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“Tenho cancro, mas vou melhorar no próximo mês”, a esperança de uma criança que luta pela vida

Pelo menos duas crianças morrem a cada mês devido ao cancro infantil e outras 10 são diagnosticadas com a doença no Hospital Central de Maputo (HCM).

Esta segunda-feira, Moçambique e o mundo deverão parar para assinalar o Dia Mundial de Luta Contra o Cancro, sob o lema “Eu sou e eu vou”, assim como o Dia Internacional da Criança com Cancro.

Só a palavra cancro mete medo. Já a doença, é terrível. O cancro infantil é pavoroso por atingir até as pessoas mais frágeis.

É pouco falado, o cancro infantil tem cura, mas se for diagnosticado tarde pode ser fatal.

Hermínia Muianga e a sua filha de sete anos de idade travam uma batalha contra a doença no HCM.

Uma apoiada à outra, há um ano que subir as escadas do Serviço de Pediatria do maior hospital do país, rumo ao segundo andar, onde se localiza o Serviço de Hemato- Oncologia, virou rotina para mãe e filha.

“A minha filha tem linfoma, um cancro maligno”, desabafa Hermínia Muianga, que conta que o cancro começou a molestar a menina em 2018, na cidade de Chimoio, província de Manica. A criança não sentia nenhuma dor, mas alguma coisa chamava atenção e preocupava os pais: um inchaço no pescoço.

“Estamos nessa rotina do hospital há quase três anos”, narrou a mulher, acrescentando que a filha foi diagnosticada com tuberculose. Fez o tratamento, mas “não tinha tuberculose e o inchaço não desapareceu. Fomos à Beira. Lá desconfiaram que fosse um linfoma e mandaram-nos” para o HCM.

Segundo a mãe da menina, esta “fez os exames e a biopsia”, tendo se descoberto que se tratava de cancro.

Não foi fácil receber a informação, mas Hermínia confessa que foi um alívio saber o que causava o sofrimento da filha, pese embora sem dor. A mulher diz ainda que ao mesmo ficou arrasada ao receber a notícia de que o cancro já estava num estado avançado.

Chorando, emocionada, a mãe da menor contou que inicialmente o tratamento teria duração de 10 meses e no fim desse tempo “a médica disse que o cancro já havia se alastrado do pescoço, para barriga e para o fígado. Foi um grande choque receber esta notícia”.

Com a doença da menina num estado avançado, Hermínia e a filha mudaram completamente a rotina, incluindo de cidade. De Chimoio para Maputo. Hermínia parou de trabalhar e sua filha já não estuda. O pior de tudo isso é a discriminação que a pequena sofre por não ter cabelo, por conta da quimioterapia.

Hermínia chega a pensar no pior, que a filha pode não resistir à doença. Contudo, de uma coisa a menina tem certeza: “tenho cancro, mas vou melhorar no próximo mês”, eis a esperança de uma menina que não para de lutar e sonha um dia deixar de ter o HCM como segunda moradia.

De acordo com a directora do Serviço Hemato- Oncologia do HCM, Faizana Amodo cerca de 10 crianças com cancro são admitidas, no serviço que dirige, mensalmente e a leucemia é o cancro mais comum, seguido do linfoma, (o cancro que atormenta a filha de Hermínia).

“As idades mais afectadas pelo cancro são dos cinco aos 10 anos. Em média, duas crianças morrem todos os meses por conta da doença, mas são as crianças que chegam aqui numa fase muito tardia, porque quando o diagnóstico é feito tarde, já não há muita coisa a fazer”, referiu.

Para a médica, o diagnóstico precoce da doença pode ajudar e muito na recuperação das crianças. Por isso, alerta para os sintomas: perda de peso, aumento do volume abdominal, febre prolongada, inchaços que crescem e não melhoram, dor de cabeça com vómitos constantes, aumento do volume da barriga.

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