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Renato Matusse sugere que diplomacia moçambicana saiu a ganhar na relação com Jean Boustani

Foto: O País

Na audição desta sexta-feira, a contar para terceira semana do julgamento do “caso dívidas ocultas”, Renato Matusse, à data dos factos, Conselheiro para Assuntos Políticos do Presidente da República, Armando Guebuza, explicou que a sua amizade com Jean Boustani esfriou quando o libanês percebeu que ele não tinha influência sobre Chefe do Estado.

Matusse explicou ao tribunal que viu em Jean Boustani uma possibilidade de conseguir bons resultados diplomáticos para Moçambique na relação com o Médio Oriente. Aliás, o antigo Conselheiro para Assuntos Políticos do Presidente Armando Guebuza afirmou que graças a Jean Boustani e a outros actores que foi conhecendo conseguiu a almejada influência no mundo árabe para o país. Por exemplo? “Nós tínhamos o problema de conseguir voos da Emirates [Airlines] para Moçambique. Até tivemos incidentes com alguns moçambicanos que lá foram negociar. Conseguimos reatar o diálogo em Março de 2013. A [nova] delegação moçambicana vai aos Emirados para negociar com a empresa Emirates e são surpreendidos com um bónus. Porque, além da Emirates, entrou a Etihad Airways [no interesse de voar para Moçambique]”.

Além disso, Matusse referiu-se a outro ganho diplomático na sua relação com Jean Boustani (e outros actores): a abertura de uma Embaixada de Moçambique em Abu Dhabi e em Riad, capital da Arábia Saudita, o que considera um grande êxito do país naquela região.

Renato Matusse acrescentou ainda que graças aos corredores feitos por Boustani e outros actores, de observador, Moçambique passou a ser membro com direito de voto das exposições internacionais, e é nessa qualidade que participa na Expo Dubai 2020, adiada ano passado por causa da COVID-19.

Outra vantagem apontada na audiência: “Agora temos em Moçambique a Câmara de Comércio de Dubai, a terceira em África, além daqui se encontra na Etiópia e no Gana. Agora estamos próximos ao mundo árabe e fazemos negócio directamente com Dubai”.

Portanto, Renato Matusse salientou que viu vantagens em cooperar com Jean Boustani para penetrar no difícil mundo árabe, o que ao acontecer, na sua opinião, contribuiu para a abertura da Embaixada dos Emirados Árabes Unidos em Maputo.

Renato Matusse disse que não recebeu subornos (dois milhões de dólares), mas ofertas de Jean Boustani porque o libanês pretendia suprir as suas necessidades, sobre as quais não quis falar em Tribunal. Ao invés de dinheiro, Matusse recebeu bens móveis e imóveis orçados em um milhão e seiscentos e sessenta mil dólares. No interrogatório dirigido pelo Ministério Público, o réu disse haver questões pouco claras no processo.

Matusse disse ao Tribunal que não assumiu papel de facilitador ou de intermediação para os interesses da Privinvest em Moçambique. Não recebeu bens e nem dinheiro da ProIndicos, MAM e EMATUM. Sobre a monitoria e criação de zona exclusiva, apenas teve, na altura, um conhecimento genérico. E não se lembra de ter participado em nenhuma reunião sobre esse assunto que considera técnico, relativo à Defesa e à Segurança.

Renato Matusse é acusado de três crimes: associação para delinquir, branqueamento de capitais, tráfico de influências e corrupção passiva.

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