Com os olhos quase a ganharem o azul do mar, e ainda imberbe, desembarcou há quatro anos em Lisboa, num rigoroso inverno a desmentir o habituê calor infernal da sua terra natal. Primeiro, estranhou. Depois, entranhou.
Concentrou-se no essencial. Era, afinal, uma jovem com enorme potencial por explorar. Sabia-o, e muitíssimo bem, José Leite, treinador do Quintas dos Lombos que ficara maravilhado com as suas exibições no Campeonato Africano de basquetebol sub-16, em 2016, no Madagáscar.
Em terras lusas, foi chegar, ver e vencer. E já contabiliza, ao longo destes quatro anos, igual número de títulos de campeã distrital de Lisboa na categoria sub-19 e indicações para o cinco ideal da prova.
Conta ainda no seu palmarés com o troféu da Taça da Federação, título conquistado após o Quinta dos Lombos derrotar, na final, a União Sportiva (47-44).
Mas há mais: foi preponderante, em 2018, para que a sua equipa se sagrasse vice-campeã da Liga Portuguesa de Basquetebol, tendo perdido com a União Sportiva por 2-0 nos “play-offs da final” (69-67, no jogo 1 e 64-61 no jogo 2) a melhor de três jogos.
Antes da lesão que a impediu de jogar a final, arrasou no jogo 1 dos “play-offs” das meias-finais frente ao Benfica, arrancando 14 pontos e quatro ressaltos em 22 minutos na quadra.
Não desistiu. Voltou a carga. Este ano, precisamente em Maio, foi vice-campeã em seniores femininos quando o Quinta dos Lombos perdeu com Olivais por 2-0 (68-61 no jogo 1 e 80-70 no jogo 2) nos “play-offs” da final.
“Faço uma avaliação positiva. Seria injusta comigo e com a minha equipa se fizesse uma avaliação negativa. Tivemos altos e baixos. Sempre usamos a frase de que quem acredita vai. Tivemos muitas baixas e fomos superando ao longo do campeonato. Falo de mim também porque só comecei a jogar na segunda fase do campeonato. Mas, feliz ou infelizmente, ficámos na segunda posição tanto nos seniores quanto nos juniores. Fomos finalistas vencidos”, avaliou.
Chanaya diz ainda que a Quinta dos Lombos que a equipa soube superar os momentos menos bons para fazer uma época assinalável. “Este foi um factor muito grande nos últimos jogos da final à melhor de três. A outra equipa estava melhor fisicamente e já vinha com mais jogos e bagagem. Para nós, que tivemos algumas paragens e lesões durante a época, era complicado”, complementou.
Outrossim, sagrou-se vice-campeã no escalão de sub-19, tendo sido indicada para o cinco ideal da prova. Motivo, naturalmente, de orgulho pelo reconhecido das suas qualidades.
“É sempre bom poder participar da equipa das cinco melhores jogadoras. Isso prova que o nosso trabalho é reconhecido e é notável. Mas não é aquilo que eu queria. Eu queria mesmo era ganhar o campeonato e sair de Portugal com o título de tricampeã nacional”, destacou.
Fazer o melhor no Mundial
Com apenas 17 anos, estreou-se na selecção sénior feminina que ocupou o quarto lugar no Campeonato Africano, em 2017, em Bamako, Mali. Terminou a prova com média de 3.8 pontos e 1.9 ressaltos/jogo.
Mas uma ruptura nos ligamentos cruzados impediu a valorosa extremo-poste de representar Moçambique no Campeonato Africano de sub-18, em 2018, momento que a marcou pela negativa.
Viu, numa noite de sonho, Moçambique bater Angola (53-49) e qualificar-se para final e assegurar a presença, pela primeira vez na sua história, de um Mundial de basquetebol sub-19.
“Foi uma ferida que, felizmente e graças a Deus, sarou com a nossa qualificação ao Mundial. Mas sempre costuma-se a dizer que, na vida, a gente não tem sempre o mesmo papel. E eu senti que, naquele momento, o meu papel não era como jogadora, ou seja, ajudar as minhas colegas dentro do campo. O meu papel era ajudar fora do campo e foi o que eu fiz. Felizmente, conseguimos a qualificação para o Mundial”, narra.
Recuperada e, em forma, sente-se pronta para ajudar Moçambique a ter boa prestação no Campeonato do Mundo, em que as “guerreiras” estão inseridas no grupo “A” juntamente com a Tailândia, Lituânia e Canadá. Com optimismo e calma que lhe são características, respira fundo e projecta esta competição planetária.
“As minhas perspectivas são muito elevadas. Temos trabalhado afincadamente para alcançar os nossos objectivos de levar a bom porto, como é óbvio. Infelizmente, não estamos a trabalhar dentro das condições que almejávamos. Mas não é por isso que vamos deixar de dar à cara a luta. Estamos com a Lituânia, Tailândia e Canadá. Eu acredito que, contra a Tailândia, podemos ganhar o nosso adversário. Diante da Lituânia, se estivermos concentradas e jogarmos taco a taco, podemos ganhar este jogo”, observou.
Para esta empreitada, o seleccionador nacional de basquetebol sub-18, Leonel “Mabê” Manhique chamou 23 atletas das quais sete evoluem no estrangeiro. Trata-se de Carla Budane e Shana Paxixi Sport Lisboa e Benfica), Chanaya Pinto, Soraya dos Santos e Célia Sumbane (Quinta dos Lombos), Noémia Massingue, Tylee Manuel Tyraa Manuel (EUA).
São jogadoras experientes e com outro traquejo competitivo quando comparado ao quadro nacional, pelo que há perspectivas de serem uma grande valia.
“Este leque de jogadoras pode trazer mais experiência à selecção nacional visto que participamos em condições, podemos assim dizer, muito mais fortes comparativamente as provas nacionais. Acreditamos que podemos trazer esta experiência e transmitir as colegas o sentimento de que as coisas não são tão fácies quanto parecem”.
Espanha: onde tudo acontece!
Atenções viradas para o Mundial, agora. Mas os olhos já piscam o futuro. Futuro, esse, que pode passar pela Liga Dia, ou seja, liga espanhola de basquetebol, onde já lá jogam as compatriotas Leia Dongue e Tamara Seda.
“Chanaya Pinto fez quatro anos em Portugal. Eu procuro, agora, sair de Portugal e atingir e deixar a minha marca. O meu sonho é jogar na Liga Dia, ou seja, Liga Espanhola de basquetebol. Na minha óptica, é a competição mais forte do Mundo”, manifestou o desejo a extremo-poste.
Sobre o seu regresso à competição, após vários meses no “estaleiro”, a valorosa basquetebolista diz ter sido marcada pela auto-superação.
“Foi renascer outra vez. No princípio, pensei que não seria fácil porque estava ansiosa em voltar a competir. Foi uma sensação muito estranha readaptar-me a minha equipa, enfim, as coisas que eu sabia fazer e que já não me saiam naturalmente. É uma fase de auto-superação minha. Acima de tudo, com o apoio das minhas colegas consegui voltar ao mesmo ritmo”, finalizou.