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Tony Gravata: “Selecção é, sim, para ganhar dinheiro”

O presidente do Sindicato Nacional dos Jogadores de Futebol, Tony Gravata, defende que, ao contrário do que o Secretário de Estado do Desporto, Gilberto Mendes, disse esta segunda-feira durante o encontro com a Federação Moçambicana de Futebol, no qual os jogadores estiveram ausentes, que a selecção é, sim, um sítio para ganhar dinheiro, pois os jogadores são profissionais.

Mesmo sem afastar os valores patrióticos sistematicamente defendidos por Gilberto Mendes, Tony Gravata entende que não se pode minimizar o esforço dos jogadores, que durante um mês estiveram longe das suas famílias para representarem a selecção nacional.

“Acho que tenho que dizer de forma directa ao secretário de Estado do Desporto, Gilberto Mendes, que o jogador de futebol está para ganhar dinheiro na selecção nacional. É melhor que as pessoas metam isso na cabeça, principalmente o secretário de Estado. O jogador de futebol é profissional”, defende Gravata.

Para o presidente do sindicato, os jogadores não só devem ganhar dinheiro na selecção, assim como eles metem dinheiro nos cofres da Federação Moçambicana de Futebol, tendo como base, por exemplo, os 400 mil dólares disponibilizados pela Confederação Africana de Futebol (CAF), em face da qualificação dos Mambas para os quartos-de-final do CHAN.

Gravata entende que o diferendo entre a FMF e os jogadores atingiu um ponto de saturação porque o organismo que gere o futebol moçambicano assim o quis, ao não definir de forma clara os processos de premiação dos jogadores.

“Ficamos mais decepcionados com a postura das pessoas que estão à frente destas instituições, que, no lugar de pacificar, continuam a atirar achas para a fogueira, sempre procurando denegrir a imagem dos jogadores”, lamenta, ajuntando que “pensei que com os novos intervenientes no processo a ideia fosse encontrar uma solução e não o contrário”, explica.

Sobre o argumento da Federação Moçambicana de Futebol segundo o qual a instituição não tinha conhecimento de que a CAF disponibilizaria um valor às federações, Gravata diz que não constitui a verdade, pois os regulamentos do organismo reitor do futebol africano são claros nesse aspecto.

“As regras são pré-definidas. A CAF, dentro da sua transparência, tem partilhado toda a informação com as federações. Há premiação para cada uma das fases, inclusive para a preparação da participação das selecções nas competições sob sua égide”, explica Tony Gravata.

“ESTÁ-SE A ATACAR O PROBLEMA POR CIMA”

Tony Gravata lamenta o facto de o problema que coloca os jogadores dos Mambas e a federação em rota de colisão estar a ser tratado por cima. Ou seja, as pessoas não procuram saber da génese do mesmo. Diz ainda que há muita coisa que poderia ter sido evitada, caso a FMF tivesse agido de forma didática.

“O espírito dos gestores que estão à frente do processo deveria ser de pacificação. O aconselhável seria conversar, mas quando a delegação regressou da Argélia, em vez de juntar as partes sem ameaças e coações como tem vindo a acontecer, primou-se por outra via”, diz Gravata.

O presidente do sindicato questiona os critérios da criação da comissão de inquérito por parte da Federação Moçambicana de Futebol.

“O que é que esta comissão vai fazer, se a mesma já decidiu suspender os jogadores? E mais, a FMF já disse que não vai pagar aos jogadores. A SED também já apareceu [a dizer] que os jogadores não devem ir à selecção com o intuito de ganhar dinheiro”, questiona.

Gravata diz não entender como é que a comissão é composta por elementos da federação, por sinal, parte interessada no processo. Em relação ao acordo assinado pela FMF e os jogadores na Argélia, em que se comprometia a pagar o valor, que foi posteriormente “rasgado” em Maputo, Tony Gravata considera que faltou transparência por parte do organismo reitor do futebol moçambicano.

“Julgo que ainda há condições para que se encontre uma solução para este problema. Penso também que é preciso que quem está à frente do processo tenha consciência de que conduziu mal este assunto. A reacção dos jogadores pode não ter sido a mais correcta possível, mas faltou discernimento da parte dos dirigentes da FMF”, explica Gravata.

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