O Costa do Sol confirmou, na terça-feira, o fracasso na presente temporada futebolística, ao falhar o acesso à final da Taça de Moçambique, caindo aos pés da União Desportiva do Songo, perdendo por 1-3, em jogo das meias-finais da prova.
O descalabro vem numa altura em que os “canarinhos” ainda tentavam curar as feridas do Moçambola, em que falharam a sua conquista terminando a competição numa modesta e desprestigiante terceira posição para um clube da sua dimensão.
Feitas as contas, há onze anos que os “canarinhos” não vencem as duas competições mais importantes do país (Moçambola e Taça de Moçambique).
A última vez que o clube com mais títulos em Moçambique ergueu o troféu da maior prova futebolística nacional foi em 2019, ou seja, há cinco anos.
E desde 2018 que não conquista a segunda prova mais importante, portanto há seis anos. Após a última derrocada, o treinador do Costa do Sol, Horácio Gonçalves, em vez de entregar o peito às balas e assumir o fracasso, preferiu usar o caminho mais fácil.
O técnico português anunciou a sua saída do clube volvidas três épocas e meia.
Num discurso triunfalista, Horácio Gonçalves auto-intitulou-se o melhor treinador do Costa do Sol nos últimos anos por, segundo ele, ter ganhado muitos títulos ao serviço dos “canarinhos” e por ter ganhado muitos jogos.
Espreitei o medalheiro de Gonçalves e dele retirei apenas um título do Moçambola, uma Taça de Moçambique e duas Supertaças. Sentem falta de mais um título? Claro que não há outro, pois esses são os únicos. Porém, suficientes para o técnico português afirmar que o Costa do Sol terá enormes dificuldades para encontrar um treinador que faça melhor do que ele.
Ao falar das conquistas e egos pessoais, Horácio Gonçalves ignorou por completo a massa associativa que sempre esteve por perto nos maus e bons momentos para apoiar o seu clube.
Quem vai confortar os adeptos? Quem irá dar a cara em nome da equipa e assumir os erros cometidos e os objectivos falhados? Podem ser todos menos Gonçalves, porque, para ele, os objectivos pessoais estão acima dos colectivos.
Horácio Gonçalves até pode ser o melhor do Costa do Sol nos últimos anos, mas não acho que o facto de ter ganhado quatro troféus, dos quais apenas dois são de enorme valor (Moçambola e Taça de Moçambique), seja suficiente para ignorar tudo e todos na hora de despedida.
Das duas uma, ou Gonçalves é péssimo em história ou não conhece a história. Se fosse bom em história ou se conhecesse a história do Costa do Sol, saberia que há um grande senhor que merece uma estátua neste clube.
Esse senhor chama-se José Arnaldo Salvado. Salvado é o treinador que mais títulos conquistou ao serviço dos “canarinhos” e marcou uma época dourada deste emblema. São mais de 10 títulos.
Arnaldo Salvado chegou a conquistar quatro títulos consecutivos do Moçambola, nos anos 1991, 1992, 1993 e 1994. Salvado tem tudo para exigir uma estátua em cada canto do clube, mas nunca o fez. Nunca o fez porque deixa que as suas obras falem por si. Nunca o fez porque é de uma dimensão enorme. Nunca o fez porque não se tratava de nenhum favor, mas uma missão. Horácio Gonçalves deveria, no mínimo, ter folheado os manuais que contam a epopeica história do Costa do Sol.
Horácio Gonçalves deveria ter-se dado tempo para sentar à mesma mesa com as reservas morais do clube para lhe inculcar quem foi Arnaldo Salvado, José Neves e Rui Tadeu. Essas são as três figuras mais emblemáticas do clube. Juntas, tudo o que tocaram se transformou em ouro. Documente-se, mister Horácio Gonçalves!