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Republicanos alcançam maioria na Câmara dos Representantes norte-americana

Foto: Radio Nacional de Colombia

Depois de o Partido Democrata assegurar uma vitória significativa e garantir a manutenção do controlo do Senado pelos próximos dois anos, os seus rivais republicanos confirmaram, esta quarta-feira, a maioria na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, como previam as pesquisas.

A nova configuração altera a governabilidade do Presidente Joe Biden entre os deputados na segunda metade de seu mandato. A composição geral do Legislativo, porém, ainda garante algum fôlego ao democrata, que estava sob risco de perder o controlo das duas Casas em meio a um momento de baixa na sua popularidade.

O Partido Republicano alcançou a marca de 218 deputados eleitos nas midterms, eleições de meio de mandato, com as projecções das emissoras americanas. O pleito, realizado no último dia 8, renova toda a Câmara e um terço do Senado, entre outros cargos estaduais.

Com a nova maioria na Câmara, a democrata Nancy Pelosi, aliada de Biden e notória opositora de Donald Trump, deixará a presidência da Casa. Há a expectativa de que Kevin McCarthy (também da Califórnia), hoje líder da minoria, seja indicado para o posto.

Sem maioria, o presidente terá mais dificuldade em aprovar projectos caros a sua agenda, como pacotes de combate à crise do clima e controlo do acesso a armas. Também deve ver republicanos abrirem comissões de investigação contra a gestão federal, à semelhança da que apura o ataque de 6 de Janeiro de 2021 ao Capitólio — que, aliás, corre o risco de ser suspensa; Trump havia sido intimado a depor ao colegiado até esta segunda.

Especula-se que as possíveis apurações mirem o processo caótico de retirada das tropas americanas do Afeganistão, negócios suspeitos de Hunter Biden, filho do presidente, e um suposto uso político do Departamento de Justiça em processos contra Trump.

A demora na definição do controlo da Câmara deveu-se, sobretudo, à contagem de votos na costa oeste do país, com muitas disputas extremamente concorridas na Califórnia, mas também no Arizona e em Colorado. No primeiro estado, há a possibilidade de que alguns distritos demorem semanas para definir o vencedor. No condado de Maricopa, onde fica a capital do Arizona, Phoenix, a verificação de cada uma das assinaturas dos votos feitos pelo correio também atrasou a contagem.

O quadro contrasta com o de midterms anteriores. Em 2018, por exemplo, a CNN conseguiu projectar que os democratas teriam o controlo da Câmara às 23h do mesmo dia da eleição.

Perder o controlo do Legislativo (ou de parte dele) no meio do mandato é comum. Desde Jimmy Carter (1977–1981), só George W. Bush (2001–2009) conseguiu manter maioria do Congresso nas midterms, em 2002, no pós-11 de Setembro – em 2006, em seu segundo mandato, porém, ele saiu derrotado. Mas o resultado no fim saiu melhor do que a encomenda para Biden.

Já era previsto há meses que os republicanos conquistariam a maioria na Câmara, mas a margem veio bem menor do que o esperado. Pesquisas de intenção de voto, analistas e os próprios políticos esperavam uma “onda vermelha” que traria uma maioria acachapante de oposição ao presidente ao Congresso, o que não se confirmou.

Democratas conseguiram manter cadeiras em estados em que levantamentos apontavam viradas republicanas, como as de Abigail Spanberger (Virgínia), Seth Magaziner (Rhode Island) e Chris Pappas (New Hampshire). Em três corridas apertadas do Texas, os democratas venceram duas.

Uma série de motivos ajuda a explicar o desempenho da legenda – e no topo da lista está o direito ao aborto. A Suprema Corte derrubou em Junho decisão que garantia a interrupção voluntária da gravidez como direito constitucional, o que motivou uma série de eleitores a se registrar para votar em defesa do direito de escolha, mesmo em estados mais conservadores, impulsionando democratas.

Republicanos também culpam Trump por insistir em nomes radicais e sem experiência política, o que acabou afastando eleitores mais moderados. O desempenho fraco dos endossados pelo ex-presidente reorganizou a correlação de forças na legenda e ameaça até uma nova candidatura dele, cujo anúncio era esperado para os próximos dias.

O desempenho abaixo do esperado pode ser medido na comparação com as duas últimas vezes em que presidentes democratas viram derrotas nas midterms. Em 2010, nas primeiras de Barack Obama, os republicanos viraram 63 cadeiras. No começo do governo Bill Clinton, em 1994, 54. A mesma situação se deu quando os democratas retomaram o controlo da Câmara em 2018, sob Trump, quando os republicanos perderam 41 assentos.

Sem a Câmara, mas com o Senado, Biden fica na mesma situação do antecessor, o que é útil para evitar uma perda do cargo em uma eventual crise política grave – Trump teve dois impeachments aprovados na Câmara, mas barrados no Senado.

JOE BIDEN REITERA ABERTURA

O Presidente norte-americano, Joe Biden, não ficou indiferente a esta vitória dos republicanos a quem endereçou felicitações.

“Como eu disse na semana passada, o futuro é muito promissor para ficarmos presos em uma guerra política. O povo americano quer que façamos as coisas por ele. Eles querem que nos concentremos nas questões importantes e em tornar suas vidas melhores. E trabalharei com qualquer um – republicano ou democrata – disposto a trabalhar comigo para entregar resultados para eles [os americanos]”

Reagindo aos resultados, Tom Emmer, presidente da campanha republicana para estas eleições intercalares, disse:

“A Câmara Republicana cumpriu a promessa de despedir Nancy Pelosi [a actual presidente da Câmara dos Representantes] e servir de oposição à agenda desastrosa de Joe Biden. Agora toca a trabalhar pelo povo norte-americano.”

O Partido Republicano não esperou pelos resultados finais para começar a escolher o líder da maioria na câmara baixa do Congresso, tendo indicado o nome de Kevin McCarthy para substituir a democrata Nancy Pelosi.

McCarthy venceu o primeiro embate – afastando o senador Rick Scott, que era apoiado por Donald Trump – mas para ficar com o lugar de Pelosi, terá de se sujeitar a uma votação final, no início do próximo ano, onde precisará do apoio da maioria dos 435 membros da câmara de representantes.

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