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Uma liderança transformadora para o desenvolvimento inclusivo e sustentável?

Em Moçambique, é lugar comum ouvir que o país precisa de um novo rumo – ideia de que se precisa de empreender reformas políticas e económicas que conduzam ao desenvolvimento inclusivo e sustentável. Portanto, a temática em voga é a necessidade de reforma das instituições, mormente do Estado, pela sua incapacidade de interagir numa sociedade cada vez mais complexa.

O Estado moçambicano tem-se mostrado incapaz de responder às demandas cada vez maiores da sociedade. O Estado, em particular as instituições públicas, está totalmente incrustado pelas teias e tentáculos da corrupção. A corrupção põe em causa a boa governação em termos políticos e administrativos, uma vez que a consequência é que o Estado se mostra incapaz de atender aos anseios dos cidadãos. Hoje, em resultado do processo de democratização, temos uma sociedade civil forte, consolidada e organizada que luta incessantemente pelos seus direitos. Como referimos, há em toda a esfera política, económica, social e cultural na posição e na oposição uma tese de que é preciso refundar o Estado. Este clamor em alguns é manifesto e exteriorizado publicamente. Em outros é manifesto somente em grupos privados e restritos.

Um novo rumo não só é necessário como possível. O novo rumo depende da afirmação de uma liderança transformadora – entendendo liderança como habilidade de comandar pessoas e influenciá-las para trabalharem entusiasticamente visando atingir os objectivos identificados como sendo para o bem comum da organização e/ou da Nação. O nosso argumento é que o país precisa de uma liderança política transformadora, uma liderança que se concentre em criar um ambiente político, económico, social e cultural bom para a sua equipa de governação e, por via disso, para a Nação. Uma liderança que não se concentra em dar ordens e exigir que se cumpram as tarefas permanecendo no óbvio e na mesmice (sempre foi assim, por isso devemos continuar a fazer assim). Moçambique precisa de líderes, na posição e na oposição, que não se cinjam à disputa pelo poder. O poder deve ser, para esses líderes, a ferramenta necessária para empreender transformações na gestão da coisa pública. Uma liderança que se engaja, inspira e motiva os seus subordinados e concidadãos  a inovar e a contribuir para que a governação seja bem-sucedida diante dos objectivos que persegue – o desenvolvimento inclusivo e sustentável. O país precisa de uma liderança que entenda e materialize que o acto de liderar exige muito mais que ser bom gestor de pessoas e processos. É fundamental entender que há princípios de liderança que são fundamentais para empreender mudanças e mobilizar a Nação para esse desiderato, tais como propósito estabelecido, perseverança, parcerias estratégicas e inteligência emocional.

O vencedor das eleições de 9 de Outubro próximo deve definir com clareza o destino para onde pretende levar a Nação. Trata-se de apresentar com clareza onde pretende que esteja Moçambique em 2029 quando terminar o primeiro ciclo da sua governação. Quando o propósito está estabelecido com facilidade, engaja a sua equipa governamental e por via de uma liderança que inova mobiliza os moçambicanos. Os desafios estruturais e conjunturais que Moçambique vive exigem perseverança na liderança. Uma liderança que persiste diante das situações difíceis e que não se abale com as contrariedades internas e externas que o seu ciclo de governação vai enfrentar. As contrariedades e situações difíceis podem até ser internas, isto é, dentro dos partidos que se habituaram a práticas que se institucionalizaram. Toda a mudança e inovação vai ser combatida e contrariada a despeito de que sempre se fez de uma forma e essa forma foi sempre bem-sucedida, por isso não se deve alterar. Este discurso é, muitas vezes, alimentado pelas elites clientelistas que vivem das “tetas” do Estado. Essas elites vivem na base de relações sejam familiares, sejam étnicas sejam de amizades, em que a partir daí formam governos e/ou influenciam na constituição dos mesmos. Esta estratégia institucionalizou-se porque essas elites vêem na ocupação de cargos públicos uma fonte rápida para fazer negócios, alguns dos quais ilícitos. Enquanto essa situação continuar, não será possível eliminar a corrupção na gestão da coisa pública. Aquele que sair vencedor das eleições de 9 de Outubro próximo deve ter presente que necessita de competências na gestão da mudança, na resistência à pressão das expectativas e na capacidade de adaptação às novas condições que surgirem. Para isso, deve formar um Governo cuja liderança é transformática e ética. É fundamental recuperar e restaurar a esperança e  a ética na sociedade moçambicana. E não se alcança isso sem fazer parcerias estratégicas. O líder que vai gerar o Estado e a sociedade moçambicana no próximo quinquénio deve ter em si que juntos somos fortes. Trata-se de estabelecer parcerias estratégicas a todos os níveis.

A primeira parceria estratégica deve ser a nível interno do partido que o elegeu como candidato. Agregando junto do projecto de governação para Moçambique aqueles que o apoiaram e também os que estiveram em posição contrária. Trata-se de saber buscar os melhores quadros para materializar o projecto de governação que permita materializar uma independência económica de Moçambique fundamentada no uso das próprias forças e meios. A segunda é com a oposição. É fundamental estabelecer uma parceria estratégica com oposição para convergir nas questões centrais que devem mobilizar os moçambicanos para materializar a melhoria da sua condição de vida.

Este aspecto é fundamental e na sua equipa de governação deve ter experts que procurem estratégias para garantir canais que propiciem acordos com a oposição nas questões estratégicas. Ter presente que o compromisso com Moçambique e com os moçambicanos exige fazer cedências em temáticas que seja razoável fazê-las. O país clama por uma política económica de desenvolvimento séria, ética e boa governação e equidade e justiça social na redistribuição de riqueza.  Uma transformação estrutural e sistémica de Moçambique passa pela construção de uma sociedade mais aberta ao contraditório, mais democrática, mais transparente, mais participativa e mais justa.

Não tenhamos a ilusão de que basta que se afirme uma liderança transformadora na gestão do Estado para que os desafios que Moçambique enfrenta sejam resolvidos com sucesso. É fundamental que as lideranças médias e intermédias tenham o mesmo perfil e a nova cultura política se incruste na gestão da coisa política. Os meios de comunicação social são actores determinantes para a instalação de uma liderança transformadora. No dia em que este jornal celebra os seus 19 anos, auguramos que o compromisso editorial seja com um engajamento para contribuir para a mudança pela qual os moçambicanos anseiam.

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