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Dalla Zuanna: “Papa Francisco era uma voz que se levantava em defesa da paz e da justiça”

O Arcebispo da Beira, Dom Cláudio Dalla Zuanna,  figura que conviveu com o Papa Francisco, considerou, esta segunda-feira, que o mundo perdeu um líder da simplicidade e fraternidade. Zuana afirma, ainda,  que o maior legado que ele deixa é a busca incansável pela paz.

Dom Cláudio Dalla Zuanna disse, em entrevista ao “O Pais”,  que a morte do Sumo Pontífice, ontem, vai deixar um  vazio grande no mundo. Zuanna considera, por outro lado, que Papa Francisco era a única voz, entre os poderosos da terra,  a levantar-se em defesa da paz e da justiça e do respeito pelos mais desfavorecidos.  “Agora, claro que vai fazer-nos falta esta voz que era quase única entre os poderosos da terra a levantar-se em defesa da paz, em defesa da justiça, do respeito dos mais desfavorecidos, daqueles que ele às vezes utilizava a palavra, os que são deitados fora, os que já não servem dentro da sociedade. Mas ele, com estes ensinamentos,  além do seu exemplo,já marcou o caminho.

Penso que é um caminho irreversível dentro da Igreja e  ninguém poderá pensar que já o que o Papa Francisco disse foi com ele. Não está conosco, de maneira que a Igreja, com certeza,  continuará o caminho que ele traçou e que, no fundo, é o caminho do Evangelho, porque o primeiro defensor dos pobres foi o próprio Jesus Cristo”, observou.

Dalla Zuanna,  que conviveu com o papa Francisco,  lembra-se da sua humildade e simplicidade. O Papa Francisco, de acordo com o Arcebispo da Beira, era uma pessoa que fazia enormes esforços para deixar as pessoas à vontade na sua presença.

 Lembro-me da sua humildade e  quase sempre a brincar com as pessoas. O primeiro  encontro que eu tive foi em 2013, quando fui como Arcebispo receber aquele símbolo de responsabilidade como arcebispo. Ele soube, ali,  que eu tinha nascido na mesma cidade dele e então começou a conversar  como se fôssemos amigos há muito tempo, gente da mesma terra, assim, tirava as distâncias imediatamente. Não havia ninguém que tivesse a mesma coisa. Quando,  em Setembro,  tivemos o encontro dos bispos de Moçambique com o Papa, ele disse, se prepararam discursos oficiais, deixem, eu quero ouvir de vocês.  E eu comecei a falar e, depois,  os  outros bispos.  Todos falamos e interagimos com ele, para dizer nada de oficial, nada de distâncias. Era uma pessoa que estava à vontade com todos, com os poderosos e com as pessoas mais humildes que havia”, recordou o Arcebispo da Beira.

 A simplicidade do Papa, segundo o Dom Cláudio, despertou a consciência daqueles que exercem o  poder.

“De alguma forma, podemos dizer, aqueles que  têm nas mãos as chaves da paz, da segurança, da convivência civil e social. Penso que não haverá ninguém, talvez com opiniões diferentes do próprio Papa Francisco, mas não haverá ninguém que não poderá ter em conta este exemplo e este convite à paz. Mesmo ontem dizia, não às armas, não ao sentimento de voltar a armar-se. O povo e o mundo parece que querem a paz.  Então, quase nas últimas palavras, fez-nos um convite para  vivermos na paz, a vivermos como irmãos.

O Papa Francisco, acrescenta Zuanna,  sempre exortou aos jovens para  não estarem acomodados nas cadeiras, sem nada a fazer.

“Costumava dizer não quero jovens de sofá, de poltrona, jovens ali só nas redes sociais e sem comprometerem-se na vida, tendes que construir um futuro. E acho que estas palavras para Moçambique têm um peso ainda maior, vista a percentagem de jovens que há no nosso país. Aos jovens, o Papa  falava do presente e do futuro. Então, já agora, é preciso construir uma vida melhor, envolver-se, comprometer-se também na sociedade, não só colocando as nossas necessidades como prioritárias, mas a relação com os outros, construirmos fraternidade, construirmos paz.  Penso que este é o legado que ele deixa a todos, mas de todo  modo especial aos jovens, porque são os jovens que irão levar a frente este mundo.”

A Igreja Católica, em Moçambique, através de um comunicado, resume a vida e obra do Papa Francisco numa única palavra, fraternidade. O Papa Francisco, de acordo com os bispos de Moçambique, era um homem de fé inabalável. “Pastor próximo dos pobres, profeta da misericórdia e da justiça, o Papa Francisco marcou a história da Igreja com seu testemunho de simplicidade e compaixão e firme compromisso com os mais vulneráveis. Neste momento de luto, a Arquidiocese da Beira une-se ao Colégio dos Cardeais, à Sé Apostólica,  à Conferência Episcopal de Moçambique e a todos os fiéis católicos na oração de sufrágio pelo repouso eterno do Papa Francisco. Convidamos todas as paróquias, comunidades religiosas e fiéis leigos a participarem nas missas de sufrágio da sua alma e a manterem, onde possível, momentos de oração, reflexão e agradecimento pelo dom do seu pontificado”.

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