A sociedade moçambicana poderá cair na irrelevância se o país não investir na inovação e formação tecnológicas a longo prazo. Quem o diz é o filósofo e professor Severino Ngoenha, que aponta o desenvolvimento tecnológico como uma das prioridades.
Muitos países estão continuamente a desenvolver as suas capacidades tecnológicas, o que lhes permite responder às dinâmicas sociais e económicas. É nesse ecossistema do qual Moçambique não deve ficar de fora.
Segundo Severino Ngoenha, as transformações tecnológicas, que acontecem noutros quadrantes do mundo, não estão longe das capacidades dos moçambicanos. A única diferença é que esses países têm sido sérios consigo mesmos.
Perante essas transformações, o filósofo e professor Severino Ngoenha diz que é necessário que o país aposte na formação e inovação tecnológicas, para que não caia na irrelevância e o seu argumento foi na sua tónica genuinamente académica.
“Quando se inventou a máquina a vapor, ninguém perguntou ao cavalo se ele tinha que ir para a reforma. Ele foi naturalmente reformado, o que quer dizer que nós corremos o risco de ser reformados”, afirmou Severino Ngoenha.
O docente universitário lamenta o facto de Moçambique estar visivelmente estagnado na migração tecnológica, sendo que nem começou a dar sinais na produção usando soluções tecnológicas.
“A diferença entre nós e os outros não é a bicicleta com a nave espacial, porque a bicicleta nós não fazemos, mas sim o txova [que, numa definição livre, significa meio de tracção manual usado, habitualmente, para o transporte de cargas de pequeno porte]. Só que até o txova precisa de rodas e nós não fabricamos as rodas”, afirmou Severino Ngoenha.
Severino Ngoenha afirmou que, hoje em dia, o desenvolvimento tecnológico está a orientar o posicionamento dos países na esfera mundial. O académico vai mais longe, ao afirmar que a pobreza tecnológica pode remeter-nos a um novo tipo de colonialismo.
“A qualquer momento, se alguém decidir que quer escravizar-nos, pode fazê-lo sem grandes constrangimentos. Por exemplo, os medicamentos que nós tomamos vêm de outros países e nós não temos capacidades para testar a sua eficácia”, disse Severino Ngoenha.
Para o professor catedrático, as adversidades sobre o assunto de tecnologias no país são várias. A seu ver, não basta utilizar as tecnologias, mas também é necessário criá-las e essas capacidades devem ser transmitidas aos mais novos.
Ngoenha atiçou os seus argumentos, dando exemplo de países como China e Japão que enviaram os seus cidadãos para grandes universidades nos Estados Unidos de América (EUA), de onde voltaram munidos de capacidades que transformaram os seus países.
“Esses países não são mais inteligentes que nós. A diferença é que tiveram muita seriedade na aposta de uma educação séria. Temos que pensar na tecnologia como um meio que aumenta a nossa capacidade de ver e de agir perante o mundo”, vincou.
Severino Ngoenha falava no painel sobre o tema Tecnologias e Transformação Social, na oitava edição da feira MozTech.