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Zambézia tem apenas 16 médicos especialistas moçambicanos

Com mais de seis milhões de habitantes, a província da Zambézia tem apenas 16 médicos especialistas moçambicanos. O número é considerado insuficiente para atender à demanda na segunda província mais populosa do país, a braços com diferentes problemas de saúde. A classe médica insiste, também, que há morosidade no pagamento de horas extraordinárias. 

A população carece de cada vez mais serviços especializados em diversas áreas, mas há poucas opções no que diz respeito aos problemas enfrentados, devido à falta de médicos especialistas. A Ordem e Associação Médica de Moçambique mostram-se preocupadas com a questão da não contratação de médicos especializados no país.

A preocupação foi exposta num jantar de gala que decorreu na Zambézia, no sábado, alusivo ao Dia do Médico Moçambicano.

Zambézia tem 249 médicos distribuídos em 284 unidades sanitárias. Os médicos especialistas moçambicanos são apenas 16, o que não satisfaz à população.

“E são esses médicos que estão indicados para atender às necessidades da nossa população (…). Será que a província da Zambézia merece apenas 16 médicos especialistas, senhora secretária de Estado”, questionou Denise Chatima, ao ler a mensagem dos médicos.

O presidente da Associação Médica de Moçambique, Napoleão Viola, recordou que o país é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como estando em emergência em relação ao pessoal de saúde, daí que se defende a contratação de mais médicos especialistas.

Napoleão Viola afirmou que os médicos da província da Zambézia têm maior sobrecarga para responder à procura de serviços de saúde pela população.

“Contudo, temos estado a ver que, apesar de grandes dificuldades”, os médicos “têm sabido encontrar soluções junto de todas as instâncias possíveis no Serviço Nacional de Saúde e do Governo”, disse Napoleão Viola, avançando que persistem desafios, entre os quais a colocação de mais especialistas na províncias.

Para este ano, prevê-se a contratação de menos de 30 médicos em todo o território nacional, numa altura em que “estamos a formar mais de 300 médicos por ano. Isso significa que há um desfasamento, significando que o Estado não está a conseguir colocar estes médicos ao serviço dos moçambicanos”, sublinhou o presidente da Associação Médica de Moçambique.

A morosidade no pagamento de horas extraordinárias continua a preocupar a classe médica, de acordo com Viola.

“Continua a doer-nos a situação do pagamento das horas extraordinárias. Causa-nos algum celeuma a situação de alguns colegas que, neste momento, continuam sem salários, mas a trabalhar. Lamentamos profundamente e não sei se é exclusivo da província da Zambézia, mas tenho informações” de que a demora no pagamento “ocorre em várias partes do país”.

De acordo com Viola, há médicos que têm  sido enquadrados como técnicos de saúde que ainda não estão enquadrados nos devidos escalões e, apesar de serem  licenciados em medicina, auferem salários equiparados aos de outras áreas “comuns”.

A situação, segundo a Associação Médica de Moçambique, pode ter origem no facto de a mudança de carreiras e outros actos administrativos estarem “parados até 2026”, o que “nos causa alguma perplexidade. Mas, evidentemente, é uma situação sobre  a qual temos de ser capazes de reflectir e procurar encontrar soluções”. 

Já o bastonário da Ordem dos Médicos de Moçambique, Gilberto Manhiça, criticou os médicos que, vendo cidadãos aflitos por necessitar de socorro médico, cobram dinheiro ilegalmente e  mancham os demais profissionais honestos.

Nesse aspecto, Manhiça defendeu o respeito e a dignidade, como algo que se pretende e que passa por melhorar as condições de trabalho dos médicos.

“Essa melhoria das condições de trabalho dos médicos é um imperativo nacional, porque a falta de meios não só prejudica o paciente, mas, também, a integridade do profissional. É assim que o médico, o profissional de saúde, é rotulado como incapaz, incompetente e sem possibilidade intelectual informativa de resolver os problemas de saúde, enquanto não é. Por isso, exigimos que nos criem condições de trabalho”, afirmou o Bastonário.

Em resposta, a secretária de Estado na Zambézia, Cristina Mafumo, sossegou os médicos, referindo que o Programa Quinquenal do Governo contempla a necessidade de contratar mais recursos humanos qualificados para o sector da saúde.

Refira-se que a província da Zambézia se debate com a falta de serviços de hemodiálise, radioterapia, oncologia, entre outros.

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