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Réu Mabunda teria recebido USD 8.9 milhões da Privinvest sem prestar serviço

Foto: O País

São 8.999.916 milhões de dólares que o réu Fabião Salvador Mabunda teria recebido da Privinvest, no esquema das dívidas ocultas, entretanto admitiu hoje em Tribunal que apesar de ter fechado contratos de empreitada com o grupo empresarial, não chegou a prestar serviço algum.

“Assinei contratos com a Privinvest Shipbuilding e Logistics International, mas não executei o objecto dos contratos”, disse Mabunda, depois de questionado pelo Ministério Público qual a sua relação com o Projecto de Protecção da Zona Económica Exclusiva.

Antes de responder ao interrogatório de Ana Sheila Marrengula, foi questionado pelo juiz (única pergunta colocada por Efigénio José Baptista) o que tinha a dizer em relação aos factos que pesam sobre si e Mabunda tinha a resposta bem clara e directa.

“Sou inocente, Meritíssimo”.

O réu diz ter conhecido os gestores da Privinvest no restaurante Sagres, na cidade de Maputo, apresentado pelo seu falecido amigo e arquitecto, após este ter dito que procurava oportunidades. Depois desta ocasião, Mabunda (proprietário da empresa M. Moçambique Construções) teria conseguido fechar contrato para a construção de infra-estruturas da Zona Económica Exclusiva, no valor de 8.9 milhões de dólares, entretanto, de acordo com a acusação, aplicou a verba no interesse do casal Gregório e Angêla Leão, familiares e no seu próprio.

Mabunda diz, porém, que não conhecia Gregório Leão. Conhecia apenas a co-ré Ângela Leão por ter sido solicitado para dar orçamento de uma obra da cidadã Leão.

A dado momento perdeu contacto com Ãngela Leão após ter ficado sem telefone, que teria desaparecido num dia em que estava embriagado e sequer sabe se perdeu os celulares ou foram roubados.

Fabião Mabunda mostrou-se, também, homem com dificuldades de memória, tendo respondido com “não me recordo, naquela altura estava envolvido em muita coisa”, quando, por exemplo, foi questionado sobre as datas em que recebeu o dinheiro do Grupo Privinvest.

A procuradora Ana Sheila Marrengula recorreu ao processo para fazer referência às datas em que o réu foi recebendo dinheiro da Privinvest, e indagou a razão da coincidência entre a data de recepção de parte do valor com a data em que o Grupo Privinvest recebia 500 milhões de dólares do Credit Suisse, no âmbito do projecto de Protecção da Zona Económica Exclusiva.

Fabião Mabunda diz não ser capaz de esclarecer algumas questões, remetendo o seu esclarecimento à Privinvest.

Sobre o facto de ter canalizado parte do valor que recebera da Privinvest ao casal Leão, diz que por não se ter executado o objecto dos contratos que tinha com o grupo, era recomendado a devolver a verba a destinatários indicados pelo contratante. E mais, diz que recebeu os contratos para efeitos de justificação no banco e assinou mesmo no banco, após ter recebido o valor na conta.

Da Privinvest Shipbuilding, Fabião Mabunda devia ter recebido 3.5 milhões de dólares, de acordo com o contrato citado pela acusação, entretanto o bolo que teria entrado em sua conta é de 3.9 milhões de dólares. Questionado pelo Ministério Público sobre as razões de o valor estar acima do acordado, o réu disse “não tenho resposta”.

Porém, confrontado com o facto de ter recebido alerta do banco sobre o valor a mais em relação ao que constava do contrato, o réu teria dito à instituição bancária na qual está domiciliada a conta da sua empresa que era o valor referente a trabalhos extras.

Mas em sede de Tribunal, Mabunda diz que não houve nenhum trabalho extra.

MABUNDA FECHOU SEGUNDO CONTRATO SEM PREVISÃO DO VALOR E RECEBEU PERTO DE USD 5 MILHÕES

Apesar de não ter sido efectuado nenhum trabalho no âmbito do contrato com a Privinvest Shipbuilding (do qual recebeu 3.9 milhões), cinco meses depois Mabunda fecha novo contrato com Logististics International, empresa do mesmo grupo (Privinvest). Diz ter sido informado que o projecto de infra-estruturas de protecção da Zona Económica Exclusiva iria continuar, mas não seria a primeira empresa a financiar e sim a segunda. No segundo contrato, não constava o valor a ser pago pelo trabaho, embora tenha recebido cerca de cinco milhões de dólares, segundo a acusação. O interrogado não teve nenhuma resposta.

Todas as recomendações que recebia das empresas do Grupo Privinvest, segundo disse ao Tribunal, chegavam através do cidadão Fawzi Hamad Bashir.

Mabunda viu seu computador ser apreendido pela Procuradoria-Geral da República, no âmbito da investigação do caso das dívidas ocultas, e dele teriam sido extraídas correspondências que manteve com a co-ré Angêla Leão. Numa delas, Leão pedia que o réu confirmasse ter recebido dinheiro da Privinvest. Mabunda nega ter recebido a correspondência no seu endereço electrónico, uma vez que não viu o e-mail.

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