O País – A verdade como notícia

Um sábado abençoado de Ndzumba

Ao sábado diversos músicos apresentaram-se no palco do Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano para reviver músicos já falecidos e assim como ajudar seus familiares directos. Ndzumba, que quer dizer festa, agitou e fundiu gerações e abençoou o sábado. 

A sala estava bem cheia. Ninguém queria perder o desfile musical de diversos das estrelas do nosso país. O objectivo que lhes unia era único: enaltecer as vozes nacionais que muito fizeram em prol da cultura e música moçambicana. Talvez seja por isso que a noite foi denominada de reencontro das grandes vozes. Eram gerações diferentes que se cruzavam no palco, estilos distantes que se entrelaçavam e assim tudo ficava com um único rótulo geracional: geração da música moçambicana.

Em pé movendo o corpo todo, sentados mexendo o pé e aplaudindo cada faixa musical, assim estavam o público que se deslocou ao concerto para reviver velhos temas, e velhos tempos que a música moçambicana pode proporcionar. Enquanto acontecia o espectáculo, em paralelo, acontecia a votação através de SMS dos artistas que eram homenageados. A lista era enorme: 11 artistas. Todavia, Zaida Chongo liderava a lista, depois seguiam Avelino Mondlane, Zena Bacar, Madala, Elsa Mangue e outros.

O palco foi aberto por Marlene. A jovem cantora levantou o público com a sua dança que se combinava com a voz. O público soltou o primeiro passo de tantos que vieram depois. Com seu clássico Nkosikazi Aniano Tamele sentiu a sua voz sendo sufocada pelas diversas vozes que vinham do público para ajuda-lo a cantar. Foi um momento em que o romantismo falou mais alto. O público amou a actuação de Aniano e por isso ao sair agradeceu-lhe com palmas que encheram a sala de ecos e gritos. Era talento entrando por detrás de talento. Parecia uma verdadeira chuva de estrelas. Magro, com uma camisa branca e calças vermelhas, entrou Magid Mussá na boleia de um passo de dança que o público de imediato começou a imita-lo.

Magid Mussá cantou e dançou. Como forma de transmitir a sua música, cantada em Bitonga, decidiu traduzi-la em português num improviso que arrancou até palmas do Ministro da Cultura e Turismo.

Marinela um cidadã brasileira que se fez ao festival confessou ao nosso jornal que veio acompanhar o festival por mera curiosidade e que estava impressionada com a qualidade das músicas e execução: “Sou de Brasil. Vim cá acompanhar o concerto e digo dizer que a música moçambicana é do mundo: tem qualidade, convida ao passo de dança e faz-me reflectir mesmo não conhecendo as línguas nacionais”.

Magid Mussá dançava e as luzes agitadas do palco diluíam-se nas suas calças vermelhas. A camisa apertada pelo cinto não resistência à dança do músico. Depois entrou em palco o exímio Isaú Menezes. Menezes levantou o público quando cantou a música do seu antigo professor de Geografia: David Mazembe e assim o comboio musical do Ndzumba foi sendo puxado pelos músicos nacionais. Alberto Mutcheca fez a sua guitarra chorar e as suas duas bailarinas vacinaram o público com delírios; como é possível dançar uma música que canta amargura que um amor não respondido? Talvez alguns se perguntaram, mas Mutcheca nada perguntava apenas cantava.

Silva Dunduro, Ministro da Cultura e Turismo disse que esse tipo de iniciativa é bem-vindo porque cria espaço de interacção entre gerações e enaltece aquilo que é a produção musical nacional. “Como Ministério da Cultura devemos dizer que estaremos sempre abertos para esse tipo de iniciativas”. José Mucavel, músico que também animou a noite, destacou que este festival era a realização de um sonho que ninguém mais acreditava nele; o sonho de reconhecer as estrelas que estiveram no desenvolvimento da música moçambicana. “É preciso acarinhar e abraçar essa equipa jovem que está na produção desse evento. É uma equipa jovem, mas com ideias muito maduras”, disse o autor do Balada Para Minhas Filhas.

Hélder Cassimo, representante da Movitel afirmou que esta edição já desafiava a equipa toda a pensar numa segunda edição, porque nunca é tarde para ajudar e eternizar aqueles que deram o seu máximo no nosso eixo cultural. Neste festival familiares directos de Fany Pfumo, Zena Bacar, David Mazembe, Madala, Elsa Mangue, Avelino Mondlane e Eugénio Mucavel foram oferecidos bolsas de estudo para frequentarem o ensino superior na USTM.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos