O músico Roberto Isaías diz que os artistas devem jogar um papel importante na disseminação de mensagens que contribuam para o bem-estar social e na sensibilização da sociedade na tomada de melhores decisões em tempos de crise. O autor de “somos todos Moçambique” lamenta o facto de os músicos estarem a ser alvos de ameaças por não se aliarem aos protestos pós-eleitorais no país.
O vocalista dos Kapa Dech não está alheio aos acontecimentos do país e aborda a crise pós-eleitoral marcada por protestos desde 21 de Outubro. O músico explica que os artistas jogam um papel fundamental em tempos de crise dada a sua relevância na sociedade.
“O nosso papel não é de ficarmos a observar as coisas de longe, mas sim de sensibilizar a sociedade para tomar melhores decisões. E é por essa razão que na música que eu lancei recentemente exorto aos moçambicanos para se lembrarem que são irmãos apesar das diferenças ideológicas e eleitorais”, explica o músico.
Para Isaías é necessário que se pare com a violência entre os moçambicanos, tendo em conta que, na sua opinião, essas atitudes contribuem para o rompimentos dos laços entre as pessoas. Apesar de reconhecer que o país ainda tem muitos desafios, Roberto Isaias critica os métodos como os protestos pós-eleitorais são feitos.
“Essas manifestações teriam mais força e alcance se as pessoas fizessem de livre e espontânea vontade, ou seja, sem serem forçadas. As pessoas ameaçam os músicos que vão cancelar porque não se identificam com um lado. Nem sequer dão opção ao músico de escolher o seu lado ideológico, simplesmente forçam-nos a juntarmo-nos às manifestações. Para mim essa atitude é muito errada”, critica o autor de “Lalane”.
O vocalista da histórica banda Kapa Dech sugere mudanças no sistema eleitoral do país como forma de evitar futuros problemas.
“Desde a CNE, STAE até ao Conselho Constitucional descobrimos que o sistema é frágil e fertil para haver empolamentos e fraudes de todos os lados. É preciso estrutural. Felizmente, na sua primeira intervenção o candidato eleito assumiu que vai liderar esse processo”, anota.
A crise pós-eleitoral teve um impacto devastador na indústria cultural, tendo em conta que houve cancelamento de muitos eventos. Roberto Isaías diz que 90 por cento dos músicos estão a passar por muitas dificuldades.
“Muitos músicos vivem de restauração, da indústria hoteleira, dos bares e ganham semanalmente. Só uma semana sem actividades cria muitos transtornos, pois são chefes de família. Apenas os que têm outras fontes de renda e que conseguem sobreviver neste momento são poucos”, lamenta o músico.