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“Um ser humano satisfeito protege melhor o parque”

Ao mesmo tempo que encantam turistas, as áreas de flora e fauna atraem furtivos, que se dedicam ao abate de espécies protegidas, por isso, na Conferência Internacional sobre Turismo Baseado na Natureza debateu-se o tema, no segundo painel do primeiro dia do evento, “Desenvolvendo modelos efectivos de parceria para tornar as áreas de conservação em bens turísticos sustentáveis”.

O moderador, Peter Lindsey, da Wildlife Conservation Network, falou de modelos de gestão das áreas protegidas. Primeiro, disse haver um défice orçamental de cerca de um milhão de dólares nas áreas protegidas e acrescentou que o continente deve investir na conservação. “Muitos países estão a perder a vida selvagem por falta de fundos para sua protecção, por isso é preciso engajar ONG’s e parceiros para protecção”.

A Wildlife Conservation Network interviu em várias áreas de conservação no mundo e Lindsey mencionou os modelos de gestão utilizados:

Modelo de gestão delegada: que consiste na partilha de gestão das áreas entre governo e ONG. Neste modelo, a gestão é desenvolvida pelos parceiros, que têm autonomia nas intervenções. No entanto, disse ser pouco usado pois os governos ficam com a sensação de perda de soberania nestas áreas. Também apontou acções corruptas como constrangimentos.

O segundo modelo, de co-gestão, também consiste na partilha entre o governo e ONG. E neste caso, o governo é mais actuante; os gestores destas áreas, vêm por parte do governo, as ONG entram com o capital e também apoiam na gestão e ambos partilham os benefícios. No entanto, não há muita clareza sobre as responsabilidades e prestação de contas.

O outro modelo, de apoio técnico e financeiro, atrai pouco investimento porque o parceiro, não tem muito a dizer, tudo depende do governo.

Mas há que frizar que todos esses modelos dependem do apoio tanto do governo como das ONG. E para que funcionem, é preciso que se crie leis, acordos a longo prazo, financiamentos eficazes e acordos claros, com papéis dos intervenientes bem definidos. Peter Lindsey sublinhou que Moçambique é um país pioneiro na implementação destes modelos.

O Director de Conservação da Fauna & Flora International, Matt Walpole, deu exemplos de modelos usados nalgumas áreas de conservação e sublinhou que o apoio dos governos é fundamental.

Já Petter Fearnhead, CEO da African Parks, destacou a importância das Parcerias Público Privadas para as áreas de conservação, pois :“Conservação custa dinheiro, muito dinheiro. É preciso que haja dinheiro para que haja conservação e tomar-se medidas para conservaçao das áreas protegidas”.

Disse que o governo é a autoridade legal como patrono dos parques, e o que os parceiros fazem é apoiar. “o que nós fazemos, como parceiros, é fazer o que o governo quer”, disse.

Também falou da gestão delegada; disse que o governo tem a soberania sobre as áreas, mas referiu que é preciso que haja cumprimento das leis e cumprimento das responsabilidades.

“É importante que o governo comece a mudar. Se exige responsabilidade de nossa parte, é preciso que nos permita tambem exigir responsabilidades do que pensamos que o governo deve fazer. Queremos que o governo nos ajude a ajudá-lo”.

A African Parks actua em em 15 países, incluindo Moçambique, onde iniciaram actividades no arquipélago de Bazaruto.

E porque era de modelos efectivos de parceria para tornar as áreas de conservação em bens turísticos sustentáveis que se falava, Greg Carr, CEO da Carr Foundation, Projecto de Restauração da Gorongosa, apontou o investimento no ser humano e nas comunidades à volta das áreas de conservação, como factores que contribuíram para o sucesso da restauração da Gorongosa.

“Gastamos mais dinheiro fora do parque, em saúde, escolas, porque gostamos das pessoas e assim protegemos o parque. “Um ser humano satisfeito, protege melhor o parque”, disse, acrescentando que o Governo moçambicano foi sempre parceiro no processo.

“Temos mais promotores de educação do que guardas fiscais”, acrescentou e deu mais exemplos de educação que podem ser seguidos, pois uma comunidade educada terá melhor consciência da importância de conservação de espécies.

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