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Total retira trabalhadores de Palma e tudo volta à “estaca zero”

As empresas envolvidas nos mega projectos de gás na bacia do Rovuma  estão a retirar os seus trabalhadores por causa dos ataques terroristas registados na última quarta-feira na vila de Palma. Na manhã deste domingo, chegou a Pemba um navio que, para além desses trabalhadores, carregava alguns populares. A Total volta a recuar no reinício da construção da fábrica em Afungi.

Chegou ao Porto de Pemba por volta das 9h50 da manhã deste domingo um navio que saiu de Palma no sábado, transportando cerca de 1300 pessoas, na sua maioria trabalhadores das multinacionais envolvidas nos mega-projectos de gás natural na bacia do Rovuma e alguns populares, num número muito reduzido e não especificado.

A Polícia impediu a captação de imagens e chegou mesmo a expulsar a imprensa do recinto portuário e, mais tarde, proibiu  a permanência dos jornalistas nas redondezas do porto. Entretanto, conseguimos constatar que, durante mais de duas horas, ainda permaneciam muitas pessoas no navio.

Enquanto isso, a via que dá acesso ao porto registava a presença de muitos populares que procuravam saber dos seus familiares que estão sitiados em Palma desde quarta-feira, quando se registou o ataque e cortaram-se as telecomunicações.

Muarabo Tambo reside em Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, mas trabalha na Península de Afungi/Palma onde decorrem os preparativos para o arranque da construção, em terra, da fábrica de liquefação de gás natural, assim  como do porto onde deverão atracar os navios cargueiros.

Conta que saiu para Pemba no dia 28 do mês passado em gozo de folga laboral e deixou, em Palma, a esposa e os filhos que ficaram a vivenciar o drama do ataque surpresa dos terroristas na tarde da quarta-feira. “Comuniquei-me com minha esposa às 16 horas da quarta-feira e disse que quem estava a (contra)atacar eram os militares”. Foi a última conversa, breve, que tiveram, porque se seguiu um apagão nas comunicações até hoje, o que o deixa angustiado.

“Estou à espera da minha vizinha de Palma, só que ainda não confirmei se ela chegou ou não”, disse uma mulher que não quis identificar-se e também permanecia no meio de tantas outras pessoas que aguardavam ansiosamente por alguma informação quando se esperava pela saída dos passageiros do recinto portuário.

Um forte contingente policial de várias especialidades, incluindo a canina, foi destacado para aquele local onde se encontravam os populares, assim como militares armados – um cenário que retrata uma província sob tensão.

A nossa equipa de reportagem esteve no Aeroporto Internacional de Pemba e, mesmo sob as ameaças da Polícia, conseguiu registar algumas imagens do desembarque dos passageiros das multinacionais, autocarros, para a viagem aérea que marca a sua saída de Cabo Delgado.

Lembre-se que, em Dezembro do ano passado, a Total retirou os seus trabalhadores depois de um ataque próximo do seu estaleiro na Península de Afungi.

No dia 23 de Março corrente, aquela petrolífera anunciou a retoma do projecto de construção da fábrica de liquefação de gás natural, depois de um entendimento com o Governo de Moçambique que resultou na criação de uma zona de protecção especial, num perímetro de 25 km em torno do projecto da fábrica.

No dia seguinte, 24 de Março, os terroristas atacaram a vila de Palma, a cerca 30 km do estaleiro. No dia 27, a Total emitiu um outro comunicado a anunciar a suspensão dos trabalhos que deviam retomar em Abril.

O desenrolar dos acontecimentos pode mostrar que não se trata de meros acasos, senão de um plano bem estruturado que visa chegar ao “coração” dos projectos de gás e sabotar o seu avanço. Até porque a nossa reportagem apurou que, noutros distritos, onde também se registavam os ataques, a situação actual é de relativa calma, dando a entender que o avanço para Palma desvenda esse plano dos terroristas e seus cérebros.

No comunicado do dia 23, a Total havia assumido o compromisso de avançar com as obras para permitir que a primeira encomenda de gás natural liquefeito fosse entregue em 2024. Com os novos desenvolvimentos, volta-se, literalmente, a “estaca zero”.

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