O Governador do Banco de Moçambique (BdM), Rogério Zandamela, disse, hoje, que o país não devia ter embarcado para grandes reformas económicas sem antes garantir o financiamento. As reformas em curso, no país, são exigências do Fundo Monetário Internacional, entre elas, a Tabela Salarial Única.
Rogério Zandamela foi convidado para falar dos desafios da gestão da política monetária em Moçambique. Disse muita coisa e fez uma assunção: “é difícil gerir a política monetária em Moçambique”.
O Governador do Banco Central dividiu a sua aula inaugural em três pontos. No último, Zandamela dedicou-se a explicar o que leva a instituição a agir de uma certa forma em contexto de crises que abalem o país. Fez uma cronologia.
Como não podia ser diferente, Zandamela falou de choques que afectaram a economia de Moçambique desde 2016, começando pela crise das dívidas ocultas, passou pelos ciclones, a pandemia, a guerra russo-ucraniana e, a Tabela Salarial Única; sim, a TSU é tida como sendo um choque interno que afectou a política monetária.
Segundo o Governador do Banco, a implementação desta reforma foi feita num contexto em que se estava a recuperar dos efeitos dos choques anteriores, o que só veio piorar tudo.
Aliás, “temos estado a falar com os colegas que a capacidade de implementar reformas de forma sustentável depende de recursos abundantes para sustentar esse crescimento”, o que não é “nem perto daquilo que é necessário para alavancarmos o investimento que nos tire desta armadilha”, assinalou.
É importante que se recorde que a TSU faz parte de um conjunto de reformas que foi exigência do Fundo Monetário Internacional, para que retornasse ao apoio directo ao orçamento do Estado.
Talvez por isso é que Zandamela acabou por revelar o conteúdo das conversas que ele tem com os seus antigos colegas do FMI, um dos quais estava lá, que é actualmente o representante da instituição em Moçambique.
“O país está a implementar reformas com pouco financiamento, dançamos e investimos muito tempo”, mas “sem isso fica muito difícil”, disse Zandamela.
Zandamela diz que, quando um país avança para este passo nestas condições, o que se causa é cansaço a nível da sociedade, que fica com dificuldade de compreender os benefícios das reformas.
“As pessoas ficam a perguntar-nos quando é que chegam tais reformas e já estão cansadas. Com dinheiro, os benefícios seriam facilmente visíveis”, disse.