Moçambique conta com uma zona especial de processamento agroindustrial no Corredor de Desenvolvimento Integrado Pemba – Lichinga. A iniciativa do Governo visa potenciar a ligação entre a agricultura e o processamento. Para o efeito, o Grupo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), parceiro do projecto, coloca à disposição um financiamento de USD 43 milhões.
Acompanhado pelo presidente do BAD, Akinwumi A. Adesina, o Chefe do Estado, Filipe Nyusi, dirigiu no último sábado em Cuamba, província de Niassa, a cerimónia oficial de lançamento do programa de processamento agroindustrial no Corredor de Desenvolvimento Integrado Pemba – Lichinga.
Numa primeira fase, será implementado em 10 distritos em Niassa e 4 na Zambézia, mas o plano geral incluiu as províncias de Niassa, Cabo Delgado, Nampula e Zambézia, numa área com condições agroecológicas similares, com conhecido potencial agrícola.
“Este projecto traduz a interacção entre a agricultura e a indústria, na perspectiva de absorção de inovações e tecnologias, em toda a cadeia de valor de produtos agrários e de fornecimento de máquinas e insumos, passando para a transformação ou processamento, distribuição, até à comercialização. Estamos conscientes de que a industrialização de Moçambique não será imediata. As expectativas, às vezes, levam-nos a chegar a conclusões erradas. Não obstante, temos a convicção de que a nossa opção por uma abordagem mais integrada, através de zonas económicas especiais, em função das potencialidades agroecológicas e de parques industriais, ao longo dos corredores de transporte é o melhor caminho para acelerar a transformação da actividade agrária e a inclusão da população rural na economia formal”, explicou Filipe Nyusi, no discurso oficial.
Através de programas que incidem na agricultura, como é o caso do SUSTENTA, o nível de produção agrícola aumenta de ano a ano, faltando o processamento industrial para estruturar a segunda fase na cadeia de valor.
“Notem que a cifra da campanha nacional de comercialização agrícola projectada para este ano é de 16.4 milhões de toneladas e a região norte tem uma contribuição de 58%, e deste valor, mais de 50% é contribuição das províncias do Niassa e Cabo Delgado”, sustentou o Presidente.
E nesta primeira fase de implementação do programa de processamento agroindustrial, foram selecionadas culturas que vão merecer especial atenção, com destaque para as de rendimento.
“O ZEPA, referindo-se ao Projecto Especial de Agro Processamento no Corredor Lichinga – Pemba, irá melhorar a produtividade agrícola e o desenvolvimento do agronegócio e agroprocessamento, sobretudo nas cadeias de soja, gergelim, macadâmia, batata, trigo, algodão e aves”, acrescentou Nyusi.
Contando com Moçambique, o BAD, que financia projectos similares em 11 país, entende que esta é a melhor forma de contribuir para evitar um futuro conflito de escassez de alimentos, num contexto em que África vai se ressentir da dependência de cereais da Rússia e da Ucrânia, agora em guerra.
“O BAD está a financiar com USD 43 milhões a primeira fase do corredor especial de processamento agro-industrial Pemba-Lichinga, que é oficialmente lançado hoje por si, senhor Presidente. Gostava de congratular o ministro da Indústria e Comércio, o ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, a Agência de Promoção de Investimento e Exportações, APIEX, agência implementadora, pelo seu empenho árduo que permitiu que esta cerimónia se realizasse”, destacou Adesina.
O corredor de Pemba – Lichinga foi estrategicamente selecionado pelas potencialidades agrícolas que tem, mas também por permitir a ligação rodoviária e ferroviária para o escoamento de produtos agroprocessados.
Com mais de 100 anos em Moçambique, o grupo João Ferreira dos Santos (JFS) é das mais antigas empresas que fazem fomento, compra e processamento do algodão nas províncias do Niassa e Nampula, sendo um dos exemplos bastante mencionados quando se olha para a cadeia de valor de produtos agrícolas.
“Nós estamos a trabalhar com mais de 40 mil produtores a nível provincial, em Niassa. Estamos a actuar em oito distritos e produzimos o algodão, a partir da planta, a semente a partir da qual pode-se produzir o óleo e a fibra que vendemos para o exterior, a maior percentagem”, avançou uma das responsáveis daquela empresa, presente na exposição que foi preparada adjacente ao local que acolheu o evento dirigido pelo Presidente da República.
A Mozambique Leaf Tabacco aposta no fomento do tabaco em Tete, Niassa e Zambézia e a experiência tem sido boa para a empresa, assim como os produtores.
“Nós temos, normalmente, uma perspectiva inicial que chamamos de precisão. No que respeita à precisão, vamos encontrar um número de 50 mil produtores”, esclareceu Edgar Mutambe, da Mozambique Leaf Tabacco, que precisou que a classe mais concorrida de algodão sai e é comprada a 180 Meticais o quilo.
Os feijões, que fazem parte da bandeira de Niassa quando se fala de produção agrícola do sector familiar, alimentam uma cadeia enorme, desde a produção, comercialização e distribuição pelos principais mercados do país.
“Agora já temos em Lichinga uma fábrica de processamento de feijão”, afirmou Sónia Tomás, dos Serviços Provinciais de Agricultura em Niassa, que conta com pelo menos 12 variedades de feijões já identificadas.