O alerta é do economista moçambicano, Hipólito Hamela, que diz ser mais fácil combater o custo de vida que poderá surgir com o encerramento das fronteiras, que controlar a pandemia COVID-19 bastante mortífera caso entre em Moçambique.
Como sempre, bem-disposto e sem reservas, o economista moçambicano, Hipólito Hamela, falou ontem ao “O País Económico” sobre o impacto do COVID-19. Logo no início da sua intervenção deixou bem claro que a pandemia vai trazer grandes danos à economia nacional, caso não seja levada a sério.
No entender de Hamela, o país devia encerrar rapidamente as suas fronteiras para evitar a entrada do vírus bastante perigoso. Essa atitude prudencial, na sua opinião, poderá salvar o país, que possui várias fragilidades, de uma crise maior que pode ser causada pela pandemia, caso entre na chamada “Pérola do Índico”.
“Os países estão a se fechar. Se quer a minha opinião, eu acho que também devíamos nos fechar, antes de termos o Coronavírus em Moçambique. Angola fechou-se hoje, Guiné-Bissau fechou-se, São Tomé está a se fechar, Cabo Verde fechou-se, União Europeia fechou-se, EUA fecharam-se, estamos à espera de quê nós também para nos fecharmos”, questiona o economista.
Na verdade é uma questão que muita gente se faz, pelo menos nas ruas de Maputo, capital do país, mas ainda sem respostas das autoridades nacionais. Hamela diz não ter dúvidas que ao fechar as fronteiras, entre elas, a terrestre de Ressano Garcia, que é a maior do país, os preços do tomate, da cebola e de outros produtos vão disparar. Por isso, já pensou na saída para minimizar isso.
“Temos que montar uma forma inteligente para o movimento de mercadorias continuar, mas filtrado em termos das pessoas que às acompanham e temos que conter o movimento de pessoas. O movimento de pessoas para o turismo significa ‘no business’ – (sem negócios, na língua portuguesa), ‘no deal’- sem acordos (na língua portuguesa). Isso é o que eu posso dizer”, refere Hipólito.
O economista prevê que os preços dos produtos e serviços de primeira necessidade que já começaram a subir se agravem no próximo mês e depois do próximo. Entretanto, diz estar com mais medo da entrada do vírus do que da não entrada de produtos vindos de fora do país, já que para comer e satisfazer muitas outras necessidades, o país tem recorrido à importação.
Numa primeira fase, o impacto da subida de preços poderá se sentir mais nas cidades capitais que nas zonas rurais, considera Hamela.
“Pense na sua avó que está em Jangamo. Se fecham a fronteira, quanto tempo vai passar até que ela não tenha açúcar em casa dela? Penso que não vai ter esse problema porque o açúcar vem de Xinavane. O arroz, talvez, porque ela também não usa tanto assim o arroz. Ela usa a farinha de milho e mandioca. Não estou a ser populista, estou a ser franco.
Tenho mais medo do vírus, do que da inflação do preço do tomate, do arroz, da cebola e da batata que não há-de-vir da África do Sul”, sublinha o economista moçambicano.
A posição de Hamela é sustentada com a possibilidade de uso de bens substitutos nacionais, no lugar dos habituais importados. Por exemplo, para substituir o trigo, o economista diz que pode se comer a mandioca e a batata-doce. E para substituir a carne importada, muitas vezes do Brasil, diz haver frango nacional.
“Mas não há substituto da vida. É por isso que encarecidamente eu espero que agente tome esse assunto com muita seriedade e agente previna a entrada do vírus. A inflação é algo que se combate e a medida que vamos encontrando substitutos, então vamos dependendo menos desses produtos cujos preços vão subir”, defende o economista.
Depois de se ultrapassar a crise do COVID-19, Hamela diz que é necessário pensar a sério na capacidade do país produzir comida porque neste momento encontra-se à prova. Diz ainda que não basta de falar da “marca nacional” ou o do carimbo “Made in Mozambique”, é necessário colocar a mão na massa e produzir a sério produtos e serviços para alimentar a Nação.
Outro aspecto apontado pelo economista são as acções que estão a ser levadas pelos países desenvolvidos para ajudar a economia. Dá o exemplo dos Estados Unidos que anunciaram fundos bilionários para ajudar a economia, assim como a União Europeia que anunciou também valores bilionários para ajudar os países a serem resilientes. Fala também de países que estão a anunciar linhas de crédito para salvar as empresas que estão a enfrentar grandes dificuldades.
No que diz respeito a suspensão de voos para Moçambique, Hipólito Hamela, antevê situações de grandes dificuldades para as empresas nacionais, como por exemplo as companhias aéreas e as estâncias turísticas que vão enfrentar problemas de pagamento de salários, assim como, para cobrir os custos fixos das suas operações, como por exemplo, a electricidade. Diz o economista que tem vindo a receber chamadas telefónicas de operadores hoteleiros da província de Inhambane que queixam-se de cancelamentos de reservas e não sabem até quando vão lidar com a situação, vivendo assim na incerteza.
Esta análise do economista moçambicano, Hipólito Hamela, foi feita ontem por via de telefone.