O nosso Governo está a dar-nos uma sublime lição de grandeza pela extraordinária forma como está a gerir a morte e velório de Afonso Dhlakama e mesmo algumas vozes ruidosas que tentaram forçar desnecessárias tolerâncias de ponto ou a transladação do corpo do líder da Renamo para Praça dos Heróis, cedo compreenderam a sua própria falta de razão. Não cabemos todos na cripta de Maputo e essa não deve ser bem a nossa meta colectiva nem a condição necessária do nosso reconhecimento.
Um Chefe de Estado adiar visita de Estado ao estrangeiro, mandar cobrir a urna do seu principal opositor com a bandeira nacional e uma guarda militar de honra, é algo incomum nos estados africanos. Louve-se.
Há aqui um pungente simbolismo que deve ser capitalizado no complexo processo da nossa reconciliação.
O Governo dá a Dhlakama um reconhecimento de sua cidadania como moçambicano, simbolizando que todos somos merecedores dessa condição, independentemente do lado que escolhemos no processo de construção do país. Temos que aproveitar esta decisão como o mote para a viragem definitiva.
Obviamente, isso não implica escamotearmos os factos históricos. Afonso Dhlakama é querido por muitos, mas está longe de ter sido um anjo (acaso, há algum do outro lado?). Está profundamente ligado ao lado lunar na nossa história nos últimos 42 anos.
Mas colocar uma pedra gigantesca sobre as fases nebulosas da nossa história não é uma fraqueza. Antes pelo contrário. Afinal, as feridas de um povo também se saram exorcizando os seus próprios tormentos. E, mais do que o passado, há um presente e um futuro importantes para construir para os moçambicanos.