O País – A verdade como notícia

Veterano do ANC abandona partido devido a corrupção

Foto: News24

O Vice-presidente da Liga dos Veteranos do Congresso Nacional Africano, ANC, já não é membro do partido. Mavuso Msimang diz que se afasta do partido devido ao que chamou de corrupção endêmica que assola a formação política que governa a África do Sul.

É o fim de uma relação de mais de 60 anos, anunciada através de uma carta de quatro páginas a que o jornal O País teve acesso, onde o Vice-presidente da Liga dos Veteranos do Congresso Nacional Africano, ANC, explica as razões da sua saída do partido que serviu durante anos.
Na carta de demissão, Mavuso Msimang fala de uma crise de valores no ANC, partido que libertou a África do Sul do Apartheid e que governa o país até hoje, provocada por, segundo diz, corrupção endêmica.

“Já há vários anos que o ANC é destruído pela corrupção endêmica, com consequências devastadoras na governação do país e na vida das pessoas pobres, das quais continuam a existir tantas”.

Msimang considera que a corrupção, que antes era alvo do ANC por combater, virou-se para dentro e hoje faz parte do seu ADN.

“Mais de quatro milhões de pessoas vivem em barracas que são eufemisticamente designadas como assentamentos informais. E em todas as cidades, há pessoas a quem chamamos de mendigos, que pedem nos semáforos e nas praças da cidade. Eles não são mendigos, claro, pois essa não é a sua identidade. São seres humanos que foram forçados a sacrificar a sua dignidade em parte devido aos sucessivos fracassos do meu partido”, desabafou.
O membro demissionário condenou igualmente as grandes riquezas ostentadas pelos membros do ANC, quando o país está mergulhado numa crise profunda, sob olhar impávido do partido no poder.

“À medida que os líderes do ANC proclamam publicamente a posse de casas obscenamente ricas e outras posses e enviam os seus filhos para as melhores escolas do país, ainda há muitos sul-africanos cujas crianças continuam expostas ao risco de cair em latrinas de poços em escolas públicas mal equipadas…Há crianças nas zonas rurais que faltam às aulas quando os rios estão em inundação porque não há pontes”, acrescentou.

Esta corrupção e má gestão, segundo o que se lê na carta, é a causa do aumento do desemprego na camada jovem, da crise energética, do mau sistema de transporte de carga portuária, entre outros. Por isso, Mavuso Msimang profetiza um futuro sombrio para o ANC, principalmente nas eleições gerais de 2024.

“Como os seus próprios sondadores avisaram, o ANC está actualmente a ficar significativamente aquém de garantir uma vitória definitiva durante as eleições do próximo ano. Este declínio dramático na popularidade da organização é atribuível a percepções amplamente ditas de que os seus membros e os empregados são corruptos, que a organização tem um limite de tolerância alta para o suborno e que a implantação de pessoas inadequadas é responsável pelos níveis deploráveis de serviço do governo ao público”.

Recorde-se que Msimang corta a sua relação com o ANC seis meses depois da expulsão do antigo secretário-geral do ANC, Ace Magashule, acusado de suspender Cyril Ramaphosa, alegadamente por este enfrentar acusações de compra de votos durante a sua campanha política para a presidência do ANC.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos