Cerca de seis meses depois de o Governo moçambicano ter lançado o plano de reconstrução de Cabo Delgado, a maior parte das vilas e aldeias continuam em ruínas e algumas abandonadas.
A situação é considerada crítica nos distritos de Mocímboa da Praia e Muidumbe, onde, à excepção dos sistemas de abastecimento de água, telecomunicações e energia eléctrica, ainda não foram reconstruídas infra-estruturas para o funcionamento dos serviços públicos e sociais básicos para a sobrevivência da população, e ainda não é permitida a entrada de cidadãos civis sem a devida autorização.
“Em Mocímboa da Praia, ainda não há população e, em Muidumbe, só foram reocupadas algumas aldeias e a sede do distrito continua sem pessoas, porque o Governo ainda não conseguiu reconstruir ou pelo menos reabrir, de forma improvisada, os serviços básicos”, revelou o governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo.
Entretanto, mesmo antes da reposição dos serviços essenciais para a população, a província de Cabo Delgado já começou a registar um movimento de regresso de deslocados às zonas de origem, um facto que está a preocupar o Governo, que pede à população a paciência, de modo a que as pessoas reocupem as zonas libertadas após a criação de condições mínimas de sobrevivência.
“Existe um certo grupo da população que já está nos referidos locais de forma isolada, e não impedimos por falta de condições, mas pedimos paciência, porque estamos a trabalhar para prover pelo menos alimentação para sobreviver por algum tempo, enquanto vão repondo as suas casas e a suas vidas”, apelou Valige Taubo.
As preocupações do Governo provincial foram apresentadas durante a visita de trabalho de uma brigada do Conselho de Ministros, enviada a Cabo Delgado para avaliar os progressos registados na reconstrução da província e o processo de reocupação das zonas afectadas pelo terrorismo.
“Levaremos esta esta preocupação ao Conselho de Ministro e apresentaremos ao Presidente da República, para a necessidade de se ter uma atenção especial a Cabo Delgado, de modo a ver o que pode fazer cada ministério para agilizar e acelerar a reconstrução da província”, tranquilizou Margarida Talapa, chefe da brigada do Conselho de Ministros, sem avançar as reais causas na demora de reconstrução de Cabo Delgado.
Apesar de reconhecer as dificuldades no processo de reconstrução de Cabo Delgado, a brigada do Conselho de Ministros constatou alguma acomodação por parte do Governo da província, que supostamente não está a conseguir realizar algumas actividades com recurso a soluções locais.
“O processo de reconstrução e o movimento de regresso da população às suas zonas de origem já são visíveis, mas precisamos de dinamizar algumas actividades, sobretudo no que diz respeito à limpeza das vilas e aldeias. Apesar do nível de destruição, precisamos de acelerar o processo de limpeza, de modo a saber o que se pode fazer para cada caso”, criticou Margarida Talapa.
Outro problema constatado durante a visita foi a falta de meios de trabalho e ausência de funcionários do Estado nas zonas libertadas que, na sua maioria, continuam sem a presença efectiva.
“Ainda persistem alguns preconceitos por parte dos funcionários públicos, e entendemos que há trauma devido ao que passaram e reconhecemos a necessidade urgente de reabilitação de infra-estruturas e alocação de meios de trabalho, especialmente meios circulantes incluindo ambulâncias, mas precisamos de sensibilizá-los para o seu regresso, porque não podemos falar do retorno das populações enquanto não estamos no terreno”, alertou Margarida Talapa.
Além de falta de condições de trabalho e ausência de funcionários públicos nas zonas libertadas em Cabo Delgado, a brigada do Conselho de Ministros constatou algumas falhas na consolidação da segurança durante o processo de reocupação das zonas afectadas pelo terrorismo.
“Trabalhamos durante quatro dias na província de Cabo Delgado e visitamos os distritos de Palma, Mocímboa da Praia, Mueda, Nangade, Muidumbe, Macomia, Quissanga, Metuge, Ancuabe e a cidade de Pemba, onde conversamos com as populações que já estão a regressar às suas casas. Notamos, com preocupação, a necessidade de aprimorar questões de segurança, reforçando a vigilância e rastreio das populações que regressam aos distritos. Temos que saber quem está entrar, quem está a sair, onde vive e com quem vive”, recomendou Talapa.
Além de infra-estruturas sociais básicas, como hospitais, escolas e edifícios do Governo, durante os ataques terroristas em Cabo Delgado, foram destruídas milhares de casas da população. À semelhança do Estado moçambicano, será necessário apoio para a reconstrução das vilas e aldeias que ficaram reduzidas a ruínas.