Chamam-lhe praia do Rio de Janeiro na região de Chicuque na Cidade da Maxixe. As águas azuis atraem banhistas e pescadores que tiram dali o sustento para as suas famílias. Mas o que pouca gente sabe é que aquele lugar paradisíaco esconde uma verdadeira armadilha: seringas e outro tipo de lixo hospitalar.
Fotos partilhadas nas redes sociais retratam a quantidade de lixo hospitalar espalhado pela praia, desde seringas com agulhas, testes para HIV e outro tipo.
Os pescadores dizem que cenários iguais a estes são comuns, sobretudo em dias de chuva. Segundo contam, sempre que chove as águas arrastam para a praia boa parte do lixo depositado em frente ao Hospital Rural de Chicuque. Os interlocutores do “O País” revelam ainda que, não poucas vezes, várias pessoas foram picadas por seringas naquela praia.
O ambientalista Luciano da Conceição fez parte da equipa que recolheu o referido lixo hospitalar na praia de Chicuque. Diz que a equipa estava a realizar um reconhecimento na praia do Rio de Janeiro, guiados pelos pontos focais do Dia Mundial da Limpeza na cidade de Maxixe. Um dos membros do grupo encontrou a primeira seringa e não tardou até que tantas outras fossem encontradas em Chicuque.
Os ambientalistas pensavam que o facto fosse resultado do descarte local de um grupo de toxicodependentes. Entretanto, a quantidade e o diverso tipo de lixo hospitalar encontrado chamou atenção deles que viram a necessidade de ir mais a fundo.
Já de regresso a Maxixe, o grupo de activistas ambientais encontrou, à entrada principal do Hospital Rural de Chicuque, uma lixeira, parte da qual resvalando para a encosta em direcção ao mar.
Como que o destino a conspirar a favor dos ambientalistas, estes encontraram na referida lixeira, mais duas seringas. Por conta disso, decidiram descer até à praia, a fim de inspeccionar a saída de águas de uma espécie de valeta natural em frente à lixeira e pelo caminho encontraram um pouco de tudo, desde seringas, embalagens de medicamentos, luvas hospitalares, máscaras cirúrgicas, testes de gravidez, equipamento de transfusão de sangue, entre outros.
Ao longo da praia, num trajecto de dois quilómetros, a equipa encontrou mais algumas seringas, parte das quais ainda com as respectivas agulhas.
Perante o cenário descrito como chocante, o activista ambiental Carlos Serra, na sua pagina do Facebook levanta algumas questões sobre como estará a ser feita a gestão de resíduos biomédicos naquela unidade hospitalar.
Serra disse ser urgente apurar a eventual responsabilidade criminal, civil e administrativa sobre o que considera atentado à saúde pública. No seu entender, o caso assume contornos de elevada gravidade e sugere até que a praia de Chicuque seja encerrada temporariamente para trabalhos de limpeza ao pormenor e evitar que pessoas possam ser vítimas daquelas seringas.
Os Serviços Provinciais de Saúde em Inhambane dizem que o Hospital Rural de Chicuque não reportou nenhuma avaria da incineradora.
João Machanga, afecto àquela instituição do Estado, garante que todo o lixo como as seringas encontradas na praia de Chicuque é encapado e colocado numa caixa incineradora, que depois de cheia é levada para a destruição. A fonte assegura que o Hospital Rural de Chicuque tem capacidade técnica para o efeito e a incineradora está operacional.
Muchanga vai mais longe afirmando que o lixo encontrado na praia de Chicuque não é do Hospital Rural de Chicuque, uma vez que na cidade da Maxixe existem clínicas privadas, que também produzem o mesmo tipo de lixo.
Aliás, o responsável entende que logo que se o lixo encontrado na praia fosse do Hospital Rural de Chicuque, seria fácil identificar, sem no entanto dizer como.
Enquanto correm investigações para apurar a origem do lixo hospitalar que foi parar na praia de Chicuque, há também um movimento de limpeza numa área de dois quilómetros ao longo da mesma praia.