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Três feridos em mais um ataque armado em Sofala

Três pessoas ficaram feridas, sendo duas com gravidade, num ataque armado ocorrido na manhã de hoje a um autocarro com passageiros, no distrito de Gorongosa, província de Sofala. A Polícia mantém o discurso de que a Renamo é responsável pela incursão armada.

 As vítimas seguiam num autocarro designado “metro-bus fretado”, o qual transportava membros de uma igreja como destino à província do Niassa.

Chegados à zona de Matenga, próxima de uma posição das Forças de Defesa e Segurança (FDS), a viatura foi emboscada por homens armados não identificados, segundo relatou, telefonicamente, ao “O País”, um dos sobreviventes.

“Encontrámos cinco homens sentados nas pedras” mais ao alto da região de Matenga, atravessámos”, relatou o interlocutor, acrescentando que “em frente encontrámos outros” homens armados. “Quase a passarmos por eles, os de cima começaram a disparar” e atingiram o vidro do autocarro em que viajámos. Três pessoas ficaram feridas”.

O médico-chefe do Hospital Distrital de Gorongosa, Jeremias Alfândega, confirmou “O País” a entrada na unidade sanitária de três vítimas do referido ataque armado.

“Deram entrada três feridos. Um deles teve uma perfuração a nível de glúteo (nádega) esquerdo, o que imobilizou uma parte do corpo. A segunda pessoa teve uma perfuração na mão esquerda”, disse Alfandega, referido que a terceira vítima foi observada e teve alta hospitalar. Seguiu viagem no autocarro atacado.

 

POLÍCIA ATRIBUI AUTORIA DO ATAQUE À RENAMO

Um forte contingente da Polícia, chefiado pelo comandante provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Sofala, deslocou-se ao local, cerca de oito horas depois do ataque.

O objectivo, de acordo com Paulick Ukacha, era perceber de perto o real impacto do ataque, bem como colher das populações circunvizinhas a maneira como os atacantes agiram.

O comandante provincial da PRM revelou ainda que foi a partir da interacção com a população foi possível ter-se a certeza de que os ataques naquela zona têm sido praticados por homens armados da Renamo, uma vez que os cidadãos ouvidos informaram que “os homens armados estavam trajados de farda verde e todos sabemos que quem usa essa farda são homens armados da Renamo”.

O número um da Polícia em Sofala apelou à população e aos automobilistas a colaborarem com as autoridades, sempre que desconfiarem de alguma movimentação estranha de homens armados nas zonas de ataques.

POPULAÇÃO ABANDONA COMUNIDADE DEVIDO À INSEGURANÇA

A população da localidade de Matenga, no posto administrativo de Púnguè, em Gorongosa, está a abandonar as suas casas, refugiando-se nas matas, por temer os ataques armados, que, segundo relataram, ocorrem diariamente naquela zona.

Matenga localiza-se a cerca de 40 quilómetros da vila de Gorongosa, pouco depois do rio Púnguè, nas proximidades da Estrada Nacional número seis (EN6). Nos últimos dias, Matenga tornou-se palco de emboscadas perpetradas por homens armados contra alvos civis e militares.

A população diz que vive dias de medo e incerteza, devido ao recrudescimento das incursões armadas. Maior parte dela já abandonou as suas casas.

“Como sabem, quando há disparos ninguém fica por perto. Fugimos com as nossas crianças para as matas e assim que os disparos terminam regressamos às nossas casas”, contou Gilda Mabuleza, uma das pessoas quase diariamente dormem nas matas e ao amanhecer regressar às casas, por medo e receio do pior.

Naquela região, as bancas encerradas denunciam igualmente o abandono da actividade comercial. A principal fonte de renda tem sido a venda do carvão vegetal, que mesmo assim não chega a render, uma vez que ninguém pára comprar por temer os ataques.

Aliás, o medo é generalizado e várias regiões de Manica, onde tem havido ataques. No distrito de Gondola, por exemplo, a actividade comercial pode estar afectada nos próximos dias caso a situação prevaleça, principalmente na EN6. Em Gondola, até a passada sexta-feira contabilizavam-se cinco camiões de carga diversa atacados, de acordo com os empresários da zona centro.

Por conta do recrudescimento da violência armada em Manica e Sofala, a Associação dos Camionistas de Moçambique emitiu um aviso, que já circula nas redes sociais, alertando aos automobilistas para só circularem das 07h00 às 17h00. O contrário é desaconselhado, “devido à situação político-militar”.

A agremiação recomenda que o parqueamento de camiões e autocarros seja feito em lugares seguros.

Os ataques armados começaram em Agosto último nas províncias de Manica e Sofala e já houve oito vítimas mortais, dezenas de feridos e várias viaturas atacadas. Estes são os dados conhecidos, publicamente, e confirmados pelas autoridades policiais.

 

RENAMO E JUNTA MILITAR NEGAM AUTORIA DE ATAQUES

Semana finda, o líder da Renamo, Ossufo Momade lançou responsabilidades ao Estado e à Junta Militar, dirigida por Mariano Nhongo. Para o líder do maior partido da oposição, não é sua culpa quando o Governo “deixa que o jacaré cresça”, em alusão a Nhongo.

“Quando Nhongo levava jornalistas, o Estado moçambicano via e ouvia os discursos trazidos pela comunicação social. Quero deixar claro que nada do que está a acontecer é da responsabilidade de Ossufo Momade”, afirmou Ossufo Momade, à imprensa, depois de um comício popular que orientou na cidade de Quelimane.

“Quando fui vítima de ameaça de morte por Nhongo em nenhum momento o Estado reagiu. Aliás, muitas pessoas se riram do que Nhongo estava a fazer. Hoje, se o Estado deixa que o Jacaré cresça, já não é da responsabilidade de Ossufo Momade. E hoje estamos a acompanhar o que está a acontecer”, disse o presidente do maior partido da oposição, apelando para que o Estado leve “com seriedade” os ataques armados e “os seus serviços” de inteligência devem funcionar para “garantir a soberania do povo”.

Por sua vez, Mariano Nhongo, dirigente da autoproclamada Junta Militar, refutou as acusações do presidente da Renamo e perguntou se alguém já o viu promover ataques. “Eles viram-me? Eu não ataquei nenhum carro. Quando me atacarem eu respondo. Eles sabem onde eu estou”.

Para Nhongo, os responsáveis pelas incursões armadas são homens da Renamo, supostamente porque há “bases que ainda estão nas mãos de Ossufo”. Segundo ele, os militares do maior partido da oposição “não estão comer e nem têm dinheiro”, por isso, podem promover ataques para conseguir mantimentos.

 

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