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Venâncio Calisto vai estagiar na Companhia Teatro da Rainha em Portugal

Foi a figura do ano para categoria do teatro, em 2018, vencendo, por isso, um dos prémios Artes e Cultura, instituído pela Associação Kulungwana. Neste princípio de 2019, Venâncio Calisto volta a ter uma razão para continuar a fazer da arte do palco um modo de vida, afinal, recebeu um convite para estagiar na Companhia de Teatro da Rainha, na cidade Caldas da Rainha, em Portugal, durante dois meses, Maio e Junho.

Ao artista, o convite foi feito por Fernando Mora Ramos, director daquela companhia portuguesa que, ano passado, esteve em Maputo para orientar um workshop de escrita e encenação em teatro, destinado aos estudantes da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), em particular, e ao público em geral. Na verdade, Calisto nem participou no workshop em causa, pois, na altura, montava o espectáculo de “Opera Mwango e Mwanga a partir de Bastien und Bastienne”, de W. A. Mozart. Ainda assim, sempre teve a oportunidade de se encontrar com o director português e com ele debater sobre vários assuntos. Foi nesse encontro que surgiu a ideia de Venâncio Calisto e Fernando Mora Ramos colaborarem em outras ocasiões e latitudes. Calhou logo a possibilidade do encenador moçambicano ir a Caldas da Rainha, numa ocasião em que o grupo local estará a montar o espectáculo A cidade dos pássaros, adaptado de As aves, de Aristófanes, por Bernard Chartreux.

O espectáculo retrata a problemática da democracia, num dialogo com contemporaneidade, e será apresentado ao ar livre, devendo Venâncio Calisto participar na montagem como assistente de encenação e actor.

A permaneça do encenador em Portugal será suportada pela Companhia de Teatro da Rainha. No entanto, a passagem de partida e de regresso está na responsabilidade de Calisto. Por isso teve de arranjar apoio para o efeito, que logo conseguiu da Associação Kulungwana. Resolvido o assunto da passagem, faltam agora arranjar valores para custear outras despesas quotidianas da viagem. Aí a resposta deverá advir de outras instituições, as quais já receberam pedidos por escritos do artista.  

Esta viagem é, para Venâncio Calisto, uma oportunidade de interagir com uma nova realidade teatral. “É uma forma de me abrir para o mundo, conhecer mais coisas da companhia portuguesa e de outras que lá estarão. E é também uma forma de fazer conhecer o meu trabalho e da juventude moçambicana. Vou lá para representar a nova geração de actores e encenadores moçambicanos, sempre na perspectiva de, no regresso, partilhar experiências internamente”. E o artista formado pela ECA acrescenta: “É importante termos este tipo de viagens porque amplia os nossos horizontes. Quanto mais rica for a nossa experiência e mais amplo for o horizonte, mais qualidade terá o nosso trabalho e mais sensível ficaremos. O contacto com outros artistas e outras formas de fazer arte enriquece o nosso trabalho. Nós necessitamos muito desse tipo de oportunidade no país porque a arte é um espaço de diálogos. Eu acredito que vou adquirir uma nova forma e perspectivas de fazer teatro em Portugal”.  

Segundo percebe o Prémio Artes e Cultura 2018, actualmente, em Moçambique é raro os artistas terem a oportunidade de estagiar no exterior. “Nas décadas de 90, os nossos actores tinham mais possibilidades. De uns anos para cá, é cada vez mais difícil, até porque já não temos tradição de companhia, estamos mais individualizados e, sem estarmos afiliados a alguma companhia, as oportunidades dificilmente aparecem. Por causa da falta de oportunidade de viajar, o contacto entre os nossos artistas e de outros países de língua oficial portuguesa é fraco. É necessário termos mais espectáculos de cabo-verdianos ou são-tomenses cá como os nossos naqueles países. Nós não sabemos o que está sendo feito noutras partes de África e eles também quase que não sabem nada de nós”.

Como forma de se alterar o quadro acima, uma das sugestões de Calisto é criar-se um incentivo para os artistas que facilite a aquisição do visto de viagem nas circunstâncias que pretendam deslocar-se por questões culturais. Enquanto isso não acontece, o encenador vai-se preocupando em garantir que as condições logísticas estejam todas garantidas. Todo o apoio é bem-vindo.

 

O PERCURSO

Venâncio Calisto nasceu a 8 de Julho de 1993, em Maputo. É Licenciado em Teatro pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane, e trabalha como Assistente Estagiário das disciplinas de Encenação e Dramaturgia na mesma instituição. É encenador e activista cultural. Fundador e director dos grupos de teatro Katchoro e (In)versos, faz parte do Movimento Literário Kuphaluxa. É locutor de rádio e membro da Plataforma ECArte. Participou do festival Yesu Luso – 2017 no Brasil com “Qual é a sentença: a mulher que matou a diferença?”, texto e encenação de sua autoria. Além de distinguido com o Prémio de Artes e Cultura da Mozal – 2018 na Categoria de Teatro, venceu o Primeiro Lugar do Prémio “Ponte que liga vidas/ Maputo – Katembe” na categoria de Poesia promovido pelo Centro Cultural Moçambicano Alemão (CCMA) – 2018. Encenou as seguintes peças: “(Des)mascarado”, “As Visitas do Dr. Valdez” – adaptado do original de João Paulo Borges Coelho – 2017; “A Crise” ou os infantis: “Natal, um presente misterioso”, “Leão: o rei que só queria brincar” e “O Resgate da Princesinha”.

 

 

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