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Taruma leva Criação do fogo ao “fundo” do Oceanos

O poeta Álvaro Fausto Taruma é um dos 10 finalistas do Oceanos – Prémio de Literatura em Língua Portuguesa.  O autor destaca-se na edição 2024 da iniciativa brasileira com o seu mais recente livro de poesia, Criação do fogo, editado pela Alcance Editores.

 

A notícia chegou-lhe de forma inesperada. Já tarde, a dormir, Álvaro Fausto Taruma  recebeu ligações de amigos. Quando viu que as ligações eram provenientes de pessoas do meio literário, intuiu imediatamente que se tratava de algo relacionado ao Prémio Oceanos. Até  porque o poeta sabia que a lista dos finalistas seria publicada em Outubro.

A intuição, de facto, comprovou-se. Na curta lista de 10 finalistas do Prémio Oceanos, um dos mais importantes em língua portuguesa, Criação do fogo, de Álvaro Fausto Taruma, é um dos livros cuja qualidade é reconhecida pelos membros do júri. Por isso mesmo, o poeta recebeu a notícia com muito agrado, mas sem euforia desmedida. “Acho que, depois de uma caminhada literária que já se faz longa, uma nomeação assim é, claro, algo gratificante, mas tento manter a serenidade e as expectativas equilibradas. Para mim, o mais importante é ver que o livro está a seguir o seu próprio curso, a encontrar o seu público e a realizar a sua própria viagem. Essa independência da obra é fundamental para mim, enquanto autor, e receber esta nomeação só reforça essa sensação”.

Desde que o livro foi incluído na lista dos 60 semi-finalistas do Oceanos, em Agosto, houve um momento em que Taruma pensou que poderia chegar ao fundo do oceano, quer dizer, à final do prémio. Mas esclarece: “Não é uma questão de falsa modéstia – eu confio na qualidade do livro e acredito no conceito e na mensagem que carrega. No entanto, decidi deixar que tudo seguisse o seu próprio fluxo. Curiosamente, o livro passou quase despercebido em Moçambique, até diria mal recebido, uma vez que aparentemente ninguém quer falar dele, o que poderia até desmotivar-me, mas, para mim, isso não define o seu valor”.

Na percepção de Álvaro Fausto Taruma, estar na final é, acima de tudo, uma confirmação de que vale a pena acreditar no próprio trabalho, na dose de criatividade e imaginação que deposita, mesmo que leve tempo até ser plenamente compreendido. E acrescenta: “Sinto que esta nomeação transcende o meu nome; ela representa um movimento, uma geração de escritores que está a emergir com força em Moçambique, como a malta do Kuphaluxa, que, através da dedicação e criatividade, prova que a literatura não tem idade. Esta é uma conquista para todos os que acreditam no poder da palavra e no trabalho persistente, assim como para quem tem na poesia o seu lugar de fala e de participação cívica”.

Taruma acredita, com efeito, que qualquer autor gostaria de ganhar o prémio, e, claro, essa possibilidade traz uma satisfação especial. Entretanto, mais do que o prémio em si, o autor de Criação do fogo pensa que a nomeação simboliza algo maior para a literatura moçambicana e para os leitores. “Este tipo de reconhecimento serve como um farol que nos encoraja a acreditar no nosso potencial. Estar nesta lista é, para mim, uma maneira de inspirar e de criar essa ligação com o público. Além disso, esta nomeação chega num momento especial, pois tenho um livro a ser publicado em breve, no Brasil, e, quem sabe, o facto de estar entre os finalistas ajude a abrir portas e a dar visibilidade ao meu trabalho. Sinto que, de uma forma ou de outra, esta nomeação já trouxe ganhos importantes para mim e para a literatura que represento”.
Nesta edição do Oceanos, há três africanos na final. Além de Taruma (único autor moçambicano), há um romancista, Germano Almeida (Cabo Verde) e mais um poeta, José Luiz Tavares (Cabo Verde). Rodeado de bons nomes da arte africana e da CPLP, Taruma sente orgulhoso pelo caminho que percorreu até aqui.

Nesta edição, o Prémio Oceanos recebeu 2619 livros de autores residentes em 28 países. Desse universo, 1204 são poesias, 836 são romances, 389 são contos, 156 são crónicas e 34 são dramaturgias. Os livros foram publicados por 459 editoras de seis países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Itália, Moçambique e Portugal.

Apurados os finalistas, o júri vai eleger dois vencedores, um de poesia e outro de prosa, que serão anunciados em Dezembro, em cerimónia realizada no Itaú Cultural. A premiação é de 150 mil reais (cerca de 1 650 000 meticais) para cada um dos laureados.

O Oceanos – Prémio de Literatura em Língua Portuguesa foi criado no Brasil, em 2003, inicialmente com o nome de Prémio Portugal Telecom de Literatura Brasileira.

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