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Zoológico de Maputo (quase) abandonado, continua refém de um resgate

Foto: O País

O Município de Maputo diz que falta dinheiro para reabilitar o Jardim Zoológico de Maputo. O local, que um dia foi referência nacional e internacional, está degradado e os poucos animais que ainda existem dependem de doações para a sua alimentação.

O Jardim Zoológico de Maputo já foi um dos principais locais de atracção turísticas na Cidade de Maputo. No local, alunos do ensino primário realizavam passeios de estudo e estudantes universitários, suas pesquisas. Mas, hoje em dia, a degradação abre espaço para o silêncio e o vazio.

Outrora movimentado, hoje com baloiços abandonados, jaulas vazias. O cenário é de degradação acentuada. Caricato é que alguns espaços pertencentes ao zoológico deram lugar à produção agrícola.

A fama do local despertou a curiosidade de dois amigos, João Tomás e Riquito Paizano, provenientes de Chimoio, província de Manica.

Os jovens tiveram uma oportunidade de emprego que os levou a Maputo. Quando chegaram à capital, quiseram conhecer o local, mas frustraram-se.

“Disseram-me que existiam muitos animais, mas não foi o que vi. Esperava ver jiboias e Chimpanzés, tal como me disseram, mas não vi nenhum destes”, lamentou Riquito Paizano.

Um sentimento replicado por João Tomás, que também não gostou do que viu. “Há alguns animais que não pudemos ver, mas daquilo que vi, gostei”, disse.

Fundado em 1929 por um grupo de veterinários portugueses congregados na Associação do Jardim Zoológico de Moçambique, o Jardim Zoológico de Maputo foi criado para ser o reservatório das espécies de fauna e flora bravia de Moçambique, então colónia portuguesa. Na década de 40, recebeu importantes visitas de governantes coloniais.

A fama do lugar transcendeu o período pós-independência. Era quase que “um pecado” não conhecer o “João Tocuene”, um chimpanzé que era atracção principal do jardim, ou o hipopótamo de “Marracuene” como era carinhosamente chamado o único hipopótamo do local. Para as crianças, visitar o local a cada 01 de Junho era uma espécie de ritual, mas, hoje em dia, já não.

“Este ano, recebemos apenas mil e novecentas crianças no dia 01 de Junho, quando já chegamos a receber cerca de cinco mil pessoas na mesma data”, detalhou o responsável pelo local.

É facto, o Jardim Zoológico de Maputo já foi um dos espaços públicos de lazer e diversão de grande referência nacional e a nível mundial. Mas, devido à fome e falta de tratamento apropriado, boa parte dos animais de grande porte morreu e os que ainda existem sobrevivem. Facto que leva o lugar emblemático a perder o seu encanto e atractividade, pois, por conta da situação, há cada vez menos pessoas a visitarem o local.

Em Janeiro de 2016, por exemplo, oito mil e quinhentas pessoas visitaram o zoológico, mas, no mesmo mês deste ano, o número diminuiu para três mil seiscentas e cinco pessoas, uma redução de cerca de cinco mil visitas.

Com as restrições impostas pela pandemia da COVID-19, a média diária de visitas também diminuiu. “Por causa da pandemia da COVID-19, recebemos apenas 100 pessoas por dia, mas, noutros tempos, recebíamos 500”, lamentou o entrevistado.

No ano de 2018, a Associação do Jardim Zoológico de Moçambique, responsável pela gestão do local, apresentou um projecto que visava transformar o local num espaço verde, sem animais de grande porte, mas, até ao momento, nada foi feito, porque faltou dinheiro para o efeito.

“Para reabilitação, falta dinheiro. Quando uma jaula rompe, é preciso dinheiro para reabilitá-la, não temos fundos”, explicou a mesma fonte.

Associação do Jardim Zoológico de Moçambique perdeu grande parte dos seus associados e, agora, com a crise, nem todos conseguem pagar as cotas para a manutenção do espaço e alimentação dos animais.

De acordo com o responsável, a quantidade necessária para alimentar dois crocodilos, nos tempos de fartura, era de 50 kg de carne, mas, no momento, são administrados apenas 30, sendo que grande parte da alimentação provém de doações de empresas produtoras de carnes, restos de supermercados e outras.

Actualmente, o “Zoo de Maputo” tem 41 animais, sendo, duas espécies de macaco (macaco cão e cinzento), uma cobra, dois crocodilos e dois jacarés.

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