Por mais que não sejas formalmente associado, é inevitável não tomar conhecimento das três listas que pretendem dirigir os destinos da Associação de Escritores Moçambicanos (AEMO) nos próximos três anos. Os telemóveis andam pejados de cartazes com fotografias e slogans, autênticos chavões que nos remetem ao mesmo cenário vivido na nossa política doméstica: exposição de pessoas e não de ideias.
Ainda que se esteja a pensar num fórum próprio para o efeito, nada obsta que haja um debate público partilhado nos mesmos canais pelos quais esses cartazes passam. Das duas, uma: se há fórum próprio para o debate de ideias, que haja, igualmente, fórum próprio para a partilha de fotografias e slogans.
Penso nestas coisas e na mensagem que construo na minha mente cada vez que vejo estas listas. Na ausência da divulgação de ideias, salvo uma e outra lista que o faz, detenho-me nas pessoas: talvez o fim máximo seja esse. Nunca se sabe!
Cá para mim: (1) ou o meu networking no meio literário está cada vez maior ou (2) os “underdogs” querem controlar a narrativa a partir do mainstream.
A primeira hipótese tem um argumento que sustenta, igualmente, a segunda. Os nomes que constam das três listas são de figuras que não me são distantes. Não me refiro, objectivamente, aos nomes do topo, mas aos dos integrantes que, em síntese, constituem a engrenagem através da qual a máquina poderá seguir nos próximos tempos.
A segunda hipótese que, tal como disse, sustenta-se, também, pelo argumento anterior, surge de uma orfandade que há muito se vive no meio literário se se considerar o objectivo macro da AEMO: defender os interesses dos escritores nacionais e promover a literatura moçambicana.
Se formos a examinar, sem paixões, a acção desta agremiação neste quesito, poderemos questionar muita coisa que não caberia nestas linhas que se pretendem breves. Mas há uma pergunta basilar que escancara tudo: quantos (jovens) escritores com uma crescente relevância no nosso meio tiveram os seus interesses defendidos pela AEMO?
Sim. A resposta é essa. Portanto, alguns destes que não nutrem paixões de adolescência pela AEMO (do passado até hoje) constam destas listas. Seguramente, a agenda é clara. Há um sentimento de se estar na periferia e pensa-se que dirigindo os destinos da AEMO se possa mudar tanto o sentimento quanto o cenário da cada vez mais crescente polarização.
Independentemente da legitimidade da leitura que faço desta azáfama, penso que a consciência dos membros destas listas podia reservar alguns minutos para reflectir sobre a sua eventual acção futura:
(1) num contexto em que são escassos ou quase inacessíveis os meios tradicionais de partilha de textos literários (jornais, revistas, antologias, etc.) e os escritores se fazem conhecer no mercado literário nacional e internacional “à sua maneira”;
(2) neste tempo em que se faz literatura sem uma filiação formal e efectiva com a AEMO e fora do principal espaço midiático (Maputo);
(3) na constante busca pela pluralidade associativa com igual legitimidade para defender os interesses dos escritores nacionais e de promover a literatura moçambicana.
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