A coordenadora-residente das Nações Unidas em Moçambique alerta para o subfinanciamento à resposta humanitária no norte de Moçambique. Myrta Kaulard diz que até aqui, apenas 10 por cento do valor necessário foi recebido.
Todos os dias, há novos deslocados em Cabo Delgado. As pessoas procuram sair, sobretudo de Palma, para zonas mais seguras, mesmo que nem o percurso nem o destino apresentam melhores condições. Por conta disso, o caos tende a se instalar em vários pontos de Cabo delgado, província que tem estado a ser alvo de ataques terrorista desde 2017.
E o caos foi confirmado, sexta-feira, pela coordenadora-residente das Nações Unidades em Moçambique, num encontro virtual que manteve com dirigentes de agências das Nações Unidas e representantes de diferentes países para dar o ponto de situação humanitário no norte de Moçambique.
Myrta Kaulard considera ser muito urgente que se apoie a resposta à situação humanitária, que, neste momento, está sub-financiada. É que, dos 254 milhões de dólares necessários para uma adequada resposta, apenas existem 24.3 milhões, o que corresponde a apenas 10%, com alguns sectores ainda sem qualquer apoio, como é o caso da educação.
Kaulard diz ainda que sem “recursos adicionais”, os parceiros humanitários não vão conseguir dar resposta às necessidades que, aliás, são crescentes. Como se não bastasse, a COVID-19 impôs restrições que reduziram, e de que maneira, a capacidade de resposta por parte das instituições humanitárias internacionais.
Entretanto, fora o sub-financiamento, outros desafios dificultam a resposta humanitária em Cabo Delgado, tais são os casos de acesso aos distritos de Mocímboa da Praia, Quissanga, Muidumbe e partes de Macomia, Nangade e Palma, este último, teve o acesso mais restrito ainda depois do ataque de 24 de Março deste ano, que levou, de acordo com os dados das Nações Unidas, à deslocação de perto de 68 mil pessoas.
Além disso, a insegurança que ainda prevalece em Cabo Delgado repele a chegada de mais apoio, já que os humanitários dificilmente poderão chegar a algumas zonas, por temerem pela sua integridade física.
Ainda no mesmo briefing sobre a situação humanitária do norte de Moçambique, as Nações Unidas denunciaram abusos e exploração sexual entre os próprios deslocados.
Myrta Kaulard diz que, em Maio, houve relatos de raparigas e mulheres raptadas, forçadas a casar e sujeitas à violência sexual, assim como crianças recrutadas à força para grupos armados.
Em termos gerais, até finais de Abril, existiam em Cabo Delgado, 732 mil deslocados, dos quais, 31 porcento são mulheres adultas e 46 porcento são crianças.