Os trabalhadores, cuja natureza de trabalho não lhes permite chegar a casa antes do recolher obrigatório, denunciam ameaças e intimidações por parte da Polícia, na cidade de Xai-Xai, província de Gaza.
Xai-Xai, uma cidade que, à hora vinte e duas, pára ou pelo menos reduz o seu ritmo frenético para cumprir o recolher obrigatório. Não há estabelecimentos abertos, as ruas estão quase desertas, mas há quem, pela natureza do trabalho, é forçado a desafiar as regras do recolher obrigatório.
“Acabo de sair do serviço, mas as autoridades complicam-nos. Contudo, não temos outra alternativa porque nós estamos a voltar do trabalho e não será isso que nos fará deixar de trabalhar”, contou Edmilson Banze.
Edmilson Banze é padeiro e não são todos os dias em que consegue produzir o pão e chegar à sua casa antes do toque do recolher obrigatório, um facto dificilmente compreendido pela Polícia. Questionado se mostra, ao ser interpelado, o credencial aos agentes da polícia, respondeu que “sim, nós mostramos. Alguns respeitam e outros, nem por isso”, pelo que até “ameaçam-nos, dizendo que, no dia seguinte, nos colocarão a dormir na esquadra.”
Como se as complicações da Polícia não bastassem, os jovens devem chegar às suas casas a pé, porque, depois das 22h00, não passa nenhum transporte, como testemunha António Manhiça “a esta hora, não temos transporte. Só daqui para o bairro Dois Mil, é uma longa distância. O nosso patrão não aceitou que saíssemos mais cedo. Pedimos para despegar às 21h00, mas não aceitou. Daqui até ao nosso bairro são treze quilómetros a pé.”
Este é o retrato de uma cidade que tenta adaptar-se ao novo normal e as medidas restritivas impostas pela pandemia da COVID-19.