mulher precisa retornar para sua aldeia, obedecendo às ordens de seu pai.
Alex Dau (1972). Estreou-se em 2004, com a obra Reclusos no tempo. Em “Menina Teresinha”, Alex Dau apresenta a história de uma menina de 15 anos de idade e seus pequenos desafios para cuidar do pai que tanto ama.
Eliana Alves Cruz (1966). Pós-graduada em Comunicação Empresarial. Venceu o concurso de romances da Fundação Cultural Palmares/MINC em 2015, com o livro Água de barrela. Em “Noite sem lua”, a autora apresenta as angústias de Marilene diante de uma sociedade que discrimina a sua cor.
Cristiane Sobral (1974). Escritora, dramaturga e actriz. Estreou-se na literatura em 2010, com o livro de poemas Não vou mais lavar os pratos. No conto “223784”, a escritora narra uma relação de afecto e cumplicidade entre pai e filha. A relação é afectada pelo relacionamento amoroso inter-racial da filha.
Rafael Gallo (1981). autor do romance Rebentar (2015), livro vencedor do Prémio São Paulo de Literatura e de Réveillon e outros dias (2012), livro vencedor do Prémio Sesc de Literatura. Em “Corte”, Rafael Gallo conta a história da relação de uma avó com a sua neta afrodescendente.
Miguel Sanches Neto (1965). É escritor, professor universitário e crítico literário. Estreou-se com o romance Chove sobre a minha infância (2000). Em “Sabor”, o escritor narra as experiências de três meninos quando testemunham duas cenas de morte.
Marcelo Moutinho (1972). Estreou-se com o livro de contos Memória dos barcos (2001). Oxê é um machado de dois gumes, no candomblé é chamado de machado de Xangô. O conto “Oxê”, de Marcelo Moutinho, passa-se na histórica derrota do Brasil para Alemanha no Mundial de futebol de 2014, sob a perspectiva de um segurança apaixonado.
João Anzanello Carrascoza (1962). É escritor e professor universitário. Estreou-se com o livro Hotel Solidão (1994). No conto “Dias raros”, Carrascoza narra a visita de um menino à sua avó e as descobertas que surgem da relação de afecto que se instaura entre eles.
Conceição Evaristo (1946). Estreou-se com o romance Ponciá Vicêncio (2003). No conto “Os pés do dançarino”, apresenta a história de Davenir, exímio dançarino, e a necessidade de um reencontro com sua ancestralidade.