O País – A verdade como notícia

Joaquim Chissano não vê impedimentos para se avançar com eleições distritais

Foto: O País

Antigo Presidente da República entende que não há motivos claros que impedem que Moçambique possa avançar com este passo no capítulo da descentralização. Numa entrevista exclusiva ao jornal O País, Joaquim Chissano revelou que a proposta de redução dos salários dos dirigentes é uma forma de alcançar a justiça salarial

“São viáveis”. O antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, não hesita na sua resposta sobre o debate em torno da viabilidade da realização de eleições distritais em 2024. Mesmo reconhecendo que, antes dessa resposta, se deveria ter feito uma consulta aos órgãos responsáveis pela organização do pleito eleitoral em referência, o antigo Estadista disse, hoje, numa entrevista concedida ao jornal O País que ainda não viu, até hoje, impedimentos para as eleições distritais.

“Eu não vi nenhum impedimento para que as eleições tenham lugar daqui a mais um ano. Os órgãos e as estruturas devem ser respeitados”, sentencia Chissano, exemplificando que as eleições, em princípio, “já começaram a ser preparadas um pouco antes. O que eu desejo é sucesso àquelas instituições que foram designadas para a organização das eleições”.

E faz um apelo: “Que o povo participe nelas (eleições distritais) conforme as condições que forem criadas”. Numa clara mensagem aos partidos políticos, o antigo Estadista afirma que “não é cada um pensar nas suas próprias condições. Vamos fazer o jogo naquele campo, as balizas são iguais de um lado e de outro. Não é para perderem o jogo e depois dizerem que uma baliza era maior que a outra”.

E porque o ano que acabou de iniciar marca o arranque do próximo ciclo eleitoral, Chissano faz uma exortação sobre as eleições autárquicas agendadas para Outubro deste ano. “Que as eleições (de 2023) sejam realizadas na serenidade, evitando choques violentos, antes, durante e depois das eleições. Queremos que as eleições sirvam para criar as bases para um desenvolvimento contínuo do nosso país.”

 

TSU: PROPOSTA DE REDUÇÃO SALARIAL VISA ALCANÇAR JUSTIÇA SALARIAL

O tema “polémico” da implementação da Tabela Salarial Única não passou ao lado da entrevista com Joaquim Chissano. Questionado sobre a proposta lançada esta terça-feira pelo Governo – de reduzir os salários dos dirigentes –, o antigo Presidente da República revelou entender a medida como um caminho para que se alcance “uma maior justiça na distribuição da riqueza do país, mesmo através dos salários”. Entende Chissano que “tendo em consideração a situação do país, temos que garantir que todos tenham um salário aceitável e que não haja discriminação.

Sabe que não é um processo fácil, até porque mexe com aqueles que “desde o tempo colonial, já trabalhavam e ganharam a sua posição. Quando se mexe no salário, parece que se está a mexer na vida de alguém”.

Mas encoraja que se avance com a medida. Explica que, desde os seus tempos, enquanto Presidente da República, sobre como melhorar as condições salariais dos trabalhadores que auferem salário mínimo. “Cheguei a propor que o meu salário não aumentasse. Eu disse ‘vamos aumentar os salários da classe trabalhadora e vamos diminuindo as diferenças entre o salário do topo e o salário que segue’”.

Chissano demonstrou ter ficado satisfeito ao ouvir agora que “o Presidente da República, ou melhor o Governo, decidiu que se baixasse um pouco o salário do próprio Presidente para baixar outros salários. Não sei se vão proceder no modelo de uma baixa sistemática ou talvez uma regulação”, indagou.

Em relação aos assuntos de fora de portas, a entrevista com Joaquim Chissano abordou a recente invasão à sede das instituições que representam os três poderes do sistema democrático no Brasil.

Para Chissano, aquele “não é um exemplo a ser seguido por nenhum Estado, nem mesmo por Moçambique. Às vezes, pode dizer-se que, porque fizeram no Brasil, nós também podemos fazer. Ou porque nos Estados Unidos, que são uma grande democracia, cometeram um acto como aquele, nós também podemos cometer”, afirmou Chissano, terminando a vincar que “os que invadiram os três poderes no Brasil não são democratas”.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos