A emoção no seio da classe é, segundo os actores da cidade de Maputo ouvidos pelo jornal “O País”, um alívio, pois o anúncio do Chefe de Estado, há muito era esperado pelos fazedores de teatro.
Segundo Dadivo José, diferente do que o público pode estar a pensar, não é apenas o dinheiro que interessa à classe artística neste retorno aos palcos. A causa é mais profunda e tem a ver com o sentimento artístico.
“Havia alguma ociosidade por parte dos artistas, por causa da ideia de ficarmos quase um ano sem estarmos no palco e fazermos o que tanto gostamos. Ficávamos com tédio e era muito chato termos ideias e não podermos materializar da forma como sabemos – encenar”.
O actor foi mais longe e disse que a decisão tardou, mas o importante, agora, “é correr atrás do tempo perdido e começar a trabalhar, sem se esquecer da responsabilidade que os artistas têm de ensinar ao público as boas práticas”.
Apesar de abertos os palcos, Dadivo José é, também, cauteloso ao afirmar que, “apesar de termos a liberdade, temos de pensar e saber como usar a liberdade”.
Foi com muito regozijo que Rafael Vilanculos, produtor do Festival de Teatro de Inverno (FITI), recebeu a notícia da abertura do teatro.
O evento que dirige tem o início já marcado para a próxima sexta-feira, com a duração de dois meses. Vilanculos contou que os preparativos do evento foram ao detalhe e com a “boa nova” tudo vai encaixar-se.
Agora, com a abertura dos palcos, o evento vai tomar uma nova roupagem – será presencial e online, mudando, assim, positivamente, o roteiro do evento.
“Não sabíamos o que ia acontecer, em relação à abertura das salas de teatro, ainda que com uma capacidade reduzida, é uma forma de dizer às pessoas que já podemos voltar ao teatro”, referiu Rafael Vilanculos.
Vilanculos, convicto, afirmou que o feeling nos actores e a vontade de ensaiar renasceram, por isso, em breve, novas agendas de espetáculos serão desenhadas.
Angustias à parte, Rafael conta que, com a pandemia, os artistas aprenderam a reinventar-se no que tange à necessidade de usar as ferramentas digitais para salvaguardar e expandir as artes.
A propósito, este é um dos temas a serem debatidos no FITI. A conversa vai girar em torno do dilema da sobrevivência do teatro em tempos da COVID-19.
“Mesmo quando tivermos as salas cheias, iremos continuar com as transmissões online, porque, através das plataformas, pode-se assistir em todo o mundo”.
Os artistas alertam ainda a necessidade de não correr “com muita sede ao pote”, justificando que é preciso que se tenha a calma. A ideia é conciliar as expectativas dos artistas e do público.
“Boa parte do público ficou sem poder de compra, para além de que é preciso realimentá-lo o gosto pelo teatro”, consideram os artistas.
Como se gritasse por socorro, no Cinema Gil Vicente, as cadeiras estão empoeiradas. O palco, até anteontem, estava vazio, com um e outro móvel estragado. É um cenário que pode mudar num “piscar de olho” e a solução são os espetáculos.