A 27 de Março comemora-se o Dia Mundial do Teatro. A efeméride foi criada pelo Instituto Internacional do Teatro, em 1961. Mesmo a propósito da data, num contexto incerto como este, actores e encenadores avançam com algumas estratégias para que o teatro continue a chegar às pessoas.
Um Dia Mundial do Teatro estranho. Ao contrário do que tem sido habitual, amanhã, na celebração daquela arte, não haverá espectáculos nos palcos no modelo tradicional. Tudo por causa de uma coisa chamada Coronavírus. Mas não importa. O que importa mesmo, disse Joaquim Matavel, é sobreviver, de modo que os actores, encenadores e dramaturgos possam ressurgir com vigor.
Para o encenador e Director do Grupo Girassol, num momento como este, é indispensável que toda gente ligada ao teatro, no caso, cuide de si, pois, caso contrário, remata: “Se perdermos esta batalha, não haverá mais teatro nos palcos”. Então, acrescentou o artista, todo o actor deve prosseguir com ensaios em casa, sozinho, com leitura e pesquisa que o permitam aprimorar a sua personagem. “Na verdade, este é o trabalho que sempre se oferece ao actor: com recurso ao espelho e ao auricular. Depois desse trabalho individual, os actores podem se contactar através das redes sociais e acertar o que for necessário”.
Nesta impossibilidade de levar o teatro aos palcos, Joaquim Matavel enxerga um prejuízo e uma oportunidade de se dar atenção aos aspectos essenciais da vida. Por exemplo, ficar em casa e cuidar dos seus. Além disso, o encenador recorda: “A história da humanidade é feita de crises, que nos devem dar a possibilidade de nos reinventar, de modo que, neste contexto, o teatro continue vivo, e o teatro vai sobreviver”.
A actriz Sufaida Moyane, igualmente, vê no isolamento uma oportunidade que a obriga a ser criativa e a aprender a fazer coisas novas de que não gostava. Por exemplo, produzir material de ensino ou didáctico com recurso plataformas digitais. “Agora que passo mais tempo em casa, também quero fazer leituras de histórias para crianças, que posso partilhar através do celular. Temos de ser criativos para não ficarmos apagados”.
Neste dia 27 de Março não se vai comemorar nos palcos o Dia Mundial do Teatro, todavia, Sufaida Moyane observa: “o teatro existe e está em nós. Se calhar vamos descobrir que não precisamos estar no mesmo espaço para fazer teatro. Nestes dias teremos de descobrir alguma coisa que ainda não sei o que é”.
Enquanto Sufaida Moyane vai experimentando novas coisas, Gigliola Zacara aproveita o seu tempo para escrever e aperfeiçoar alguns projectos. A ideia da actriz é candidatar-se a um financiamento do PROCULTURA. Simultaneamente, vai desenvolvendo alternativas de fazer teatro sem precisar de palco. Gigliola e uma amiga querem criar um aplicativo que lhes permita apresentar as peças através da internet. “Não devemos deixar de fazer teatro e nem permitir que esta arte caia no esquecimento. Tudo o que precisamos é de fazer coisas sustentáveis e ganhar algum dinheiro mesmo estando em isolamento”.
Esta pausa obrigatória acontece numa altura em que Gigliola Zacara estava convencida de que 2020 seria o ano do teatro infantil, pela quantidade de projectos na manga e em implementação. No início do ano levou um espectáculo à cidade da Beira e já havia estabelecido contactos para levar o teatro infantil a Chimoio e a outras cidades capitais, unido performance e formação. Quase tudo adiado.
A propósito de os tempos de crise serem férteis para a imaginação dos artistas, Jorge Vaz está a ponderar a possibilidade de dramatizar o momento que o mundo vive actualmente. Se se concretizar tal projecto, o actor e encenador vai produzi uma peça que reflecte não o fenómeno do COVID-19, mas o que os olhos simplesmente são incapazes de captar.
Dure o tempo que durar o isolamento, Jorge Vaz garante, não há risco nenhum de os actores e o teatro desaparecerem. “Nós, os mais velhos, temos de incentivar os mais novos. O teatro é uma arte milenar e vai resistir a tudo isto. Este é um momento de pausa, depois disso, vamos avançar”.