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Um ano depois da pandemia, cultura investe no novo normal

Alterações de agenda, perdas monetárias, dificuldades. São características dos diferentes sectores de actividade desde a eclosão da COVID-19 em Moçambique, sobretudo nos considerados não essenciais nos planos de gestão da pandemia como o da cultura. Para não desfalecer, foi preciso mudar.

Na sala grande do histórico Scala, as mudanças estão a olhos vistos. Antes com capacidade para acolher 900 espectadores, agora, com as novas medidas, só pode receber menos da metade.

“Tivemos que reorganizar a sala. No centro optamos por privilegiar casais e nas laterais estão as bancadas individuais”, disse Ruca Pires: Gestor de Infra-estruturas no Scala.

A corrida para adequar-se ao novo normal incluiu a reestruturação do palco. Entretanto, todos são investimentos que ainda não produziram resultados monetários, porque a Situação de Calamidade Pública ainda não permite a abertura destes espaços ao público.

A solução imediata é migrar para o espaço digital. “Vem agora um ciclo de vídeo-poemas e uma oficina de “artevismo” que estamos a organizar com o Instituto Camões e a Embaixada da França”, avançou Chimene Costa, directora artística do Scala, que acrescentou: “estamos a abrir o local para ensaios e pesquisas para fugir do sufoco. A ideia é não parar”.

Não parar foi o lema de Valdemiro José desde o início da pandemia. Obrigado a cancelar a sua turnê alusiva aos 15 anos de carreira, o músico e compositor não decepcionou os seus fãs e admiradores.

“Uma das coisas que nós fizemos foi criar um projecto chamado HD Valdemiro José e sua Banda. Fizemos 12 edições online. Mas, muitos não me entenderam”.

Não entenderam e ajudaram VJ a provar que às vezes é melhor nadar contra a corrente. Os resultados foram os melhores. “Pudemos medir o quanto o público gosta do nosso trabalho. Vimos que as redes sociais, em particular, o Facebook, Instagram e Youtube não são o futuro, são o presente”, sustentou o artista.

O voo despencou quando estava no auge por falta de apoio. Mas o músico e compositor garante, algo maior vem ai.

Enquanto Valdemiro José movimenta-se para ajustar-se ao novo normal, no Kaya Kwanga o movimento é só de trabalhos de limpeza. O vazio incomoda e assombra as contas da empresa, que teve de reduzir o número de funcionários como estratégia de gestão dos impactos da pandemia.

Para evitar mais demissões e suspensões de contratos, o Kaya Kwanga decidiu reinventar-se usando as suas outras potencialidades. “Intensificamos os serviços de restauração e hotelaria, mas continuamos numa situação difícil”, disse Jaime Bila, gestor da instância.

Uma situação difícil que, segundo Bila, só pode ser superada com a retoma dos casamentos e festas. Para isso, a instituição já se preparou.

 “Na sua capacidade máxima, o salão acolhe 400 pessoas. Caso o Presidente da República decida pela retoma destes serviços na sua próxima comunicação, estaríamos preparados para receber, à vontade”, sustentou.

Enquanto tudo continua fechado, o Cine Teatro Scala, Valdemiro José e Kaya Kwanga, continuarão a ser três entidades que, apesar de terem visto seus planos traídos e contas sufocadas pela COVID-19, tentam transformar a dificuldade em oportunidades para fazer melhor.

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