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Um ano de pandemia, um aprendizado na gestão de crises sanitárias para Polana Caniço

Com a pandemia da COVID-19, o Centro de Isolamento da Polana Caniço aprendeu a lidar com a pressão e a fazer melhor gestão de crises sanitárias da magnitude do novo Coronavírus. A unidade hospitalar diz, ainda, que está preparada para uma eventual terceira vaga da doença.

Passa um ano que a pandemia assola o mundo. Doze meses depois do primeiro caso positivo da COVID-19, a nossa equipa voltou ao maior centro de isolamento e tratamento de pacientes com Coronavírus do país, Hospital Geral da Polana Caniço.

Depois de vestir-se de equipamento de protecção para locais de alta exposição à doença, a equipa de “O País” teve acesso, com exclusividade, à sala de internamentos de pacientes com Coronavírus.

Naquele local, trava-se uma guerra pela respiração. Homens e mulheres, presos às máquinas de oxigénio, buscam, desesperadamente, pelo ar. Tossem ao mesmo ritmo do “tim, tim, tim” dos monómetros que determinam a quantidade do ar que cada um recebe.

As imagens são chocantes. Um doente mais crítico que o outro. A equipa de profissionais de saúde desdobra-se para devolver a respiração aos pacientes infectados e, quiçá, salvar-lhes a vida.

Eis o vírus pandémico que colocou à prova todos os hospitais do mundo e trouxe o primeiro doente internado no Centro de Isolamento da Polana Caniço, em Maio de 2020, ainda que o preparo fosse ao mais alto nível, não seria suficiente para lidar com o vírus inimigo da respiração.

Nas salas de internamento, as imagens chocam…pacientes buscam, desesperadamente, pelo ar. O centro está na batalha contra a COVID-19 desde que se internou o primeiro doente em Maio de 2020.

“Nos primeiros meses, foi um grande desafio porque era uma doença nova e ninguém sabia como agir. Foram definidos protocolos pelo Ministério da Saúde que sofreram várias alterações e nós não parávamos de buscar mais informações”, reconheceu Hélia Manasse, directora do Hospital Geral da Polana Caniço, o maior centro de isolamento de pacientes com novo Coronavírus.

Para lidar com a doença, Hélia Manasse conta que os profissionais de saúde, afectos àquela unidade sanitária, tiveram apoio de especialistas nacionais sobretudo “do Ministério da Saúde e Hospital Central de Maputo, na luta contra esta pandemia”

Mesmo com o suporte dos especialistas de “todos os cantos”, a pandemia nunca deu tréguas e tempo para que os hospitais se preparassem e os investigadores a estudassem. A título de exemplo, na primeira vaga da COVID-19, o Centro de Isolamento da Polana Caniço quase deu o “braço a torcer” para o vírus.

“A primeira vaga foi no mês de Outubro, onde nós vínhamos a registar um número de entradas abaixo de 10 doentes para, de repente, começarmos a internar mais de 50 pessoas, mas conseguimos controlar”, afirmou a directora do Hospital Geral da Polana Caniço, com um tom carregado de sentimento de uma batalha vencida.

A celebração da victória, nesta primeira frente, não duraria muito. É que, nos finais de 2020, foram relaxadas algumas medidas e, com o relaxamento, houve abertura de fronteiras, bares e praias, para além da liberalização das festas do Natal e transição do ano…um ambiente propício para a contaminação e propagação do Coronavírus. Polana Caniço “pagou a factura”.

“No mês de Janeiro tivemos a segunda vaga, a pior de todas, porque o número de casos quase quadruplicou. É verdade que, em termos de experiência, nós já estávamos mais preparados para enfrentar a situação, tínhamos reforçado os recursos humanos em relação ao princípio, recebemos mais quadros qualificados”, explicou Hélia Manasse, sem se descorar do facto de terem perdido muitos pacientes para o novo Coronavírus.

Não obstante este cenário, a nossa fonte afirma que, com esta segunda vaga foi possível superar as dificuldades do Centro de Isolamento da Polana Caniço “para enfrentar os desafios que lhes eram impostos, no momento”.

Com a segunda onda da pandemia, muitos hospitais da cidade de Maputo ficaram lotados e transferiram os doentes para Polana Caniço, mas o centro não tinha espaço para internar mais pacientes e o número de mortes subiu drasticamente.

Do Total dos 947 pacientes internados no Centro de Isolamento da Polana Caniço durante os 12 meses da pandemia em Moçambique, 64% são provenientes do Hospital Central de Maputo, 11% Mavalane, 11% de casa, 6% José Macamo, 3% ICOR, 1.2% Chamanculo 1.2% Hospital Militar, 0.7% Clinicare, 0.6% Hospital Provincial da Matola, 0.6% Shifaa, 0.5% CICOV-Matola.

“É verdade que a pressão foi maior. A nível da cidade, nós tínhamos todos os hospitais gerais como centros transitórios. O Hospital Central de Maputo, os privados que fazem, também, o internamento, mas por causa da procura, estes (os outros hospitais) chegaram um momento que já não tinham como receber”, descreveu Hélia Manasse, Directora do Hospital Geral da Polana Caniço.

Diante deste cenário, diga-se, de caos, todas as unidades sanitárias recorreram ao maior centro de isolamento e tratamento de pacientes com Coronavírus (Polana Caniço) para internar os seus doentes e “nós, como hospital de referência, para COVID-19, tínhamos que disponibilizar vagas para todos”. Hélia Manasse explica como foi a gestão do espaço:

“Para responder a todos, nós tínhamos que dividir o número de vagas, diariamente, e disponibilizávamos para cada hospital. À que íamos tendo altas, informávamos que é para preencher as vagas que sobravam. Para além desses grupos (que vinham de outros hospitais) contávamos com os que vinham de casa. Essas pessoas, também, ligavam para a central de emergência e eram orientadas a vir para cá. Depois da observação e reunindo critérios para internamento tínhamos que o fazer. Na falta, os hospitais acabavam ficando com os doentes positivos nos centros transitórios até haver vaga”, esclareceu a directora do Hospital Geral da Polana Caniço.

O número de internamento disparou e as mortes não ficam para atrás, um dos momentos mais tristes para Hélia Manasse, pois “ainda que seja uma pessoa a perder a vida é doloroso. Então, imagina receber um paciente, lutar pela sua vida e no fim não ganhar, é triste. Comparando com o início, nestes últimos meses, nós tivemos que ser fortes, pois a nossa taxa de mortalidade triplicou”.

A COVID-19 encontrou todos desprevenidos e depois de um ano a lidar com ela, deixa um grande aprendizado para os profissionais de saúde. “Por ser uma doença nova, aprendemos a correr mais. É verdade que nós já tínhamos sido treinados em emergência médica, mas com essa pandemia aprendemos a gerir conflitos entre nós e a comunidade, a não estar na rotina, a ler mais, a investigar para ajudar a cada dia os nossos pacientes”, apontou Hélia Manasse.

E, as experiências com a primeira e segunda vagas de COVID-19 serviram, igualmente, para preparar o centro de Isolamento da Polana Caniço para uma eventual terceira onda. “Temos recursos humanos suficientes, equipamentos disponíveis, medicamentos que nós usamos para o protocolo de tratamento para os pacientes com Coronavírus e sempre que há dificuldades solicitamos a Central de Medicamentos. Então, não temos dificuldades, neste momento, para responder qualquer eventualidade que for a surgir”.

Ironia ou coincidência, o facto é que o número de casos com COVID-19 tende a reduzir no país e tal reflecte-se na redução de pacientes internados que, neste momento, está abaixo da metade da sua capacidade.

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