A greve nacional dos médicos continua no país. No Hospital Geral José Macamo, na Cidade de Maputo, a direcção diz que os médicos estão sobrecarregados. Os utentes, por sua vez, pedem que os médicos voltem aos seus postos.
A Associação Médica de Moçambique (AMM) protesta, há mais de 10 dias, contra as irregularidades decorrentes da implementação da Tabela Salarial Única (TSU).
A greve nacional dos médicos levou à paralisação de alguns serviços e à redução dos funcionários nas unidades sanitárias.
Numa ronda feita, esta quarta-feira, pelos hospitais e centros de saúde da Cidade de Maputo, o “O País” constatou que somente os serviços de urgências funcionavam em pleno. Já para as consultas externas, os pacientes entrevistados disseram que aguardaram por muito tempo nas filas de espera para o atendimento.
“É um pouco complicado porque os médicos estão a reivindicar os seus direitos, mas nós somos pacientes, por isso acho que eles deviam ser mais compreensivos porque estamos a sofrer”, lamentou Elisa Langa, acrescentando que já se encontrava na fila de espera havia mais de três horas, no Hospital Central de Maputo.
No centro de saúde de Malhangalene, Angélica Mário procurava por cuidados pela primeira vez, desde o início da greve dos médicos a 05 de Dezembro. A paciente revelou que, apesar do atendimento estar a fluir, a falta de médicos é notória nas unidades sanitárias.
“Geralmente, o atendimento tem sido mais rápido, o que espero é que eles voltem a atender normalmente e que sejam mais flexíveis”, apelou a utente.
A opinião foi também compartilhada por Manecas Jeremias, que lamentou o facto de ter esperado por muito tempo para que fosse atendido.
“Desde as nove horas, ainda não fui atendido, assim estou à espera que me chamem”, queixou-se o utente, que já esperava há mais de quatro horas.
Nas unidades sanitárias, os médicos organizaram escalas de trabalho, para não interromper completamente as actividades.
Entretanto, no Hospital Geral José Macamo, por exemplo, os únicos médicos que trabalham estão sobrecarregados, mas a directora clínica garantiu que tudo está a ser feito para que a situação se mantenha controlada.
“Nós ainda não notámos nenhuma enchente além do que consideramos habitual nos nossos serviços. Temos um Banco de Socorros que é movimentado e geralmente há um horário em que é mais complicado”, explicou Andreia Neves, directora clínica do Hospital Geral José Macamo.
Para que o funcionamento das unidades sanitárias volte à normalidade, os utentes esperam que haja entendimento entre o Governo e a Associação Médica de Moçambique.
“Pedimos que eles voltem a trabalhar e nos atendam, porque pessoas doentes são muitas e precisam de tratamento”, apelou Francelina Maluana.
Enquanto isso não acontece, a estratégia das unidades sanitárias é buscar reforço, tal como explicou a directora Clínica do Hospital José Macamo.
“Em relação às consultas externas, notamos alguma repressão porque tivemos médicos que aderiram à greve. Mas estas estão a ser feitas e contamos com o apoio de médicos estrangeiros e militares que têm auxiliado nas tarefas.”
Em todo o país, cerca de dois mil médicos aderiram à greve que vai durar 21 dias prorrogáveis caso o Governo não resolva as preocupações que constam do caderno reivindicativo, no âmbito da implementação da TSU.
Segundo a AMM, há cerca de dez preocupações ainda não resolvidas, com destaque para os subsídios de exclusividade, por exemplo, que foram reduzidos de 40% para cinco por cento.